Especialistas apontam como escolher a escola ideal para os seus filhos
Conheça as questões fundamentais que os pais devem levar em conta no momento de definir o colégio das crianças
Com a aproximação do período de matrícula para mais um ano letivo, os pais que pretendem trocar o colégio dos filhos iniciam uma maratona pelas ofertas disponíveis. A tarefa não é fácil, pois o universo é vasto: há mais de 3 500 escolas na capital somente no universo das particulares. Os modelos pedagógicos variam bastante. Há unidades tradicionais, bilíngues, religiosas, construtivistas, focadas em preparar para o vestibular e as que oferecem uma ampla opção de atividades extracurriculares, como empreendedorismo e robótica. Geralmente, a praticidade é o item número 1 entre os critérios de escolha. A proximidade de casa ou do trabalho facilita os deslocamentos no caótico trânsito paulistano. É evidente que o valor da mensalidade e dos custos agregados (uniforme e material, por exemplo) também entra na conta. Mas, além dessas duas questões óbvias, outras, mais relacionadas à formação e ao bem-estar da criança ou do adolescente, devem ser incluídas na operação.
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Um erro comum é dar valor excessivo à posição das instituições no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ambos são importantes, mas não fundamentais. Essas avaliações são realizadas apenas no fim de cada ciclo (fundamental e médio) e nem sempre revelam a qualidade de ensino em outras séries. E, entre as escolas líderes, a variação de desempenho costuma ser pequena.
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Segundo especialistas, é preciso ser curioso e realizar um trabalho prévio de investigação para não errar o alvo. A dica é pesquisar informações sobre o colégio em redes sociais, analisar comentários de alunos e conversar com outros pais. “A maioria das escolas conta com equipes de marketing, e todas acabam adotando discursos muito parecidos”, alerta a orientadora educacional Catarina Iavelberg. “Quem já tem filhos matriculados pode dizer se esse discurso condiz com a prática.” Outra sugestão é marcar uma reunião com a coordenação pedagógica durante o horário de aulas. O objetivo é observar o tratamento entre funcionários e a postura dos estudantes. Uma boa ideia é procurar por trabalhos escolares expostos nas paredes. “Dar destaque a esse material indica que, ali, os alunos são os protagonistas”, afirma a coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, Débora Rana. Durante a visita, é importante levar um acompanhante mais do que essencial: o futuro aluno. A opinião dele, com certeza, não é uma bobagem. Se ele estiver adaptado à nova vida social, terá melhores condições para aprender. A seguir, alguns itens básicos para compor o check-list na hora de escolher a melhor opção.
Valores e pedagogia
Esses são os pontos cruciais, uma unanimidade entre os especialistas. Mais que se importarem com o tamanho do prédio ou a fama da instituição, os pais precisam verificar se a escola está alinhada com os valores cultivados pela família. “Muitas vezes, a melhor opção é uma escola menor, que não está incluída entre as tradicionais, mas oferece o que os pais acreditam ser essencial”, afirma Catarina Iavelberg. A dica é perguntar a si mesmo: “Que tipo de pessoa quero que meu filho seja?”. E, a partir daí, pautar a seleção. Não adianta manter um ambiente liberal e democrático em casa e pôr a criança em uma escola de disciplina rígida. Com isso em mente, a fonoaudióloga Maria Cecília Martin Ferri escolheu o Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, para matricular o filho Fernando Martin Ferri, hoje no 2º ano do ensino médio. “Escolhi o Bandeirantes por ser uma escola com professores capacitados e que desenvolvem no aluno senso de responsabilidade e espírito crítico.” Ela diz ainda que as diversas atividades propostas pela escola estimulam o garoto “a correr atrás dos próprios objetivos e a se preparar para entrar em uma boa universidade.”
Segurança
Uma pesquisa realizada neste ano pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo revelou que a segurança já é o fator que os pais mais consideram para definir o colégio. Pôr esse aspecto em primeiro lugar pode até ser um exagero, mas sem dúvida a integridade física das crianças é um ponto essencial. Câmeras e vigilantes para controlar a entrada e a saída tornaram-se banais, mas várias instituições proporcionam um conforto extra, ao contar com áreas que permitem aos pais parar os veículos dentro do terreno, como é o caso do Porto Seguro, no Morumbi, e do São Luís, em Cerqueira César.
Gestão de conflitos
Aqui é importante ficar atento ao modo como a unidade lida com problemas de relacionamento entre os estudantes. “Esses assuntos devem ser tratados por um orientador educacional, e não depender da postura de cada professor”, afirma a docente Telma Vinha, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem) e da Unicamp. Esse orientador deve conversar com um aluno, com outro e depois com os dois em busca de uma solução. Já para problemas com muitos estudantes, como, por exemplo, quando os meninos não deixam que as meninas usem a quadra, a escola pode prever momentos de discussão como assembleias ou rodas de conversa. “Ao lidar com bullying, gosto quando o colégio procura conversar e desenvolver a autoestima das crianças”, diz a psicóloga Vivian Ayoub, mãe de Julia, de 9 anos, do 4º ano do fundamental, e de Pedro, de 5 anos, do jardim II do Colégio Rio Branco, em Higienópolis.
Gastos extras
Além da matrícula e da mensalidade — o sindicato do setor estima que o aumento para o ano que vem girará em torno de 12% —, outros custos devem ser considerados, como os passeios de estudos. Geralmente, os ingressos e o transporte para essas visitas são pagos pelos pais. Além disso, escolas em período integral oferecem atividades extras, como natação, judô ou idiomas, que podem ser cobradas à parte. No Colégio Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, a mensalidade para o 5º ano, por exemplo, é de 2 863 reais. Com atividades extras, como natação, esse valor pode ser acrescido em mais de 200 reais. “O total gasto com escola por mês não pode passar de 20% do orçamento da família”, calcula José Augusto de Mattos Lourenço, diretor do sindicato das escolas particulares do Estado de São Paulo.
Formação dos professores
Todos os educadores devem ter curso superior em pedagogia para os anos iniciais. A licenciatura é exigida para quem ministra aulas do 6º ano do ensino fundamental II ao final do ensino médio. Além disso, é preciso haver horário reservado na rotina para a atualização profissional, quando a equipe revisa sua prática. “Alunos só aprendem com mestres bem preparados”, afirma Paulo Afonso Ronca, doutor em psicologia educacional pela Unicamp. Outro aspecto importante é conferir se há muita rotatividade entre os docentes. Uma permanência mais longa ajuda a acompanhar o desenvolvimento dos estudantes.
Bom uso da estrutura
Não basta ter laboratório bem equipado, quadra para todas as modalidades esportivas e salas com lousas digitais de última geração. “Mais importante do que todo esse aparato é o uso que a escola faz dele”, aponta Débora Rana. Um espaço bem aproveitado para o desenvolvimento dos bebês foi o principal motivo para o economista Felipe Marini e sua mulher, a analista de sistemas Izabel, escolherem o Colégio Magno, na Zona Sul, quando matricularam os três filhos — Helena, de 15; Rodrigo, de 13; e Sofia, de 8. “Queríamos salas adequadas à faixa etária e a presença constante de profissionais de saúde”, conta Marini.
Participação dos pais
A escola precisa firmar boa comunicação com os pais. No caso dos menores, isso costuma ocorrer por meio da agenda. Para os maiores, o colégio deve reservar momentos para reuniões. “Muitas instituições convocam os responsáveis só quando surge reclamação”, diz Catarina Iavelberg. Outro aspecto é conferir se a unidade convida a família para conhecer os trabalhos produzidos pelos alunos e para eventos, como feiras de profissões.