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A Câmara ficou melhor

A votação não elegeu tiriricas e trouxe alguns nomes bem preparados

Por Daniel Bergamasco e Mariana Barros
Atualizado em 1 jun 2017, 18h05 - Publicado em 11 out 2012, 20h29
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  • Com uma série de debates risíveis em pauta, como a criação do Dia do Orgulho Hétero, várias denúncias de corrupção e acusações de fraude no controle de presença, a atual legislatura da Câmara se aproxima do fim sem o menor risco de deixar saudade. A alta taxa de renovação imposta nas urnas, de 40% dos integrantes (ante 29% em 2008), representou uma clara resposta da população a esse fraco desempenho. Outro indicador foi a classificação do atual presidente da casa. Por pouco, José Police Neto (PSD) não ficou de fora: com 28.278 votos, agarrou a última das 21 vagas conquistadas por sua coligação. “O cargo acabou sendo um fardo para mim”, queixa-se. “Ao trazer transparência, revelando, por exemplo, todos os salários, só levei paulada na mídia.” O perfil dos vereadores estreantes também é emblemático e ajuda a traçar um retrato das aspirações dos paulistanos. Enquanto barrou alguns engodos e figuras folclóricas que tentavam arrumar uma boquinha em nosso Legislativo, o eleitor optou, em vários casos, por nomes que são boas promessas para aprimorar o nível dos projetos e discussões. Campeão de votos entre os estreantes, o tucano Andrea Matarazzo é um deles. Já ocupou os cargos de embaixador na Itália, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo Fernando Henrique Cardoso e secretário estadual de Cultura, entre outros. Como secretário municipal de Subprefeituras de 2006 a 2009, relata, viu de perto os vícios da Câmara. “Leis inadequadas podem emperrar o bom funcionamento da cidade”, afirma.

    Andrea Matarazzo (PSDB); Ari Friedenbach (PPS); Conte Lopes (PTB); Edemilson Chaves (PP); Eduardo Tuma (PSDB); George Hato (PMDB); Jair Tatto (PT); Jean Madeira (PRB); Laércio Benko (PHS); Mario Covas Neto (PSDB); Ota (PSB); Patrícia Bezerra (PSDB); Reis (PT); Ricardo Nunes (PMDB); Ricardo Young (PPS); Telhada (PSDB); Toninho Vespoli (PSOL); Vavá dos Transportes (PT)

    Nabil Bonduki (PT); Nelo Rodolfo (PMDB); Rubens Calvo (PMDB); Paulo Fiorilo (PT)

    Adilson Amadeu (PTB); Alfredinho (PT); Antonio Carlos Rodrigues (PR); Arselino Tatto (PT); Atílio Francisco (PRB); Aurélio Miguel (PR); Aurélio Nomura (PSDB); Celso Jatene (PTB); Claudinho (PSDB); Dalton Silvano (PV); David Soares (PSD); Donato (PT); Edir Sales (PSD); Eliseu Gabriel (PSB); Floriano Pesaro (PSDB); Gilberto Natalini (PV); Gilson Barreto (PSDB); Goulart (PSD); José Américo (PT); Juliana Cardoso (PT); Marco Aurélio Cunha (PSD); Marta Costa (PSD); Milton Leite (DEM); Netinho de Paula (PCdoB); Noemi Nonato (PSB); Paulo Frange (PTB); Police Neto (PSD); Ricardo Teixeira (PV); Sandra Tadeu (DEM); Senival Moura (PT); Souza Santos (PSD); Toninho Paiva (PR); Tripoli (PV)

    OS QUE DEIXAM O PALÁCIO ANCHIETA

    Abou Anni; Adolfo Quintas; Agnaldo Timóteo; Anibal de Freitas; Attila Russomanno; Chico Macena; Claudio Fonseca; Claudio Prado; Francisco Chagas; Ítalo Cardoso; Jamil Murad; José Ferreira (Zelão); José Rolim; Juscelino Gadelha; Milton Ferreira; Quito Formiga; Ushitaro Kamia; Wadih Mutran

