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Conheça a história de Talita Oliveira, a ex-militante da “cura gay” que voltou a ser travesti

O gorro cinza protege do frio de 7ºC de Reisensburg, na região alemã da Bavária, e esconde os cabelos curtos de Talita Oliveira. Desde outubro, ela se refugia na Alemanha. Sente-se perseguida por pessoas do movimento LGTB e também por evangélicos. Até julho, ela era conhecida como militante da “cura gay”, percorreu diversos programas de […]

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 26 fev 2017, 14h17 - Publicado em 5 nov 2015, 19h33
Talita Oliveira buscou refúgio na Alemanha para se proteger de ameaças de evangélicos e de militantes do movimento LGTB (Foto: Reprodução Facebook)

Em outubro, Talita Oliveira diz ter buscado refúgio na Alemanha para se proteger de ameaças de evangélicos e de militantes do movimento LGTB (Foto: Reprodução Facebook)

O gorro cinza protege do frio de 7ºC de Reisensburg, na região alemã da Bavária, e esconde os cabelos curtos de Talita Oliveira. Desde outubro, ela se refugia na Alemanha. Sente-se perseguida por pessoas do movimento LGTB e também por evangélicos. Até julho, ela era conhecida como militante da “cura gay”, percorreu diversos programas de televisão e eventos, vários deles acompanhada pelo pastor e deputado federal Marco Feliciano.

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Travesti desde a adolescência, sob o nome social de Talita Sayeg, passou a frequentar no início de 2014 a Assembleia de Deus e reassumiu seu nome de batismo, Thiago Oliveira. Cortou as longas madeixas, passou a usar roupas masculinas e tirou as próteses de silicone. Nessas múltiplas metamorfoses, buscava se firmar no emprego de cabeleireira (ela diz que se prostituiu algumas vezes, porque brasileiros não dão empregos a transexuais) e, acima de tudo, queria aceitação da sociedade, dela mesma e até divina.

Depois de quase dois anos peregrinando pelo Brasil entre programas de televisão e igrejas evangélicas, chegou à seguinte conclusão: “Não existe cura gay! Não existem “ex gays”! Tudo é conveniência, medo e pressão psicológicas das pessoas (…) Abandonei a congregação, recolhi-me e calei-me nas redes sociais. Dei um basta em tanta mentira e falsidade. Cansei de ser usado por pessoas como ele (referindo-se ao deputado Marco Feliciano), que desejavam ter somente um estandarte ‘ex gay’ para uma causa a qual ele nem mesmo compreende”, escreveu em sua página no Facebook.

Em fevereiro de 2014, na praia de Tramandaí, antes de se submeter à "cura gay" (Foto: Reprodução Facebook)

Em fevereiro de 2014, na praia de Tramandaí, antes de se submeter à “cura gay” (Foto: Reprodução Facebook)

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A seguir, o relato de sua trajetória de confrontos, buscas e preconceitos, que postou para seus amigos em sua página no Facebook:

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“Olá gente, como estão vocês? Passei um tempo apenas observando todo o movimento por aqui, esperando a melhor ocasião para lhes contar tudo o que passei e como estou no momento.

Como todos já sabem fui uma pessoa descoberta depois de vídeos dando minhas opiniões sobre os movimentos LGBT’s e sempre defendendo pautas em favor da família.

Andei muito durante todo esse tempo e grandes coisas aconteceram. Tornei-me evangélico, participei de programas de televisão, viajei para várias cidades do Brasil, mudei radicalmente meu visual e entreguei meu coração ao povo brasileiro e sobretudo a Deus.

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Entretanto durante esse 1 ano de jornada, deparei-me com fatos e situações que simplesmente não posso ignorar ou deixar para trás.

