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A bolsinha imortal

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
5 Maio 2017, 19h57

Certas coisas deveriam acontecer uma vez só na vida: viajar para o Nordeste no mês mais chuvoso do ano, por exemplo. Fazer tratamento de canal. Ou sair por aí usando uma pochete. A bolsa — que era amarrada à cintura, dando ao usuário um índice negativo de charme — parecia relegada aos figurinos das festas a fantasia cujo tema fossem os tenebrosos anos 80. Pois a pochete voltou. Pausa para raios e trovões de filmes de terror.

O cafona penduricalho não apenas ressurgiu nas prateleiras das lojas como retornou banhado em glória. Dizem que até Costanza Pascolato, uma espécie de eterna sacerdotisa da moda entre nós, andou falando bem da pochete. Mas é bom salientar que as que ela elogiou vinham assinadas por estilistas de alto calibre. Se você é do tipo que segue qualquer tendência fashion, prepare-se para comprar a sua.

Embora redesenhada, a pochete de hoje certamente terá a mesma função de suas predecessoras: reunir sob um único zíper carteira de identidade, de motorista, documento do carro, cartões de crédito, carteirinha do convênio, analgésicos, lenço de papel e camisinha. É fundamental, também, ter espaço para o celular e para o carregador. Senão, não tem acordo.

Sempre desconfiei das tais bolsinhas, embora tenha usado uma ou outra naqueles tempos imemoriais. Para mim, pochetes facilitavam bastante a vida do ladrão. Com um só movimento de mãos, ele levava sua vida inteira — sem contar a própria bolsinha, muitas vezes feita de couro, no capricho.

Não vamos nos iludir. Usar pochete é tipo sair do supermercado com um rodo ou embarcar no aeroporto de Salvador com um berimbau comprado no Mercado Modelo. Não tem como tornar a experiência menos deselegante. Ou mais prática. Ninguém consegue esconder um berimbau, maquiar um rodo ou fingir que a pochete sempre fez parte do seu figurino básico.

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Também seria bom pesquisar em fotos e filmes Super-8: pochetes acabavam se tornando sempre uma extensão de pancinhas salientes. Vivemos o império da barriga tanquinho e será preciso muita força de vontade para unir duas forças tão antagônicas quanto as bolsinhas de cintura e o abdômen sarado. Mas a moda acaba sempre vencendo, pelo menos por um período.

O mais curioso da pochete é que ela se tornou um acessório masculino por excelência. Talvez isso explique por que a bolsinha virou o xodó das moças cujo amor não ousava dizer seu nome. Felizmente, esse período das paixões embutidas faz parte do passado e as moças não precisam mais de um acessório para se identificarem a distância. O mercado das pochetes será exclusivo dos homens tradicionalistas, que terão de aprender a desfilar ao mesmo tempo com a bolsa da acompanhante e sua própria bolsinha. Vai ser divertido assistir.

Assim que escapar das fashion weeks, a pochete abrirá a porteira para seu companheiro fiel, o agasalho de ginástica. Juntos, eles foram o terror das sessões de cinema, dos rodízios de carne e dos shoppings de Miami. Não havia limites para o usuário de agasalho e pochete. Corações sensíveis e espíritos delicados devem se preparar. O dress code agora é o seja o que Deus quiser.

(mario@abril.com.br)

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