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Fiz plástica!

Durante anos meu rosto foi redondo como o de um porquinho. Quando emagreci, a pele da papada caiu. Fiquei semelhante a um pelicano. – A única solução é plástica – sugeriu um amigo. Reagi. Sempre fui contra. Muita gente exagera nas intervenções e fica com cara de pequinês. E mais: plástica exige anestesia, cuidados médicos, […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h46 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • Durante anos meu rosto foi redondo como o de um porquinho. Quando emagreci, a pele da papada caiu. Fiquei semelhante a um pelicano.

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    – A única solução é plástica – sugeriu um amigo.

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    Reagi. Sempre fui contra. Muita gente exagera nas intervenções e fica com cara de pequinês. E mais: plástica exige anestesia, cuidados médicos, repouso. Fazê-la não pode ser uma decisão frívola. Mas, cada vez que eu via minha pele dependurada, me irritava. Procurei um amigo de vinte anos, Rogério, cuja biografia conheço bem. Não é um cirurgião da moda – possui um trabalho sério na reconstituição de queimados. Fiz a consulta.

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    – Quero dar uma melhorada – confessei. – Mas sem repuxar a ponto de me transformar em chinês.

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    Ele me acalmou.

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    – Tiro o papo e dou uma leve esticada na parte de baixo do rosto. Com anestesia local.

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    Concordei. Realizei uma bateria de exames para evitar surpresas. Marquei o dia. Cheguei à clínica na hora do almoço, em jejum. A assistente do médico me fez uma deliciosa massagem facial. Quando terminou, comentei:

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    – Estou tranquilo. Soube que não dói nada.

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    – Só é desconfortável por causa do capacete – respondeu ela.

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    Saltei na cama.

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    – Capacete? Que capa…

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    Uma enfermeira já me aplicava na veia remédio para adormecer. Caí no sono com a palavra ecoando: “capacete”, “capacete”…

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    Acordei transformado em uma múmia, com um capacete de gaze duríssimo envolvendo minha cabeça. De fora, os dois olhos, os buraquinhos do nariz e o biquinho da boca. Rogério me observava com um sorriso de felicidade:

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    – A operação foi ótima. Como está se sentindo?

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    – Eu te odeio! – grasnei.

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    Ele avisou que o artefato seria retirado em 24 horas. Saiu, lépido. Senti ondas de pânico. Eu ia pirar com aquele negócio. Ergui as mãos, pronto para arrancá-lo. Como ficaria meu rosto? Respirei fundo. E comecei a murmurar para mim mesmo:

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    – Não vou entrar em pânico, não vou entrar em pânico… Socorro, não vou entrar em pânico!

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    Veio o jantar. Uma sopinha. Mal consegui engolir algumas colheradas com o biquinho. Imaginei: “E se a guerra nuclear estourar agora? Ou houver um terremoto? E eu ficar abandonado, sozinho com esse capacete?”.

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    Adormeci com o rosto para cima. No dia seguinte acordei à vontade, como se tivesse nascido com aquele horrendo capacete de gaze. É incrível a capacidade de adaptação de um ser humano! Quando o retiraram, horas mais tarde, até achei estranho!

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    Fui para casa com a recomendação de dormir com o rosto para cima. Apaguei as luzes, pronto para repou-sar confortavelmente. A luz, mesmo apagada, começou a piscar. Em cima dos meus olhos! Surgira um problema elétrico no quarto. E assim passei a noite inteira.

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    Diante do espelho me de–frontava com o rosto costurado e uma constelação de manchas roxas. Já me sentia arrependido. Bobagem! Dez dias depois retirei os pontos. Faz pouco mais de um mês e ninguém diz que fiz plástica! Só as orelhas continuam meio adormecidas por causa da anestesia. Garante o médico que daqui a semanas voltam ao normal. Ah, sim, agora tenho de fazer barba atrás das orelhas, mas isso é detalhe.

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    Não me tornei um jovenzinho, mas estou me sentindo melhor! Mais… apresentável! Uma amiga aconselhou:

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    – Não conte que fez plástica.

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    Por que não? Sou de um tempo em que homem não podia ter vaidade. Procurar o cirurgião, nem pensar! Mas o mundo mudou. Ainda bem. Envelhecer com dignidade não é necessariamente despencar! Afinal de contas, cuidar da própria aparência é um dos poucos gestos de liberdade que ainda restam a cada ser humano.

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