“Decifra-te ou Me Devora” aborda solidão e sensualidade com sutileza
Peça em cartaz no Miniteatro ultrapassa a obviedade das histórias de amor ao contar a trajetória de um casal cujo relacionamento começa na internet
A tática de seduzir o outro com palavras bonitas extraídas dos livros é antiga e, mesmo na era virtual, pode surtir resultado. Munidos dessa ideia, os atores João Paulo Lorenzon e Helô Cintra uniram-se ao diretor Elias Andreato para criar o drama Decifra-te ou Me Devora, em cartaz no Miniteatro, na Praça Roosevelt. Estruturado com base em fragmentos de textos de poetas como o romeno Paul Celan, o português Herberto Helder e o brasileiro Cacaso, o espetáculo traça um painel realista da solidão e das relações humanas, além de ultrapassar a obviedade das histórias de amor.
Lorenzon e Helô interpretam um casal cujo relacionamento começa na internet. Na busca de uma comunicação perfeita, eles usam frases alheias a fim de expressar sentimentos e se proteger da exposição. Vencendo medos e resistências, os dois avançam para uma conversa telefônica. Quando finalmente se encontram, vem o desafio maior: abandonar a poesia e viver de acordo com a realidade.
Íntimos da literatura, como já mostraram em trabalhos anteriores, Lorenzon, Helô e Andreato souberam atribuir naturalidade aos diálogos. Em plena sintonia, dão veracidade ao conflito e tiram proveito de cenas que dispensam palavras para, sutilmente, explorar a sensualidade. Um exemplo é o momento no qual os personagens, já entediados um com o outro, simulam uma relação sexual apenas comendo pedaços de pão.
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