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Esquina da Augusta com a Paulista é a mais bombada da cidade

De hippies a cover do Elvis, o cruzamento é point de tribos e artistas excêntricos

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 1 jun 2017, 17h24 - Publicado em 7 mar 2014, 18h26

Billie Jean is not my lover / She’s just a girl who claims that I am the one…” Os versos de um dos clássicos de Michael Jackson saem distorcidos de uma caixa de som movida a bateria. Vestidos com luvas, roupas e chapéus característicos do rei do pop, os irmãos Matheus, de 17 anos, Felipe, 16, e Davi Gomes de Luca, 9, reproduzem fielmente trejeitos e coreografias que aprenderam assistindo a shows em DVD. Nos fins de semana, normalmente das 17 às 21 horas, eles ocupam parte da esquina da Rua Augusta com a Avenida Paulista. Os jovens têm, inclusive, as próprias fãs. Matheus e Felipe conheceram ali suas namoradas, que ficam de olho nos movimentos junto da mãe dos “irmãos Jackson”, Dayse. Munidos de celulares com câmera, dezenas de pedestres se aglomeram em frente ao Shopping Center 3 para ver o espetáculo. “Faturamos até 500 reais por dia”, conta Felipe. Cenas curiosas como a das performances da família transformaram aquele cruzamento no mais agitado da cidade. Nos últimos tempos, o pedaço virou point das mais diversas tribos e artistas. Hippies, camelôs, ativistas da proteção aos animais e covers de artistas famosos, entre outros, misturam-se a curiosos e jovens que param por ali para fazer o esquenta da balada, antes de descer rumo às atrações noturnas do Baixo Augusta.

 

 

Com quase 3 quilômetros de comprimento, a Avenida Paulista é um dos mais emblemáticos endereços da capital. Por ela passa cerca de 1,5 milhão de pessoas por dia, e a região concentra mais de 3 000 empresas. Nos dias de semana, os executivos engravatados formam grande parte do movimento. Aos sábados e domingos, o público muda radicalmente e tudo ali fica mais colorido e imprevisível, sobretudo na esquina com a Augusta. O trio Jackson está entre as atrações que batem ponto no local há mais tempo, cerca de quatro anos. Em um sábado típico, é possível ver outras situações inusitadas na área. Em meio a barraquinhas de bijuterias hippies, um simpático homem pergunta: “Quer jogar peteca?”. É Antonio José da Silva, o Piauí, que convida qualquer um que esteja passando para testar o produto à venda. Muitos o reconhecem de um vídeo da internet, com mais de 3 milhões de visualizações, em que ele fala sobre os problemas na política do país. Ao lado de Piauí, o grupo Veddas, integrado por ativistas contra a crueldade aos animais, reproduz um vídeo com imagens bárbaras de matadouros. “Tem gente que chora e há quem fique hipnotizado por horas”, conta o estoquista Leandro Campos, um dos membros do coletivo. Ao anoitecer, um motoboy aparece com uma pizza (sem queijo ou qualquer produto de origem animal) para os voluntários reabastecerem as energias.

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Os ouvidos de quem passa pela esquina experimentam uma miscelânea sonora. Seguidores do movimento hare krishna tocam sons místicos. Em frente ao Conjunto Nacional, Emerson Pinzindin arranca doces melodias de sua flauta transversal. Em outra ponta do cruzamento, uma banda de rock põe para quebrar com clássicos de bandas como Guns N’Roses. Não muito longe, um conjunto instrumental investe em música brasileira. Com data fixa às sextas, há dois anos ocorre, a partir das 21 horas, a batalha de MCs. Os fãs de rap se reúnem para uma competição em que improvisam rimas sobre assuntos que vão de Gandhi à guerra na Síria. Nas tardes de quinta a domingo, outro cover aparece por lá, o de Elvis Presley. Com direito a gestos exagerados e firulas vocais, Marcio de Aguiar — que imita ainda Dinho Ouro Preto, líder do Capital Inicial — emenda sucessos do rei e também envereda por… hits sertanejos. “Este macacão branco que estou usando tem pedras colocadas a mão”, conta, orgulhoso. “Paguei 2 850 reais.” No meio do show, costuma entrar em ônibus parados na rua para divertir passageiros e motoristas.

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É até complicado para os artistas e vendedores conquistar um espaço nas disputadas calçadas. Costumam valer as regras de quem chega primeiro ou trabalha ali há mais tempo. Mas bate-bocas são comuns. “O carrinho de milho e o rapaz da cerveja faziam questão de ficar bem na nossa frente”, reclama Guimel Cursino, que junto da namorada, Charlene Romão, vende roupas e acessórios feitos de material reciclado. “Acabamos mudando de lugar.”

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A região também serve como ponto de encontro. As estudantes de moda Izabella Finote e Patrícia Ferreira partem dali para o Baixo Augusta. Tem quem prefira passar a noite inteira lá, bebendo, fumando, conversando, andando de skate… O estudante de odontologia Lucas Ferreira, por sua vez, se dedica a uma atividade diferente. Ele oferece abraços grátis com um sorrisão no rosto — não importa que a maioria das pessoas finja não vê-lo. No último dia 22, o pedaço ficou ainda mais colorido: rolou por ali um “rolezinho” de drag queens.

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