“Outros”, do Grupo Galpão: espetáculo é colcha de retalhos do caos
A companhia mineira retoma parceria com o diretor Marcio Abreu em montagem essencialmente performática, que estimula o espectador através dos sentidos

Em constante movimento, o Grupo Galpão permanece atento aos ruídos do país e conectado a diversos encenadores. O sucesso de Nós (2016), porém, levou a companhia mineira a repetir a parceria com o diretor Marcio Abreu em Outros, montagem essencialmente performática, que estimula o espectador através dos sentidos.
No espetáculo anterior, sete pessoas dividiam angústias enquanto preparavam uma sopa em uma alusão ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A dramaturgia da vez, construída por Eduardo Moreira, Paulo André e Abreu, dispensa qualquer trama, por mais tênue que seja, para abordar percepções sobre as divergências da sociedade brasileira nos últimos anos.
+ Cássia Kis no solo “Meu Quintal É Maior do que o Mundo”.
Como integrantes de uma banda, os atores vociferam uma letra pessimista em acordes pesados. A perplexidade vai e volta quando um personagem repete inúmeras vezes a informação da morte de um amigo que fumava demais ou quando outro comenta a manchete horrorosa do dia anterior, que, perto da de hoje, nem parece ruim.
Assim, os atores Antonio Edson, Beto Franco, Eduardo Moreira, Fernanda Vianna, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André, Simone Ordones e Teuda Bara circulam pelo palco, falam e não se escutam, brigam tanto que dali a pouco desistem ou se amam em um intenso sexo grupal. Em meio a cenas vigorosas e outras desconexas, o resultado até ilustra o caos do país, mas carece de uma dramaturgia mais estruturada para que o impacto se mantenha algum tempo depois dos estímulos recebidos na sessão (90min). 16 anos. Estreou em 24/1/2019.
+ Teatro do Sesc Bom Retiro. Alameda Nothmann, 185, Campos Elíseos. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 30,00. Até 3 de março.