Após a divulgação dos meus vídeos e tendo em vista o conteúdo deles, comecei a ser ameaçado por vários membros de movimentos e coletivos de esquerda. Foram inúmeras mensagens de cunho extremamente agressivo, ameaças de morte e agressão, já que meus posicionamentos contrariavam todas as ideologias defendidas por eles. Por eu ser também uma pessoa homossexual e ainda por cima uma travesti, esses militantes jamais poderiam deixar por menos. Eu os estava contrariando e isso foi um golpe forte demais que acabou abalando as estruturas dentro daquele contexto.

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Mesmo estando convicto dos meus valores e crenças, todo aquele assédio me deixou extremamente temoroso. Não tenho a menor vergonha de confessar que aquela situação me deixou apavorado! Eu tinha medo de andar pelas ruas de Porto Alegre, pois tinha a nítida impressão de que a qualquer momento, eu poderia sofrer algum atentado (encabeçado é claro pelos mais radicais).

Foi nessa hora que o destino começou a me surpreender. Muitos gays influenciados por essa militância esquerdista me viraram as costas. Os militantes me apedrejavam todos os dias em páginas, blogs e vlogs pela internet (muito tolerantes com a “diversidade” não é mesmo?) e eu me sentia cada vez mais acuado.

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Em setembro de 2013, apresentava-se Talita Sayeg (Foto: Reprodução Facebook)

Em setembro de 2013, apresentava-se Talita Sayeg (Foto: Reprodução Facebook)

As únicas pessoas que me abraçaram foram justamente os conservadores, direitistas, liberais, cristãos mas PRINCIPALMENTE os evangélicos! Foram inúmeras mensagens de apoio, carinho, compreensão e tendo em vista a minha solidão, tudo aquilo me tocava demais o coração, afinal de contas quem não gosta de ser abraçado em um momento de dor?

Mas ao mesmo tempo em que estes irmãos tão amáveis me acolhiam, muitos deles criticavam (ainda que sutilmente) o meu jeito de ser e meu estilo de vida. Diziam sempre que era possível mudar caso eu tivesse verdadeiramente amor e confiança em Deus. No início eu batia de frente e duvidava deles, sempre tive plena e total convicção da minha sexualidade mas ao ver tamanho apelo para que eu me “renovasse” segundo as palavras deles, resolvi me submeter de LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE à famigerada ‘cura gay’ (entre aspas, já que ser gay não é doença).

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Então foi aí que tudo andou de maneira radical. Modifiquei meu corpo todo: Cortei os cabelos, fiz cirurgia para remover minhas próteses de silicone, troquei minhas roupas por roupas masculinas, terminei meu relacionamento amoroso e resolvi me entregar totalmente à igreja. Até tentei namorar com uma mulher e não consegui. Ao contrário, eu cada vez que tentava me aproximar dela entendia que não gostava mesmo de mulher e que não nasci para ter um relacionamento heterossexual. Ela era uma garota linda e bem feita de corpo teria tudo para me seduzir mas simplesmente não consegui.

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Com o deputado Marco Feliciano, Talita passou a ser chamada de Tiago (Foto: Reprodução Facebook)

Com o deputado Marco Feliciano (Foto: Reprodução Facebook)

A partir deste momento foi que as coisas passaram a pesar. Dentro da igreja eu nunca fui verdadeiramente aceito.

Eu frequentava a Assembleia de Deus em POA. Minha presença gerava incômodo em muitos irmãos e irmãs (por isso minha pressa em mudar logo o meu visual). Eles não queriam tocar na minha mão, tinham profundo nojo de mim pelo fato de eu ser “ex gay”.

Em contrapartida, eu contava com o apoio de um deputado que possui ampla voz e influência dentro do meio evangélico. Este senhor me abraçou quando a coisa começou a ficar difícil pra mim, topou “comprar” a minha briga com os movimentos de esquerda que me assediavam e abriu as portas, não somente das igrejas, mas também de veículos de comunicação para que eu pudesse dar meu testemunho.

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Por mais que eu sentisse um clima um pouco hostil dentro da minha congregação, a estranheza não se fazia suficientemente grande para que eu abandonasse a religião naquele momento.

