Os exemplos bem-sucedidos de mulheres entre os 60 e 80 anos
Seis profissionais que superaram obstáculos e continuam em constante mudança
Há três anos, Sonia Hess, 63, quis se transformar. Após tornar a Dudalina (empresa da família, na qual foi balconista) uma referência de moda, com vendas anuais de 500 milhões de reais, trocou a presidência pelo terceiro setor. Saiu da empresa e hoje atua em locais como o Instituto Ayrton Senna. “Mudar dá frio na barriga, mas era hora de ajudar a sociedade”, acredita.
A funcionária pública Valéria Ribeiro, 77, passou três semanas de camisola em casa após se aposentar, em 2000. “Levei um chacoalhão da minha filha para seguir a vida”, conta. Hoje faz cursos de literatura e filosofia, é apaixonada por Sócrates e prega a máxima “quem tem o conhecimento tem uma nesga de loucura”. O próximo delírio? “Planejei uma viagem para acompanhar a colheita da lavanda em Provence (França).”
“Parar de trabalhar? Nem pensar!”, diz a arquiteta Angélica Primi, 64, especialista em mobiliários corporativos. Formada em 1977 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, ela se vangloria de nunca ter passado um dia fora do mercado. Outro orgulho é o fôlego: corre há 48 anos e segue o pelotão feminino da São Silvestre desde 1975, ano de estreia das mulheres na prova. Quatro vezes por semana, percorre 12 quilômetros. “O segredo é nunca parar.”
De família tradicional paulistana, Maria Alice Nogueira é filha do produtor rural Ruy Lara Nogueira, um dos fundadores da Sociedade Harmonia de Tênis. Foi modelo do estilista Dener na adolescência, estampou capas de revista como O Cruzeiro e trabalhou até se casar, aos 21 anos, com o jogador de polo Décio Novaes. Hoje, aos 80 anos, tem analisado convites para retomar a carreira. Recebe o apoio dos quatro filhos do relacionamento, que durou vinte anos. Se ficou amargurada após a separação? “De jeito nenhum, tenho vários namorados. Adoro!”
Aos 16 anos, Marilu Beer, 79, fez um teste para integrar o elenco do Teatro Oficina. “Peguei a vaga, e olha que concorri com Dina Sfat (premiada atriz morta em 1989)”, orgulha-se. Por preconceito contra artistas, o pai lhe proibiu a carreira. Mas não conseguiu impedi-la de pintar. No colégio estadual Presidente Roosevelt, no Parque Dom Pedro, ficou amiga de Ruy Ohtake. “Frequentava as bienais de arte ao lado de Tomie Ohtake e me encontrei nesse universo”, conta. Na adolescência, fugiu de casa e seguiu a vocação. Hoje, acorda às 6h30 para pintar. “Planejo uma nova exposição.”
Em 31 de agosto de 2001, em seu aniversário de 47 anos, Cintia Grillo, 64, perdeu seu único filho, o cineasta Rodrigo Hammen, de 26, em um acidente de carro no Brooklin. “Minha vida paralisou, e não conseguia mais atuar”, diz a modelo e atriz, que ficou famosa na década de 70 como uma das Dzi Croquettas, espécie de versão feminina dos Dzi Croquettes. Trocou testes por peregrinações religiosas. Em 2014, de volta à cidade, decidiu tentar novas atividades, e hoje se realiza como vendedora de peças de decoração de alto luxo. “Não posso dizer ‘superei’, mas reencontrei meu rumo”, conta.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de março de 2019, edição nº 2625.