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As encrencas do Camilinho: a grande coleção de brigas do vereador

Dos cabritos levados a uma praça com mato alto a fala racista, Camilo Cristófraro acumulou inimizades por cinco anos

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h55 - Publicado em 3 jun 2022, 06h00
Montagem com a foto de Camilinho de braços cruzados na frente de sua coleção de fuscas e sua foto no dia em que levou cabras para uma praça
Coleção: de Fuscas e confusões | Cabritas no pasto: transportadas com a ajuda de um amigo (Leo Martins e Facebook/Reprodução)
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Alvo de processo na Corregedoria da Câmara Municipal por usar uma frase racista que vazou nas caixas de som do plenário há um mês, o vereador Camilo Cristófaro (Avante) terá seu futuro político julgado por colegas nas próximas semanas.

Depois que disse “Não lavarem a calçada… é coisa de preto”, Camilinho, como é conhecido por seus pares e até por adversários, vem sendo objeto de diversas manifestações, inclusive com carros de som na frente do Legislativo, no Viaduto Jacareí.

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Um desses protestos contou com a presença do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil). “Fui ofendido pelo ato de racismo praticado pelo vereador. Como presidente, vou manter a minha isenção, respeitando todos os direitos dele, mas vou trabalhar para a cassação de seu mandato”, disse Leite, em áudio enviado em um grupo de vereadores.

Embora tenha o mesmo peso dos colegas em uma votação nominal, Milton Leite é uma das pessoas mais influentes da política paulistana e em um vídeo, gravado ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), disse que vai “mandar o Camilo embora”.

Enquanto tenta se defender administrativamente, Cristófaro é alvo de um processo criminal por abuso de autoridade. Como presidente da CPI da Pirataria, ele fez uma ação em um shopping popular na região da Rua 25 de Março e foi acusado de arrombar um boxe sem autorização judicial. A Polícia Civil concluiu que ele não poderia ter feito o que fez e o indiciou. O caso está na Justiça, ainda sem decisão sobre se a denúncia será ou não aceita. Em caso positivo, ele, que nega o abuso, se tornará réu.

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Em outra ação, a empresária Hwu Su Chiu Law, conhecida como Miriam e esposa de Law Kin Chong, que foi acusado no passado de ser o maior contrabandista do Brasil, afirma ser alvo de calúnia, injúria racial e ameaças.

Durante a visita de seu advogado ao vereador, para despachar questões pendentes de análise sobre uma convocação sua para depor na comissão, Miriam foi xingada pelo parlamentar. “Ela é uma filha da puta. Ela não é empresária, não. Ela é uma naja que te encanta e pica… Vocês não viram nada, eu vou destruir esses shopping centers.”

Procurado, Camilo Cristófaro, que pediu desculpas pela fala racista, não respondeu ao pedido de entrevista.

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Camilinho aparece ao lado de três funcionários negros em um vídeo gravado com os assessores
Desculpas: após fala racista, gravou vídeo com assessores (UOL/Reprodução)

Nos últimos cinco anos, Camilinho vem acumulando encrencas, agressões e confusões dentro e fora da Câmara. Em 2017, dois meses depois da posse, ele foi acusado pela então vereadora Isa Penna (hoje deputada estadual pelo PCdoB e que foi alvo de importunação sexual por seu colega Fernando Cury, do União Brasil) de tê-la chamado de “vagabunda”, “cocô de galinha” e “terrorista”. Na sequência, teria empurrado a parlamentar.

Vereador é flagrado pelas câmeras em conversa agressiva com Isa Penna
Dedo em riste: acusado de xingar Isa Penna (G1/Reprodução)

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Em ambos os casos ele disse que isso não ocorreu. Três meses depois e sem poder negar a cena, que foi filmada nos corredores da Câmara, Camilo jogou o celular de um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT) no chão.

Camilinho aponta o dedo no rosto do assessor de Suplicy
Celular no chão: agressão a assessor de Suplicy (G1/Reprodução)

Eleito em 2016 com 29 603 votos, Camilo se fez conhecido por filmar radares escondidos, ciclovias que não estavam interligadas e o que mais lhe chamasse a atenção, sempre contrário à atuação do então prefeito Fernando Haddad (PT). Com sotaque “macarrônico” e o slogan “Se a sua verdade não for a minha verdade…”, levantou a bandeira do trânsito e foi reeleito quatro anos depois, apesar de cerca de 6 000 votos a menos do que na eleição anterior.

Depois do petista, seu alvo preferido foi o tucano João Doria, eleito prefeito há seis anos com apoio amplo de outros partidos, inclusive o de seu então PSB (ele foi desfiliado recentemente, a pedido, depois das falas racistas). Assim que a legenda desembarcou da gestão do PSDB, Camilo passou a mirar na figura pessoal de Doria.

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Em um dos vídeos, ele mostrou uma praça na região do Ipiranga coberta por mato alto. Para ilustrar a cena, ele levou, acredite, uma dúzia de cabritos, que foram soltos no espaço. “A cidade está a tal ponto abandonada que eu trouxe as minhas meninas, as minhas cabritas, para pastar aqui no Heliópolis. Estão aqui a Dengosa e nossos bebês.”

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Na ocasião, Camilo disse que a surreal cena pôde ser feita graças à ajuda de um amigo, que lhe forneceu o transporte dos animais. “Elas ficam comendo o capinzal que o Doria deixou pela cidade. São Paulo está um caos e eles não estão nem aí para a cidade”, afirmou à Vejinha na época.

Depois da história das cabritas,Camilo foi processado por Doria, chamado de “Pinóquio” pelo parlamentar. O caso foi julgado improcedente e o ex-prefeito foi condenado a pagar 7 500 reais de honorários e de custas. Coube recurso e a ação ainda permanece em tramitação (na segunda instância).

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Ainda no campo judicial, na última semana, o Ministério Público pediu a quebra do sigilo fiscal do vereador, sob a acusação de enriquecimento ilícito. Segundo a denúncia, ele fez movimentações financeiras incompatíveis com sua renda.

A Justiça negou a quebra, dizendo que o parlamentar nunca se negou a abrir sua vida financeira. O promotor do caso fez pesquisas para saber se Camilo possui aviões ou barcos, mas só encontrou sua coleção de dezesseis Fuscas.

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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de junho de 2022, edição nº 2792

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