Porém, enquanto eu jejuava, orava, implorava a Deus que me tocasse e me libertasse totalmente da prática homossexual e sobretudo do desejo (o que não passava), comecei a ser confrontado com a realidade.

Com a cantora Sula Miranda, após um evento evangélico (Foto: Reprodução Facebook)

Com a cantora Sula Miranda, após um evento evangélico (Foto: Reprodução Facebook)

As situações mais absurdas aconteciam DENTRO e sob os olhos de toda a igreja, que permanecia omissa! Citarei alguns exemplos:

Existia um pastor casado há mais de TRINTA ANOS, que viveu em adultério durante TRÊS anos e mesmo assim foi jubilado dentro da igreja. Este homem ganhava um salário de 50 mil reais mensais e trocou a esposa adoentada, pela enfermeira que tomava conta dela. Eu estava participando de uma sessão de “cura e libertação” e em um certo momento, o pastor colocou a mão na minha cabeça com tanta brutalidade que eu caí no chão. Quando pedi para que ele parasse, o mesmo veio dizer que eu estava tomado por um “espírito de rebelião”.

Vi grupos de jovens de dentro da igreja mantendo relações homossexuais e sendo ACOBERTADOS por pessoas da congregação. Mas de mim, pelo fato de ser assumido eles tinham repúdio!

“Não existe cura gay! Não existem “ex gays”! Tudo é conveniência, medo e pressão psicológicas das pessoas”, diz Talita (Foto: Reprodução Facebook)

“Não existe cura gay! Não existem “ex gays”! Tudo é conveniência, medo e pressão psicológicas das pessoas”, escreveu Talita (Foto: Reprodução Facebook)

Muitas pessoas me aconselhavam que eu deveria dar meu testemunho nas igrejas, para que através disso eu alavancasse minha vida financeira! Mesmo que eu não acreditasse mais em nada daquilo, na visão deles eu deveria seguir em frente, afinal de contas eu atenderia o desejo midiático deles e rechearia meu bolso de dinheiro.

Quando eu comecei a de fato me rebelar com toda essa podridão e comecei a falar o que realmente pensava, recebi ameaças (de forma indireta) e fui coagido dentro da igreja. Mas o pior não é isso.

O mesmo político, que outrora me apoiou e me deu forças, viria me apunhalar quando eu mais precisei dele.

Numa certa audiência pública a qual fui convidado a comparecer em Brasília, eu não tinha recursos financeiros para pagar minha viagem (pois já havia passado 1 semana em um congresso em Curitiba) e fui pedir o auxílio dele. Foi nessa hora que ele me humilhou. Disse que não poderia custear e soltou a seguinte frase:

“Você no seu passado fez coisas horríveis com o seu corpo e agora por Deus você não pode fazer?”

"Eu fui infeliz sendo prostituta. Tendo que vender meu corpo para homens estranhos, homens que eu não desejava! Isso sim era o que me matava de angústia. Me prostituir para poder sobreviver já que o Brasil não oferece oportunidades de trabalho para travestis e transexuais", diz (Foto: Reprodução Facebook)

“Eu fui infeliz sendo prostituta. Tendo que vender meu corpo para homens estranhos, homens que eu não desejava! Isso sim era o que me matava de angústia. Me prostituir para poder sobreviver já que o Brasil não oferece oportunidades de trabalho para travestis e transexuais”, diz (Foto: Reprodução Facebook)

ESTE FOI O PONTO CRUCIAL! Foi simplesmente HORRÍVEL o que ele me falou! Eu estava fragilizado e chocado ao ver aquele homem que um dia me estendeu a mão, jogar meu passado na minha cara dessa forma! Um golpe baixíssimo, forte e certeiro contra minha dignidade. Afinal de contas ele sabia o que eu sentia em relação a isso.

Eu nunca fui infeliz sendo travesti. Eu nunca fui infeliz sendo homossexual.

