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Marília Gabriela: “O êxito profissional ainda é um casamento com a culpa”

A atriz fala sobre a peça "Casa de Bonecas - Parte 2", recriada com base do original de Ibsen, que trata do preço pago pelas mulheres que desafiam o óbvio

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 20 fev 2019, 14h07 - Publicado em 20 fev 2019, 14h00

Longe da televisão e de suas entrevistas, Marília Gabriela pode ser considerada uma atriz em tempo integral. O espetáculo Casa de Bonecas – Parte 2,  do dramaturgo americano Lucas Hnath, recria livremente a volta ao lar de Nora, personagem idealizada por Henrik Ibsen há 140 anos, um símbolo da emancipação feminina. Depois de temporadas no Sesc Consolação e no Tucarena, a montagem, dirigida por Regina Galdino, voltou ao cartaz no Teatro Faap, nas noites de quartas e quintas, e fica por lá até o fim de março. Encantada, Marília comenta o quanto Nora é representativa nos dias atuais e que muitos dos seus conflitos ainda fazem parte da vida das mulheres do século XXI. 

De que forma você define sua identificação com a personagem?

A minha paixão original por essa peça vem por causa da Nora, do texto do Ibsen. Tanto que quando li as primeiras notícias de que um jovem dramaturgo tinha escrito sobre o destino da personagem eu enlouqueci e tratei de comprar os direitos de encenação no Brasil. O que teria acontecido com essa mulher? Sempre pensei nisso. Tudo aquilo que a personagem enfrenta não está zerado para as mulheres e é muito representativo nos dias de hoje. A dedicação a uma carreira, o êxito profissional ainda é um casamento com a culpa.

As mulheres da sua geração enfrentaram de forma mais contundente essas questões, não?

As mulheres enfrentam essas questões até hoje. Você ainda precisa escolher ou isso ou aquilo. Até pouco tempo, eu deitava para dormir e pensava na infância dos meus filhos, nos momentos em que estive ausente, nas coisas que não fiz com eles. Nora saiu de casa, virou uma escritora e pagou um preço altíssimo. Ela tem esse momento de confissão, do quanto custou o abandono familiar, mas ela não nega o seu ideal, que é romanticamente ambicioso e carrega uma consciência de gênero.

Tem recebido retorno do público masculino?

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O historiador Leandro Karnal e o filósofo Mario Sergio Cortella participaram de debates durante a temporada no Tucarena. Foram conversas interessantes, eles fizeram uma boa defesa do ponto de vista masculino. Agora, eu quero levar uma mulher, uma filósofa talvez. Os retornos que recebo pelas redes sociais são impressionantes. Já me contaram de mulheres que, no fim da peça, entraram no banheiro do teatro e choraram escondidas. Depois, pegaram a mão do marido e foram para casa. Mas eu acho que os homens reagem muito bem ao espetáculo. Tem a razão de todo mundo ali. Não há um julgamento. O autor não tira a razão de ninguém.

Você continua fazendo a cabeça das mulheres nos dias de hoje como nos tempos do programa TV Mulher, no início dos anos de 1980?

Talvez por causa do meu testemunho de vida. São batalhas particulares que eu abracei, muita gente acompanhou por eu ter certa projeção. Eu tive minhas vitórias, tive minhas derrotas, sempre me confirmando como um ser pensante. Tudo foi escolha minha. Isso é importante. Se eu faço a cabeça das mulheres é porque passo uma verdade. Sou dona do meu nariz, faço minhas próprias escolhas.

Está realmente aposentada do jornalismo?

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Eu poderia ainda fazer jornalismo, ganhava bem, montaria um novo projeto para uma emissora. Mas agora é outra escolha, é a hora de uma nova vida. Eu quero fazer teatro, quero montar peças que digam algo para o público. Quero que as pessoas saiam do teatro e continuem conversando sobre aquela história, se reconheçam nos meus personagens. O retorno tem sido tão lindo. Fizemos há pouco apresentações em Ribeirão Preto, que é a terra de minha mãe. Um teatro lindo, mil lugares lotados, gente interessada. Vamos cumprir essa temporada no Teatro Faap, depois temos algumas viagens agendadas por outras cidades…

E depois?

E depois é hora de pensar em uma nova peça, levantar o projeto e começar a fazer tudo de novo.

Jornalismo nunca mais mesmo?

Bem, eu não tinha mais vontade. Eu fiz de tudo, entrevistei os homens e as mulheres mais importantes, foram tantos anos. Então, chegou uma hora que não quis mais. E tem outra coisa que começou a me desestimular. A televisão, que é o veículo que escolhi para exercer o meu ofício, ficou cada vez mais pautada pela audiência. E hoje está mais difícil garantir a audiência esperada, pelo menos com o tipo de entrevistas que eu costumava fazer. Precisava negociar tudo, cada nome que eu sugeria. Mas uma coisa não posso negar. Todas as pessoas genuinamente me interessam. Quando sento diante de alguém para uma entrevista automaticamente me interesso por tudo que aquela pessoa possa me contar. Sempre foi assim.

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