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    Carlos Apolinario (PMDB); Carlos Neder (PT); Fernando Estima (PSD); Tião Farias (PSDB)

    Ricardo Young (PPS) - Vereador - Eleições
    Ricardo Young (PPS) – Vereador – Eleições ()

    Tal vivência será útil em um desafio prioritário: a reformulação do Plano Diretor, que define, por exemplo, os limites de verticalização dos bairros. Relator do plano original, o arquiteto Nabil Bonduki (PT) é outro beneficiado pela busca por candidatos com estofo. Doutor em urbanismo pela USP, instituição em que é professor, teve passagem elogiada pela Câmara entre 2001 e 2004 (é dele o projeto que determina que as moradias populares municipais fiquem no nome das mulheres). Volta agora à Casa graças à conquista de mais de 40.000 votos. Um de seus colegas será o empresário Ricardo Young (PPS), pós-graduado em administração pelo Ibmec, ex-presidente do Instituto Ethos e cofundador do Movimento Nossa São Paulo.

    No plenário, pessoas com esse perfil tomarão o lugar de figuras como o cantor Agnaldo Timóteo (PR), Zelão (PT), que registrava na Casa a maior taxa de projetos considerados “sem relevância”, e Wadih Mutran (PP), com três décadas de Palácio Anchieta, adepto assumido da prática do clientelismo político, com expedientes como a distribuição de muletas aos eleitores. Entre os novatos barrados, figuram candidatos como Orlando Silva, afastado do Ministério do Esporte por acusações de desvio de verbas, e todas as subcelebridades, como a Mulher Pera e sua voluptuosa plataforma. No balanço pós-7 de outubro, o PMDB saiu-se bem: multiplicou suas cadeiras, de uma para quatro. Já as coligações apoiadoras dos prefeituráveis José Serra e Fernando Haddad no primeiro turno não serão suficientes para livrar nenhum dos dois de negociar a obtenção da maioria em caso de vitória (veja os números abaixo).

    Número de vereadores, segundo a tendência de apoio de suas coligações:

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    Base no 1º turno: 16 (PP; PT; PSB e PCdoB)

    Alianças no 2º turno: 4 (PMDB)

    Base no 1º turno: 25 (PR; DEM; PSDB; PSD e PV)

    Alianças no 2º turno: 2 (PPS); 4 (PTB)

    4 vereadores (PHS*; PSOL* e PRB)

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    *O partido não havia anunciado apoio até quarta-feira (10)

     

    Nas bandeiras vitoriosas na eleição, há espaço até para uma bancada pet, de defensores dos animais. Eleito pela sétima vez, Roberto Tripoli (PV) tornou-se o primeiro em votos (132.313) depois que um projeto seu possibilitou a criação de um hospital público voltado a bichos, no Tatuapé. Para reforçarem o feito na campanha, os cavaletes, em vez de sua imagem, traziam a de um cachorrinho. Plataforma semelhante ajudou ao menos mais dois a chegar lá: George Hato (PMDB) e Nelo Rodolfo (PMDB). As igrejas evangélicas também saem vitoriosas. Com o crescimento dos fieis no total da população paulistana (entre 1991 e 2000, seu contingente, que era de 232.000, passou para 2,5 milhões), o número de vereadores com base religiosa subiu de sete para onze.

