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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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“Ficção” quebra crescente diálogo da Cia. Hiato com o público

Em 2007, o cineasta Eduardo Coutinho produziu o documentário “Jogo de Cena”. Diante da câmera, as atrizes Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra, além de alguns outros rostos desconhecidos, dramatizam histórias colhidas entre duas dezenas de entrevistadas. O espectador permanece na dúvida sobre quais declarações são reais ou mera representação e, nesse enigma, consiste […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h58 - Publicado em 18 out 2012, 20h49

Thiago Amaral e Fernanda Stefanski estreitam limites entre ficção e realidade (Fotos: Otávio Dantas)

Em 2007, o cineasta Eduardo Coutinho produziu o documentário “Jogo de Cena”. Diante da câmera, as atrizes Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra, além de alguns outros rostos desconhecidos, dramatizam histórias colhidas entre duas dezenas de entrevistadas. O espectador permanece na dúvida sobre quais declarações são reais ou mera representação e, nesse enigma, consiste o fascínio do filme. Em nova montagem, a Cia. Hiato, liderada pelo dramaturgo e diretor Leonardo Moreira, também recorre aos limites entre a vida e a criação artística. Em cartaz no Sesc Pompeia, o espetáculo “Ficção” é formado por seis monólogos, apresentados dois a dois a cada noite, construídos com base em referências biográficas – familiares e profissionais – de cada um dos atores.

Sopro de renovação no teatro paulistano com os espetáculos “Cachorro Morto” (2008), “Escuro” (2009) e “O Jardim” (2011), os dois últimos ótimos, a Cia. Hiato chamou atenção pela sofisticação dramatúrgica em meio a encenações provocativas para o elenco e também para a plateia. Esse mesmo desafio reaparece no novo trabalho. A ousadia, porém, de levar o confessional ao extremo resulta em uma quebra do crescente diálogo que, sem abrir mão do requinte, o grupo gradualmente construiu com o público. Apenas dois dos seis solos cumprem – e, nesses dois, casos, primorosamente – o objetivo de abolir a percepção entre ator e personagem, fundindo invenção e memória. Os demais pecam pela irregularidade e por histórias de restrito interesse sem estabelecer uma dramaturgia que lhes diferencie de um mero relato.

Luciana Paes arrebata no melhor monólogo do projeto, fundido suas histórias com as de Frida Kahlo

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Melhor atriz do grupo – e uma das principais de sua geração –, Luciana Paes promove a catarse ao confundir o espectador. Ela relaciona tragédias reais envolvendo a artista plástica mexicana Frida Kahlo com acidentes que marcaram sua própria história e também com a assumida insegurança ao abraçar um personagem ou dar passos transformadores na vida. Ápice do conjunto, o solo de Luciana encontra equivalência apenas no monólogo de Thiago Amaral. O ator provoca a comoção ao transformar um tema delicado em comédia, a difícil aceitação do pai, Dilson (presente em cena), diante de suas escolhas de vida. Caracterizado como um coelho, Thiago faz uma analogia entre o mamífero e os humanos e convida Dilson a se inserir no mundo do teatro, não apenas interpretando como escrevendo uma história sobre coelhos rebeldes.

A relação mãe e filha norteia a encenação de Maria Amélia Farah, que mistura sem muita inspiração as tradições da família muçulmana aos ensinamentos da dança do ventre, que apresenta ao vivo. Ali, quase nada parece verdade, apesar do esforço e da probalidade de muitas coisas serem. Pouco mais interessante – e também bem mais pretensiosa – é a proposta de Aline Filócomo. Ela busca na constante missão de ofício em reproduzir o comportamento alheio o elo para falar da relação com sua irmã, Milena. A atriz confessa sempre tê-la imitado vida afora, inclusive ao optar pelo palco, e também a viu desistir de muitos dos seus objetivos, enquanto a própria persistia. Repleto de citações teatrais, o solo acaba dispersando quem não tem intimidade com o teatro.

A atriz Maria Amélia Farah, tradição familiar e dança do ventre

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Mas são as atrizes Fernanda Stefanski e Paula Picarelli que elaboraram as apresentações mais equivocadas. A primeira reconstitui a história de um tio falecido e sua mulher com os quais não conviveu e logo promove um distanciamento que quebra a unidade do projeto. Paula, por sua vez, optou pelo fio da navalha e se expõe profundamente ao repassar sua carreira, a projeção alcançada na novela “Mulheres Apaixonadas” (2003) e situações da vida doméstica e familiar. No formato de uma entrevista consigo mesma, Paula atinge o impacto de uma sessão de terapia, principalmente ao se assumir invejosa diante do sucesso alheio, mas carece de efeito teatral parar solidificar sua peça.

Paula Picarelli, entrevista consigo mesma e inabilidade com o sucesso na Globo

As atrizes Luciana Paes e Paula Picarelli apresentam-se nas terças e sábados, às 21h. Nas quartas, às 21h, e domingos, às 19h, têm vez os solos de Maria Amélia Farah e de Thiago Amaral. Aline Filócomo e Fernanda Stefanski encenam nas quintas e sextas, às 21h. Até 4 de novembro.

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Aline Filócomo: arte de imitar os outros na vida e na própria arte

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