Médica de fisiculturista diz que suplementos em excesso podem ter agravado quadro
Fernanda Gutilla morreu há uma semana, aos 31 anos, após enfrentar um tromboembolismo pulmonar
O consumo excessivo de suplementos alimentares destinados a favorecer o ganho de musculatura pode ter colaborado para o tromboembolismo pulmonar desenvolvido pela fisiculturista Fernanda Gutilla, que morreu na sexta-feira (1º), aos 31 anos. A doença acontece quando um coágulo se desprende do sistema circulatório e atinge o pulmão.
Após sentir falta de ar durante os treinos no início de junho, a atleta foi três vezes ao pronto-socorro do Hospital Montemagno, na Vila Formosa, Zona Leste, onde foi diagnosticada com pneumonia. Porém, como não melhorava, ela procurou atendimento no consultório de Chiara Brandão, que cuidava da saúde do namorado da atleta, o também fisiculturista Vinícius Piffardini. Após exames mais detalhados, diagnosticou o tromboembolismo.
Um dos fatores de risco para o problema é a reposição de hormônios. Simples anticoncepcionais podem causar o problema, mas também é comum que aconteçam com o uso de anabolizantes – que, segundo a família, Fernanda jamais usou.
A atleta morreu de parada cardiorrespiratória após ao menos vinte dias internada no Montemagno. “Na segunda tomografia realizada, viu-se que o tromboembolismo pulmonar havia sido curado”, afirma Chiara. Com a saúde fragilizada, Fernanda começou então a apresentar sinais de infecção pulmonar. “Durante a internação, o quadro evoluiu para uma pneumonia adquirida no hospital.” A instituição não confirma a informação. Em nota, afirma: Em respeito ao código de ética médico, informações adicionais sobre a causa da morte da paciente não podem ser fornecidas.”
+ Após gravidez, mulher perde 50 quilos e se torna campeã de fisiculturismo
Segundo seu namorado, o também fisiculturista Vinícius Piffardini, a parceira não fazia uso de hormônios ou anabolizantes, mas havia desconfiado do efeito de vitaminas D3 com K2 que estava ingerindo havia pouco tempo. “A vitamina K aumenta o risco de coagulação e pode ter relação com suplementos tomados em excesso”, afirma Chiara.
AMOR E MÚSCULOS
Vinícius e Fernanda se conhecaram há três anos e meio, em uma academia na qual a jovem malhava, no Tatuapé. Ao perceber que a moça tinha potencial para o fisiculturismo, o rapaz se ofereceu para iniciá-la nos treinamentos. “Eu bati o olho e vi que ela tinha estrutura física para a coisa”, conta. O apelido da garota na escola era “Fernanda hipertrofia”, pelos músculos avantajados apresentados já na adolescência.
O apoio dado pelo namorado fez com a jovem que tomasse gosto pelo esporte: em um ano, já havia alcançando o terceiro lugar em uma competição para estreantes em 2014. Empolgada com a vitória, decidiu participar de um curso oferecido por árbitros do fisiculturismo e “sentou logo na primeira fileira”, relata o companheiro. Segundo o namorado, um dos técnicos disse que ela precisaria perder volume para vencer as disputas em sua categoria.
+ Vitor Caetano é o destaque teen no CrossFit
Para se destacar nas competições, a atleta perdeu 10 quilos, passando a pesar 51, e mudou radicalmente a alimentação, comendo seis vezes por dia apenas arroz integral, batata doce, mandioca, aveia, frango e ovos. De gordura: somente pasta de amendoim integral, óleo de coco e castanhas. Também passou a treinar mais de dez vezes na semana. O próximo objetivo era trocar a gordura dos glúteos dos músculos, mantendo o padrão do restante do corpo.
CARREIRA
Ainda em 2014, Fernanda disputou o campeonato paulista e ganhou o primeiro título. “Ela foi melhorando assustadoramente, ficando super definida”, diz Piffardini. Com o resultado positivo, se classificou para o campeonato brasileiro no mesmo ano e ficou em segundo lugar garantindo a vaga para a disputa mundial em outubro daquele mesmo ano em Montreal, no Canadá. A jovem alcançou o quinto lugar dentre 25 atletas. “Foi um resultado surpreendente para quem disputava o primeiro mundial em apenas um ano no esporte”, relata Piffardini.
No início de 2015, a atleta venceu o Arnold Classic, no Rio de Janeiro, competição internacional que leva o nome do astro Arnold Schwarzenegger, símbolo mundial do fisiculturismo. O feito se repetiu em outros três eventos que disputou. Foi para outro mundial na Hungria, em novembro de 2015, e chegou ao sexto lugar.
“Perto dessas competições ela meio que ‘passava fome’, porque temos que chegar no dia do evento mais magros”, conta Piffardini. “Não existe competição sem sacrifício e ela sabia disso.”
Os bons resultados levaram-na a realizar o seu maior sonho em março de 2016 no Arnold Classic, em Ohio, Estados Unidos. Gutilla ganhou em todos os quesitos de harmonia do corpo: definição, proporcionalidade, alinhamento, simetria e volume muscular. Com o título, adquiriu ingresso na liga profissional.
“Foi um choque muito grande, ela estava na melhor fase da carreira dela”, lamenta Piffardini.