Após acúmulo de lixo hospitalar, Santa Casa retoma coleta
Na semana passada, VEJA SÃO PAULO divulgou que o hospital havia deixado de pagar a empresa responsável pelo recolhimento, e o serviço foi suspenso
Após 60 toneladas de lixo hospitalar se acumularem pelos corredores do 1º andar da Santa Casa, na Santa Cecília, devido à suspensão da coleta por quase um mês, a instituição informou na noite de terça-feira (14) que o problema foi resolvido.
A entidade encaminhou fotos a VEJA SÃO PAULO apontando que os ambientes estavam limpos e que todos os resíduos já haviam sido recolhidos. “Gostaríamos de demonstrar nosso comprometimento em tentar resolver o problema”, disse a instituição por meio de nota.
Na última sexta-feira (10), a reportagem divulgou que a Santa Casa havia deixado de pagar a empresa Mir Ambiental, responsável pela coleta do material, e o serviço foi suspenso.
Imagens obtidas com exclusividade mostravam o ambiente tomado de sacos plásticos contendo seringas, curativos, agulhas, material cirúrgico e sobras de medicamento. São resíduos perigosos, que podem provocar contaminação e transmitir doenças.
A empresa de coleta ficou sem receber 30 000 reais relativos a um contrato mensal que também envolvia o Hospital São Luís Gonzaga, no Jaçanã, que é administrado pela Santa Casa. A falta de pagamento já havia acontecido em 2016, por um período de oito meses, e o caso só foi resolvido em dezembro.
Segundo a nota da Santa Casa, houve um “impasse temporário” nos trâmites com a empresa prestadora dos serviços, e que, por isso, a coleta foi interrompida. “As negociações para chegar a uma solução comum foram concluídas em 9 de fevereiro”, diz o texto. A instituição afirma ainda que não houve impacto na operação do hospital.
CRISE FINANCEIRA
Maior hospital filantrópico do país, a Santa Casa atende cerca de 730 000 pacientes por ano só no prédio da Santa Cecília. Entre 2009 e 2013, o patrimônio líquido da entidade caiu de 220 milhões de reais para meros 323 000 reais. A dívida acumulada chegou a aproximadamente 520 milhões de reais.
A gravidade da situação ficou clara em julho de 2014, quando o pronto-socorro do Hospital Central, que só presta serviços pelo SUS, fechou as portas por 28 horas. O então provedor, o advogado Kalil Rocha Abdalla, disse à época que fornecedores teriam se recusado a entregar insumos devido a pagamentos não quitados. A reabertura aconteceu apenas depois que o governo estadual se comprometeu a fazer um repasse emergencial de 3 milhões de reais.
Em 2016, a instituição começou a sair da crítica saúde financeira em que se encontrava. Com a nova gestão do médico José Luiz Setúbal, que teve início em 2015, foi necessário demitir 1 500 funcionários, dos quais 184 eram médicos, que representavam 12% da folha de pagamento. O corte teve como objetivo economizar 10 milhões de reais por mês. Os contratos com fornecedores foram revistos e houve mudanças em toda a hierarquia, o que acabou com descalabros como a descentralização de gastos.