    Mas nenhum outro recado se mostra tão forte quanto a escolha de candidatos ligados diretamente a questões de segurança. Dois deles ficaram conhecidos depois do brutal assassinato de seus filhos em casos que revoltaram a cidade. Masataka Ota (PSB) perdeu em 1997 o garoto Ives, de 8 anos, morto com dois tiros no rosto em um sequestro. Liana, filha de Ari Friedenbach (PPS), tinha 16 quando foi violentada e morta a facadas, depois de seu namorado ser assassinado. Mais controversa é a formação da já apelidada “bancada da bala”, com três nomes. Os primeiros são o Coronel Telhada (PSDB) e Conte Lopes (PTB), que ocuparam altos cargos na Rota. Outras semelhanças entre eles são a postura e o discurso para lá de polêmico. Lopes já assumiu ter matado mais de 100 pessoas em confrontos nas ruas. “Chega de ficar calado ouvindo o pessoal criticar a polícia e glamourizar o bandido”, afirma Telhada. Aos dois deverá se juntar o coronel Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante da PM, herdeiro da vaga de Antonio Carlos Rodrigues (PR), que está no Senado graças à nomeação de Marta Suplicy (PT) para o Ministério da Cultura. Não há dúvida de que a segurança é uma preocupação crescente dos paulistanos. Na comparação entre pesquisas do Instituto Datafolha feitas em 2008 e 2012, o tema pulou do sétimo para o segundo lugar na lista de maiores problemas da cidade, ficando atrás apenas de ruas esburacadas. A atuação municipal é limitada na área, mas, com ideias pertinentes, mudanças são possíveis, através de parcerias, por exemplo.

    Graças ao voto mais consciente dos paulistanos, a composição da Câmara melhorou. Passada a eleição, o importante é que o nome dos 55 vereadores não seja esquecido. Cabe agora ao eleitor acompanhar sua atuação, cobrar os compromissos que eles assumiram e exigir que desempenhem o mandato com honestidade, seriedade e competência.

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    AS MARCAS DO PLENÁRIO

    Hoje – 8 vereadores

    Após a posse – 11 vereadores

    Universal: Atílio Francisco, Souza Santos (reeleitos) e Jean Madeira (ingressante)

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    Igreja da Graça: David Soares, Sandra Tadeu (reeleitos) e Patrícia Bezerra (ingressante)

    Bola de Neve: Eduardo Tuma (ingressante)

    Mundial: Pastor Edemilson Chaves (ingressante)

    Assembleia de Deus: Marta Costa (reeleita)

    Apoio múltiplo: Noemi Nonato e Edir Sales (reeleitos)

    Hoje – 1 vereador

    Após a posse – 5 vereadores

    Coronel Telhada, Conte Lopes – capitão aposentado, Coronel Camilo – suplente, Reis – investigador (ingressantes) e Celso Jatene – ex-delegado (reeleito)

    Hoje –  5 vereadores

    Após a posse – 5 vereadores

    Aurélio Miguel e Marco Aurélio Cunha – São Paulo; Goulart e Toninho Paiva – Corinthians; Celso Jatene – Santos (reeleitos)

    Hoje – 1 vereador

    Após a posse –  3 vereadores

    Tripoli (reeleito), George Hato e Nelo Rodolfo (ingressantes)

    ELES QUEBRARAM A CARA

    Nomes que chamaram atenção na campanha, mas ficaram de fora

    Orlando Silva - Eleições
    Orlando Silva – Eleições ()

    O ex-ministro do Esporte, que perdeu o cargo após acusações de desvio de verbas para ONGs, foi derrotado, com 19.739 votos

    O ex-jogador do Corinthians irritou Tite, o atual técnico do clube, ao usar na TV um depoimento de apoio que deveria passar apenas na internet. Nem assim conseguiu emplacar


    Marquito - Programa do Ratinho - Eleições
    Marquito – Programa do Ratinho – Eleições ()

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    Com 22.198 votos, o participante do Programa do Ratinho “esperava ter 200.000”, mas ainda tem chances de assumir uma cadeira: é o primeiro suplente da coligação PTB/PRB, que soma seis vereadores

    O marido da apresentadora Ana Maria Braga só convenceu 4.269 eleitores

    Vereador conhecido como um dos “cavaleiros de Pitta”, ficou anos preso por envolvimento na Máfia dos Fiscais e passou longe de retomar o cargo, com 4.022 votos

    Serginho ex-BBB - Eleições
    Serginho ex-BBB – Eleições ()
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