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Eduardo Morgado Rezende, o senhor cemitério

Quanto vale um jazigo? Qual é o caixão mais caro da cidade? O professor de geografia, especialista no assunto, responde

Por Rodrigo Brancatelli
Atualizado em 5 dez 2016, 19h20 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Empinar pipa, correr atrás de balão, jogar pião, bater uma bolinha com os amigos, subir naquele pé de amora de mais de 7 metros para pegar frutas fresquinhas. A infância do professor de geografia Eduardo Morgado Rezende, de 35 anos, só não era mais trivial porque o pião, a bola de futebol e as suculentas amoras teimavam em cair em covas abertas no meio do gramado. “Cresci brincando entre os jazigos do Cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste”, conta ele, sem mostrar o menor estranhamento. “As pessoas acham meio mórbido, mas tenho uma relação de afeto com esses lugares.” Depois de interromper funerais para pegar seus balões, Rezende transformou a curiosidade em profissão. Hoje, ele é um dos maiores conhecedores de cemitérios da cidade. Já visitou 600 deles, no Brasil ou no exterior. E sabe quase tudo sobre a história e particularidades desses lugares, do preço dos jazigos ao número de lápides famosas. Quanto custa um caixão, por exemplo? “O mais barato, feito de um papelão resistente, sai por 200 reais”, esclarece. “Mas já vi um de 12 000 reais, com controle remoto, para o caso de paralisação momentânea dos órgãos vitais, o que faz a pessoa ser dada como morta, embora não esteja.” Os cemitérios mais caros? “Nos da Consolação, Morumbi, Araçá e Vila Mariana, um terreno de 3 metros quadrados tem preço por volta de 10 000 reais.” Bem, o número de túmulos do Cemitério da Vila Formosa, o maior do país, ele nunca contou, certo? “Dois milhões de cadáveres já foram ali enterrados”, informa. “Uma média de dez pessoas por dia, 300 por mês. E há sempre 200 covas abertas, prontinhas, para o caso de acontecer alguma catástrofe por aí.” São Paulo tem hoje 22 cemitérios municipais, dezoito particulares e um crematório, localizado na Vila Alpina. Alguns são conhecidos pelas obras de arte e pelos túmulos de figuras famosas que abrigam, caso do Cemitério da Consolação. Lá, numa área de 76 000 metros quadrados, estão enterrados o escritor Monteiro Lobato, o engenheiro Ramos de Azevedo, o governador Ademar de Barros e a marquesa de Santos, amante de dom Pedro I. Na visita, podem ser vistas esculturas de Bruno Giorgi e Victor Brecheret. Rezende começou a se dedicar ao assunto quando fez um trabalho de conclusão do curso de geografia na USP, em 1999. O projeto virou o livro Metrópole da Morte, Necrópole da Vida (Carthago Editorial), que reúne curiosidades dos cemitérios da região metropolitana. Descobriu, por exemplo, que não era o único que nutria uma relação especial com a chamada última morada. “Tem muita gente que vai lá fazer piquenique, praticar cooper, namorar, tirar fotos ou simplesmente rezar”, diz. Rezende, que atualmente participa de encontros internacionais sobre o tema, acabou descobrindo que a especulação impera nos cemitérios mais conhecidos. Por isso, ser enterrado perto de uma celebridade custa caro. “Anunciaram um jazigo por 15.000 reais no Cemitério do Morumby só porque era próximo ao de Ayrton Senna”, conta. “Eu ainda prefiro ser enterrado na Vila Formosa, longe da confusão e bem perto do pé de amora.”

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