Talvez o grande público conheça José Lewgoy (1920-2003) apenas por seus trabalhos mais marcantes — as chanchadas da Atlântida ou as novelas da Rede Globo. A intenção do diretor paulistano Cláudio Kahns, contudo, é ir um pouco mais a fundo na filmografia desse grande ator no documentário “Eu Eu Eu José Lewgoy”, cuja pré-estreia ocorre neste sábado (19), no Frei Caneca Unibanco, e cujo lançamento está previsto para sexta (25). Em seu segundo longa-metragem — o anterior, “Mamonas para Sempre”, sobre o grupo Mamonas Assassinas, chegou às telas em junho —, Kahns preferiu deixar de lado intimidades e relacionamentos e concentrar-se na carreira de Lewgoy. Sabe-se, porém, que ele saiu aos 15 anos de Veranópolis, a 160 quilômetros de Porto Alegre, para tentar a vida como tradutor na capital gaúcha.
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No cinema, estreou apenas em 1949, com “Carnaval no Fogo”, produzido nos estúdios da Atlântida. A partir daí, não parou mais. Vieram o primeiro contato com a estrela Tônia Carrero, no filme “Perdida pela Paixão” (também conhecido como “Quando a Noite Acaba”, de 1950), e os personagens de destaque de “Aviso aos Navegantes”, “Amei um Bicheiro” e “Matar ou Correr”. Em 1954, Lewgoy se mandou para a França com míseros 500 dólares no bolso. Permaneceu lá dez anos — trabalhando como ator. Na volta, foi “rejeitado” pelos diretores do cinema novo, mas nem por isso deixou de brilhar em “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Ele somou 100 filmes e 23 novelas em mais de cinco décadas. Embora formado em artes dramáticas pela Universidade Yale, pisou pouquíssimas vezes num palco.
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Parte da fita traz registros preciosos, como cenas do longa francês “S.O.S. Noronha”, de 1958, e de novelas dos anos 70, a exemplo de “Anjo Mau”, “O Rebu”, “Nina”, “Dancin’ Days “e “Feijão Maravilha”. Entremeados às imagens, há depoimentos dos atores Walmor Chagas e Anselmo Duarte, dos escritores Luis Fernando Verissimo e Millôr Fernandes, e dos cineastas Guilherme de Almeida Prado (“A Hora Mágica”) e o alemão Werner Herzog, com quem Lewgoy fez “Fitzcarraldo”.
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“O Judeu”, de 1996, mostrou-se um de seus últimos bons desempenhos. O biografado falava inglês, francês, italiano e espanhol. Não parecia ter preconceitos com papéis — transitava da chanchada à pornochanchada, do cinema marginal ao comercial, dos vilões (sua especialidade) aos tiozinhos bonachões. Era rabugento e tinha cara de zangado, na opinião de alguns amigos, e faz uma tremenda falta para seus parentes de Veranópolis, que lembram de suas esporádicas visitas à cidade dirigindo um Fusquinha vermelho.