Eu fui infeliz sendo  prostituta. Tendo que vender meu corpo para homens estranhos, homens que eu não desejava! Isso sim era o que me matava de angústia. Me prostituir para poder sobreviver já que o Brasil NÃO OFERECE oportunidades de trabalho para travestis e transexuais!

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Aquilo me corroeu por dentro pela última vez. Foi aí que realmente resolvi romper com tudo e todos. Abandonei a congregação, recolhi-me e calei-me nas redes sociais. Dei um basta em tanta mentira e falsidade. Cansei de ser usado por pessoas como ele, que desejavam ter somente um estandarte “ex gay” para uma causa a qual ele nem mesmo compreende.

Depois de algum tempo resolvi sair do Brasil e vir para a Europa. Estou me sentindo muito bem aqui. Sinto-me finalmente livre para dizer tudo aquilo que passei. Nada vai me calar. Neste momento estou vivenciando o que é realmente ter paz de espírito.

Deixei o Brasil por medo, insegurança, falta de oportunidades e para fugir de tanta gente hipócrita e oportunista com a dor do outro.

Digo abertamente a todos os LGBT’s que NÃO ME ARREPENDO de nada do que vivi.

No visual "joãozinho", no início deste ano (Foto: Reprodução Facebook)

Com o visual “joãozinho”, no início deste ano (Foto: Reprodução Facebook)

Eu tinha que me submeter a tudo o que me submeti. Eu tinha que experimentar na minha pele para chegar a mais óbvia das conclusões: Não existe cura gay! Não existem “ex gays”! Tudo é conveniência, medo e pressão psicológicas das pessoas.

Os homossexuais precisam ver e enxergar a sua realidade neste país. Os movimentos de esquerda nunca fizeram e nada fazem por nós. Continuo sendo contra todas as pautas defendidas por ele, já que em nada contribuem para a melhoria de vida das pessoas, muito pelo contrário! Continuarei defendendo a família, continuarei me considerando uma pessoa de direita, agora mais do que nunca, pois aprendi verdadeiramente o que é respeito às escolhas de cada indivíduo! Peço a vocês que abram seus olhos e que não se deixem seduzir por ideologias que os reduzem a meros rascunhos e caricaturas. ESTUDEM E PROCUREM A VERDADE, e a maior de todas é: O Brasil está do jeito que está por culpa da ESQUERDA! Esquerda essa que sempre FUZILOU homossexuais ao longo da história do mundo!

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Quero pedir perdão ao irmão que organizou a “vakinha” para recolher doações para me ajudar. Muito obrigado por tudo o que você fez por mim, se o decepcionei fico triste, mas não posso fingir ser algo que não sou.

Agradeço também ao professor Olavo de Carvalho, que foi um homem maravilhoso em minha vida. Me ajudou muito, me acolheu e fez com que eu voltasse a ter esperança e crença na bondade humana. Agradeço também aos seus alunos professor, já que também estiveram do meu lado sempre, independente da maneira como eu vivia ou como me apresentava.

"Deixo claro que jamais falarei mal das igrejas evangélicas de forma generalizada, pois a igreja pertence a Cristo e não ao homem", diz (Foto: Reprodução Facebook)

“Deixo claro que jamais falarei mal das igrejas evangélicas de forma generalizada, pois a igreja pertence a Cristo e não ao homem”, diz (Foto: Reprodução Facebook)

Peço a Deus que abençoe a cada um de vocês. Espero que tenham amor no coração e consigam enxergar toda a situação com carinho. Não foi fácil, mas ainda estou aqui, fortalecido na minha fé em Deus e torcendo por dias melhores para todos nós. Deixo claro que jamais falarei mal das igrejas evangélicas de forma generalizada, pois a igreja pertence a Cristo e não ao homem. Agradeço a todos os irmãos e irmãs de boa fé e peço que Deus os proteja muito e sempre!

Agora gostaria de me reapresentar a vocês:

Sou Talita Oliveira, prazer”

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