Arq. Futuro discute melhorias para São Paulo
Evento de arquitetura discute projetos do exterior que poderiam ser adaptados por aqui
Com 19,9 milhões de habitantes, a Grande São Paulo é a sexta maior região metropolitana do mundo, atrás de Tóquio (37,2 milhões), Nova Délhi (22,6 milhões), Cidade do México (20,4 milhões), Xangai (20,2 milhões) e Nova York (20,3 milhões). Os desafios que se apresentam na gestão pública para lidar com essa realidade foram abordados no simpósio Arq. Futuro, realizado na semana passada no Auditório Ibirapuera, com a organização do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Na última segunda (24), em um evento paralelo à reunião, uma mesa-redonda formada por grandes especialistas no tema debateu como algumas iniciativas implementadas em diferentes locais do mundo poderiam ser adaptadas por aqui. Participaram do encontro nomes como o chileno Alejandro Aravena, vencedor do leão de Prata na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2008, e os americanos Thaddeus Pawlowski, urbanista do Departamento de Planejamento de Nova York, e Carlo Ratti, diretor do Centro de Estudos do Ambiente Urbano do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
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Os projetos bem-sucedidos ligados à mobilidade urbana ocuparam um espaço privilegiado na agenda de debates. Embora seja impossível implementar a curto prazo em São Paulo um sistema como o das balsas que fazem o transporte de passageiros ao redor da Ilha de Manhattan, em Nova York, outras soluções poderiam ser aproveitadas por aqui. Considerado uma das ideias mais inovadoras do mundo na área, o Transmilênio, como foi batizado o sistema de ônibus implantado em 2000 na cidade de Bogotá, é um exemplo disso. Ônibus articulados circulam em faixas segregadas, com paradas em estações modernas e equipadas com catracas eletrônicas, em moldes parecidos ao do projeto pioneiro criado em Curitiba, durante a gestão de Jaime Lerner na prefeitura da capital paranaense. Hoje, o serviço oferecido em Bogotá é utilizado diariamente por 1,7 milhão de passageiros e conta com uma frota de mais de 1.000 veículos no eixo principal do sistema. “Metrópoles com renda per capita inferior a 30.000 dólares, como é o caso de São Paulo, deveriam privilegiar investimentos semelhantes, em vez de gastar dinheiro na expansão do metrô, que consome muito mais recursos”, afirma Alejandro Aravena. “Quando não há dinheiro sobrando, é preciso priorizar a solução com a melhor relação custo-benefício.”
Outra iniciativa para amenizar o nó do trânsito é o emprego intensivo da tecnologia. “Precisamos de menos asfalto e mais silício”, diz Carlo Ratti. Segundo sua proposta, num futuro bem próximo os motoristas poderão coletar informações em tempo real das vias mais congestionadas e receber sugestões de caminhos mais rápidos para chegar em casa, tudo pela tela do celular. “Os governantes precisam se conscientizar desde já de que é necessário melhorar a infraestrutura digital das cidades.” Um projeto piloto mostrando as possibilidades desse tipo de integração está sendo desenvolvido em Singapura.
Um transporte público eficiente representa um item fundamental na qualidade de vida numa metrópole, mas há outros aspectos que devem ser levados em consideração. Reaproveitar espaços públicos obsoletos é um deles. Em Nova York, um caso de sucesso foi o High Line Park, parque público construído numa linha férrea desativada sobre um elevado no West Side de Manhattan.
Projetos semelhantes podem ajudar a resolver o principal dilema de São Paulo nos dias de hoje. De polo industrial do Brasil no século XIX, a cidade, ao longo dos últimos anos, viu sua vocação mudar e se transformou num centro de serviços. Nessa nova realidade, vários dos enormes terrenos que no passado serviram às fábricas se tornaram verdadeiros elefantes brancos da administração pública — e polos de atração de usuários de drogas e marginais.