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Aprendiz de cozinheiro

Sempre gostei de mexer com as panelas. Aprendi a cozinhar intuitivamente. Tive a fase em que me esbaldava nos temperos. Houve momentos de desespero, como a noite em que passei um serrote na parte queimada de um bolo instantes antes de as visitas chegarem. Para depois cobri-lo com tal quantidade de chantilly que ninguém percebeu […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • Sempre gostei de mexer com as panelas. Aprendi a cozinhar intuitivamente. Tive a fase em que me esbaldava nos temperos. Houve momentos de desespero, como a noite em que passei um serrote na parte queimada de um bolo instantes antes de as visitas chegarem. Para depois cobri-lo com tal quantidade de chantilly que ninguém percebeu – ou comentou – a tragédia. Cada vez que ia para a cozinha, sujeitava os amigos a uma experiência imprevisível. Como quando comprei um galo pensando que era um frango turbinado e, após horas de cozimento, pedi uma pizza!

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    Recentemente, recebi por e-mail o anúncio de um curso de risotos. “É o tipo de prato ideal”, pensei. “Depois de aprender, é só variar o sabor.” Fui. Era uma escola tradicional de culinária em Pinheiros. A professora ensinava atrás de um grande balcão com fogão, panelas, utensílios. Nós, os alunos, sentávamos em três fileiras. Olhei em torno, tímido. O número de homens e mulheres era aproximadamente o mesmo. Desde donas-de-casa até profissionais da culinária. Sujeitos como eu, que queriam receber os amigos. Todos meio sem jeito no começo e relaxando enquanto a professora, descontraída e simpática, revelava os segredos.

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    – O vinho é colocado logo no começo. Só depois vem o caldo…

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    Ensinou quatro tipos de risoto, caldos, pequenos truques. A cada receita, um tempo para degustar. Hummmm…. risoto de camarão, de tomate, de frutas cítricas, de presunto… e pratinhos na mão, taças de vinho… mais pratinhos, mais taças… Muito diferente das aulas de matemática do colégio! Um aluno confessou:

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    – O último risoto que tentei fazer dava para usar como massa corrida de parede!

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    Relaxei! Meu maior desastre fora uma compota de figos que colava nos dentes e arrancou o pivô de uma convidada. Ah, sim, teve também a sopa de milho com conhaque e pimenta que fez todos gritar com a garganta em chamas! Abandonei as lembranças nefastas. Prestei atenção na aula. Dias depois, liguei para um amigo.

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    – Quer ser minha cobaia, Gabriel?

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    Após uma longa pausa, veio “aceito!”, dito em voz baixa. Satisfeito, chamei mais duas vítimas.

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    No sábado, me instalei diante do fogão. Os três esperavam na sala, aterrorizados. Aos poucos, resolveram participar.

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    – Não tem muito caldo?

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    – Não é hora de colocar o tomate?

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    Se um cirurgião sofresse tantos palpites quanto um cozinheiro, o que seria dos pacientes? Rugi:

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    – Fora, fora da cozinha!

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    – É um almoço ou uma guerra?

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    Um dos segredos, avisara a professora, é servir o risoto no instante em que fica pronto. Se demorar, desanda. Ao apagar o fogo, descobri que todos estavam diante da televisão.

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    – Está na mesa.

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    – Só um instante… Vai, vai, é gol, é gol!

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    – Venham ou atiro o risoto na cabeça de vocês!

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    Sentaram-se de cara amarrada. Ergui a tampa, e o aroma espetacular do camarão inundou a sala. Vinho. Cada um provou uma garfada. Esperei com o coração batendo forte. Os rostos inexpressivos. Finalmente, gemi.

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    – Está bom?

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    Mal responderam. Continuavam comendo. Repetiram. Finalmente, Rob confessou.

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    – A gente não acreditava que ia dar certo! Mas está incrível. Agora você vai ficar insuportável de tão exibido!

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    Da próxima vez, querem o de tomate. Uma única noite de aula, e minha vida no fogão é outra! Estou prestes a me inscrever em um novo curso. É uma delícia cozinhar para os amigos. E receber os aplausos, é claro! Sinceramente, eu já me sinto um chef!

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