Conheça o Lo-Fi, estilo musical tranquilo que se destaca na quarentena
Com melodias melancólicas caracterizadas pelas repetições em loop, costuma ser procurado por quem busca focar os estudos ou relaxar e meditar
Mais calmas, muitas vezes em versões acústicas e instrumentais. Assim são as ondas musicais que têm se destacado nas plataformas de streaming. Na Deezer, a playlist Slow-fi, feita há pouco mais de um mês com faixas de lo-fi hip-hop, é uma das que andam conquistando ouvintes neste período de quarentena. Da mesma plataforma, Lo-Fi Hip-Hop entrou na lista das mais ouvidas no mundo. Com melodias melancólicas caracterizadas pelas repetições em loop, costuma ser procurada por quem busca focar os estudos ou relaxar e meditar. “O lo-fi em si não é o gênero, mas sim a forma de gravação”, explica o produtor Zeca Viana, responsável pela rádio Recife Lo-Fi. “Vem lá dos anos 80, com músicas feitas de gravações caseiras, que tinham ruídos do ambiente ou de falhas da mídia”, diz. Desse método, aparece um movimento mais atual, o lo-fi hip-hop, feito a partir de “colagens” de batidas musicais do hip-hop em especial dos anos 90, com andamentos mais lentos que lembram o jazz. “As batidas são lineares e, ao ficar no fundo, criam ambiente para tranquilizar ou se concentrar”, diz o professor de produção fonográfica Marcelo Conter, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Ainda dentro desse gênero, outras vertentes são exploradas, como as sad songs, que incluem vocais e letras, como faz o artista Konai. Conheça alguns dos destaques da cena e cinco boas seleções de faixas.
JOÃO DUTRA
Técnico de informação, o rapaz de 25 anos conheceu o lo-fi hip-hop pelo canal ChillCow, no YouTube. “Vi que era simples de produzir também e comecei a fazer em casa”, conta. Nas suas pesquisas, bolou remixes das composições da bossa nova e postou na internet. Dali, passou a explorar outras vertentes da música nacional. Ele já produziu versões de Dormi na Praça, de Bruno e Marrone, e Cheia de Mania, de Raça Negra. “Um dos maiores sucessos é com Seu Jorge”, diz João Dutra.
+ Assine a Vejinha a partir de 6,90 mensais.
KONAI
De Campo Grande (MS), João Vitor Santos, 18 anos, começou a produzir faixas de lo-fi hip-hop no quarto de casa, com o computador do irmão. Ele disponibilizava suas composições entre músicas de outros artistas. Não demorou para escrever e cantar sobre as melodias, explorando a vertente sad songs (músicas tristes). A estratégia deu certo: seu canal no YouTube já contabiliza mais de 1 milhão de inscritos, com vídeos que passam das 5 milhões de visualizações. Em fevereiro, assinou contrato com a Sony Music e mudou-se para São Paulo. “É um som melancólico e, em momentos de introspecção, as pessoas se identificam.”
BANAL
Gustavo Lessa é o responsável pelo selo Banal, que lança coletâneas de lo-fi hip-hop “raiz”. Um de seus parceiros musicais é Ramon Silveira, o Quieto. “Registro com o meu celular ou com gravador sons ao meu redor que não acharia em outros lugares”, diz Silveira. Caixas de ferramenta e água fluindo são alguns elementos das suas experiências, que são acrescidas de pesquisas sobre rap e dub. “Essa sonoridade coloca o ouvinte em outro lugar, desperta nostalgia.”
+ Assine a Vejinha a partir de 6,90 mensais.
NANASAI
Também do lo-fi hip-hop, o fluminense Eduardo Saito, o Nanasai, começou produzindo o beats no seu quarto, com influência de artistas como Kudasai. Mudou-se para o Japão e continuou na produção, liberada no SoundCloud. Um amigo deu o toque para ele escrever e cantar. “Fiz Joias do Infinito e teve uma repercussão que eu não esperava”, diz. Neste período de quarentena, vê uma oportunidade para o estilo crescer, já que as faixas induzem a momentos mais calmos. Ele comemora os 67 000 inscritos em seu canal no Spotify, seu principal meio de divulgação. “Estou voltando ao Brasil porque agora consigo ter uma renda vinda dessas composições na plataforma.”
> 5 playlists para curtir
Lo-fi Hip-Hop Radio – Beats to Relax/Study To
O canal ChillCow no YouTube funciona como uma rádio on- line. A playlist com as faixas do estilo, ilustrada sempre com o anime de uma garota próximo à janela, costuma ter mais de 40 000 pessoas ouvindo simultaneamente. Há uma outra versão para dormir.
Criada em 18 de março, a playlist da Deezer teve seu maior pico no dia 24 de março, ainda no início da quarentena.
Lo-fi Hip Music – Beats to Relax/Study To
Também na Deezer, a lista é feita por EDM Sauce com 200 faixas que mudam diariamente.
Esta é uma das listas do Spotify com produções nacionais de nomes como Konai e Nanasai. Normalmente, aparecem versões com vocais e letras.
No Spotify, são mais de 3 milhões de inscritos no perfil e 400 músicas disponíveis.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de abril de 2020, edição nº 2684.