Arquivo Público de São Paulo quer quadruplicar acervo digital
Documentos da ditadura, do Condephaat e do Complexo Hospitalar do Juquery são exemplos do que poderá ser encontrado no repositório online
O Arquivo Público do Estado de São Paulo quer quadruplicar o número de itens em seu acervo on-line. Hoje, tem cerca de 1,3 milhão de arquivos digitalizados e a meta inicial são 4,5 milhões até o início de 2023, com o objetivo de que o acervo seja continuamente digitalizado em até três anos. Além de ampliar as bases que já têm alguns exemplares na internet — como a lista de imigrantes que chegaram ao Porto de Santos entre 1880 e 1950 e as fichas do Departamento de Ordem Política e Social (Deops), órgão de inteligência e repressão que funcionou sobretudo na ditadura militar —, serão digitalizados arquivos sobre o Complexo Hospitalar do Juquery, do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), da TV Tupi, do jornal Última Hora e registros históricos de obras públicas.
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O acervo é variado: inclui desde páginas do jornal abolicionista A Redempção, publicado em São Paulo no fim do século XIX, até registros de nascidos na extinta Maternidade São Paulo. Antigos anuários estatísticos (espécie de censo demográfico) de vários municípios, fotografias de diversos períodos e cartas trocadas durante a Revolução de 1924 são outros exemplos do que pode ser encontrado on-line. O documento mais antigo é o Inventário do Sapateiro Damião Simões, de 1578, que traz detalhes sobre os bens de um sapateiro da capital.
Thiago Nicodemo, historiador e coordenador do Arquivo Público, explica que esse esforço de digitalização até o início de 2023 visa a ampliar o acesso ao acervo, um dos mais completos do país, e também fortalecer a instituição para que ela vire uma grande gestora unificada dos documentos que o estado produz, fazendo um repositório inclusive daquilo que já nasce digital, para que não se percam no futuro.
Por isso, o local vai digitalizar documentos que antes estavam sob posse de outros órgãos, como é o caso dos arquivos do Manicômio do Juquery. “Esse projeto é superlegal, até porque o Instituto Moreira Salles, por exemplo, com frequência faz exposição com o que a gente tem. Recentemente, na exposição sobre a Carolina Maria de Jesus, foram noventa fotos nossas. É importante que a gente use o próprio acervo de uma forma mais inteligente”, afirma. Ele considera documentos ali guardados também uma ferramenta democrática. “É um órgão que garante a autenticidade da informação para o futuro, para que ela possa ser um vetor para reconhecer e garantir direitos. Muitos dos casos do Deops e da imigração envolvem os direitos de pessoas pela memória ou pelo reconhecimento de alguma responsabilização do Estado.” Acesse em www.arquivoestado.sp.gov.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816
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