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“Ele ficou em choque quando contei dos meus problemas com álcool e drogas”

Frequentadora do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas conta sua história de superação e de relacionamentos abusivos

Por Cristina*, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h38 - Publicado em 7 jan 2022, 06h00
Imagem mostra um homem e uma mulher, de costas, escondidos por uma sombra. Ela está sentada e ele em pé.
Recuperação: Cristina* conheceu Diego* depois que aprendeu uma forma saudável de amar. (Rogerio Palatta/Divulgação)
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“Quando pequena, eu carregava um sentimento estranho, de inadequação. Não me sentia parte da escola ou da minha própria família. Parecia que não pertencia a nenhum lugar.

Tinha dificuldades em dar nome ao que sentia e procurava em um amor a solução dos meus problemas. Queria que um homem me salvasse da minha própria insegurança e achava que precisava estar ao lado de alguém para ter valor.

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Comecei a namorar muito nova, aos 13 anos, e, a cada relação, acreditava que tinha encontrado um príncipe encantado. Mas, quando os relacionamentos acabavam, eu sempre entrava no fundo do poço.

Aos 18 anos, eu já tinha uma filha de 3 e conheci mais um ‘amor da minha vida’, que me apresentou ao álcool e a um tipo de droga. Eu não curtia nada disso, mas, para passar mais tempo com ele, comecei a usar também. Sem me dar conta, fui me inserindo nesse universo.

O namoro acabou depois de um ano, mas dessa vez foi diferente. Eu não precisava sentir novamente a dor dilacerante do término porque agora tinha substâncias que me anestesiavam. Eu substituí o amor pelas drogas.

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Aos 25 anos, minha família interveio e me obrigou a ir para uma clínica de reabilitação — hoje, sou abstêmia há mais de dezenove anos.

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Mesmo em recuperação, a minha busca incessante por relacionamentos afetivos continuava. Eu me apaixonava por homens indisponíveis, destrutivos e que não me ofereciam o que eu queria.

Eu travava lutas para transformá-los naquilo que eu buscava. Para mim, quanto maior a dor, maior era o amor. Relações cheias de brigas e ciúme me davam a falsa sensação de uma grande paixão.

Eu só me dei conta de que estava em um círculo vicioso quando conheci o programa do MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) — irmandade que adaptou o programa de recuperação dos Alcoólicos Anônimos para mulheres que precisam evitar relacionamentos tóxicos — e na primeira reunião em grupo fiquei impressionada pelas histórias que ouvi.

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Lá, encontrei mulheres lindas e bem resolvidas profissionalmente mas que também estavam se recuperando de relacionamentos destrutivos. Assim como eu, elas não sabiam por que faziam o que faziam. Pela primeira vez na vida, senti que estava no lugar certo.

Logo arrumei uma madrinha — integrante que está há mais tempo no processo de recuperação —, que poderia me ensinar um modo novo de me relacionar. Ela sugeriu que eu ficasse ao menos um ano sozinha, estratégia que chamamos de ‘celibato’.

Com o tempo, ganhei forças para abandonar aquelas relações sem precisar passar por uma depressão profunda. O caos dos meus relacionamentos já não me atraíam. Comecei a me sentir melhor comigo e esqueci dos namorados. Passei três anos nesse processo.

Tracei sonhos e objetivos e escrevi uma lista de critérios do que eu queria em um relacionamento. Só voltei a me relacionar quando conheci Diego*, por indicação de um parente. Conversamos durante um mês por telefone e marcamos um almoço — algo diferente dos meus antigos encontros regados a álcool.

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De início, eu não me senti atraída fisicamente por ele, por ser baixinho e mais velho do que eu. Na hora da despedida, ele me acompanhou até meu carro, não tentou me beijar e logo depois me mandou uma mensagem dizendo que tinha adorado nossa saída.

Fomos nos conhecendo aos poucos e fui percebendo que ele tinha os atributos que eu tinha colocado na minha lista. Depois de três meses, me vi apaixonada por ele. Quando contei dos meus problemas com álcool, drogas e relacionamentos, Diego ficou em choque. Ele não me enxerga vivendo tudo isso.

Atualmente, estamos há mais de três anos juntos e apenas não nos casamos por causa da pandemia. É um relacionamento diferente de tudo que já vivi. Construímos uma relação a quatro mãos, compartilhamos objetivos em comum e respeitamos a individualidade de cada um.”

* Nomes alterados para garantir o anonimato de frequentadores do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas

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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771

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