É manhã de quinta-feira e a sala de quimioterapia do Hospital do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), na Vila Mariana, está lotada. Acompanhadas das mães, as crianças tomam a medicação enquanto assistem a DVDs portáteis e jogam videogame. A cena se repete dias depois na Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), em Itaquera. No bairro da Liberdade, centenas de homens e mulheres circulam pelos corredores do A.C. Camargo segurando seus exames a caminho da próxima consulta. Para eles, a luta pela vida faz parte da rotina.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, estima que a cidade de São Paulo registre 45.000 novos casos da doença por ano — são 136.000 no estado. Ela provocou a morte de 13.000 pessoas na capital em 2008 (estatística mais recente disponível). “A incidência vem aumentando devido ao envelhecimento da população”, afirma o secretário estadual da Saúde, Giovanni Guido Cerri. Ainda assim, os índices de cura e sobrevida estão cada vez maiores. Isso porque os avanços no diagnóstico e tratamento de tumores malignos são notáveis e, melhor, podem ser encontrados nos principais centros oncológicos da capital.
Há mais boas notícias. Inaugurado em 2008, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), em Cerqueira César, acaba de adquirir por 1,5 milhão de reais um equipamento que une ressonância e ultrassom para localizar e destruir tumores ósseos e miomas. “Conseguimos oferecer tratamento de ponta dentro da realidade do sistema público de saúde”, diz o médico Paulo Hoff, diretor-geral do Icesp. Ele também é o responsável pela área de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, na Bela Vista, que em duas semanas substituirá seu antigo aparelho para radioterapia por um mais moderno, o Novalis TX.
A máquina americana realiza tratamentos em menor tempo e com maior precisão na irradiação do tumor. Assim, os riscos de dano aos tecidos sadios tornam-se mínimos. Criado para fazer frente a instituições de excelência como o Sírio, o Centro de Oncologia do Hospital São José, ligado à Beneficência Portuguesa, abriu as portas há um mês com catorze leitos para quimioterapia e investimento de 3 milhões de reais. “Queremos ser referência no tratamento de câncer no país”, afirma o superintendente Júlio Braga.
Outro projeto ambicioso é o do Graacc, que pretende erguer um complexo de 16.000 metros quadrados nos próximos cinco anos. O hospital atua em parceria com o St. Jude, em Memphis, nos Estados Unidos, centro de excelência em pesquisa de câncer infantil. “Essas instituições compartilham com nossos profissionais seus avanços em estudos de novos medicamentos e métodos laboratoriais”, conta o superintendente Sérgio Petrilli.
O investimento em pesquisa, aliás, é constante. Paciente do Hospital Albert Einstein, no Morumbi, o empresário Eduardo Marafanti convive com a leucemia há treze anos e já participou de testes de três drogas experimentais. Há um ano está em funcionamento no centro médico uma nova unidade de transplantes de medula óssea com catorze leitos. O A.C. Camargo, por sua vez, inaugurou em agosto passado seu Centro Internacional de Pesquisa e Ensino. “É animador fazer parte de um time que, em muito pouco tempo, pode encontrar a cura do câncer”, diz, com otimismo, Irlau Machado, CEO da entidade. Nas páginas a seguir, seis pessoas contam como enfrentam o difícil diagnóstico de cabeça erguida. Nessa batalha, a vida está vencendo cada vez mais.
+ Confira abaixo os depoimentos de seis pacientes dos principais centros oncológicos da cidade: