Antonio Fagundes libera ensaios de “Vermelho” no Tuca: “Quero me reaproximar do público”
Em dezembro, eu bati um papo com Antonio Fagundes e perguntei se “Tribos”, o espetáculo da vez, continuaria em cartaz no primeiro semestre desse ano. “Não, eu estou um pouco cansado, não vou acumular novela com o teatro”, afirmou ele, referindo-se à “Velho Chico”, que começaria a gravar em seguida. A verdade é que Fagundes […]
Em dezembro, eu bati um papo com Antonio Fagundes e perguntei se “Tribos”, o espetáculo da vez, continuaria em cartaz no primeiro semestre desse ano. “Não, eu estou um pouco cansado, não vou acumular novela com o teatro”, afirmou ele, referindo-se à “Velho Chico”, que começaria a gravar em seguida.
A verdade é que Fagundes não aguenta durante muito tempo o jejum do palco. Em 12 de agosto, ele volta a dividir a cena com Bruno Fagundes, seu filho, no espetáculo “Vermelho”, dirigido por Jorge Takla, que volta ao cartaz no Tuca.
A partir do sábado, 2 de julho, no entanto, os atores começam a antecipar para o público a retomada desse trabalho. Antonio e Bruno receberão até oitenta pessoas, todos os sábados, das 15h às 16h30, na sala de ensaio do próprio Tuca. Os ingressos para acompanhar o processo custam R$ 20,00.
Por que essa vontade de abrir os ensaios ao público?
A pergunta é por que eu parei de fazer isso. Eu já abri dois processos e foram grandes experiências. O primeiro foi “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, em 1988, uma adaptação do livro de Roland Barthes, semiótica pura. Depois, veio “O País dos Elefantes”, montada com um grupo francês no ano seguinte. É muito bom para a gente perceber até que ponto o público entende, se falta ritmo, se as cenas estão chatas ou rápidas demais. Sempre tivemos plateias heterogêneas, de diferentes profissões, que começaram a ficar assíduas, iam semanalmente ver a evolução do trabalho, emitiam opiniões. Quero me reaproximar do público.
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Quando você era um iniciante costumava acompanhar esse tipo de processo das companhias teatrais?
Nem existia esse tipo de trabalho. Ninguém fazia. Era mais comum a produção abrir ensaio dois ou três dias antes da estreia para afinar a luz ou corrigir falha técnica, mas o espetáculo já estava de pé. No nosso caso é diferente. O público acompanha todas as etapas da montagem. Vai ter dia em que podemos ficar a tarde inteira criando uma cena, por exemplo.
Mas “Vermelho” não vai começar do zero. É um espetáculo que vocês vão retomar…
Faz quase três anos que paramos. É um texto complexo e não podemos nos perder, então vamos começar com leitura de mesa, discussão de personagem, como se fosse realmente uma estreia. Vamos levantar tudo de novo. E tenho certeza de que diante desse público descobriremos coisas que não percebemos durante as outras temporadas.
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O diretor Jorge Takla vai acompanhá-los a cada ensaio?
Não, porque o Takla está na preparação de um novo espetáculo, o musical “My Fair Lady”, que estreia em agosto, mas certamente ele deve aparecer por lá um dia ou outro.
Por outro lado, esse público também pode atrapalhar um pouco a concentração de vocês, não?
Não, eu dou uma dura neles antes de começar (risos). Todo mundo desliga o celular, deixa de lado as balinhas e foca no trabalho. No final, a gente estabelece trinta minutos para ouvir as opiniões e sugestões de cada um, fazer essa troca de fato. Quero retomar esse contato mais direto com o público.
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E a novela?
Então, a novela está polêmica, não é?
Você está feliz com ela?
Eu acho que “Velho Chico” é uma novela que cria novos parâmetros e nem sei se a Globo percebe isso. É muito bom a gente dar um tempo nas tramas urbanas e ver de novo uma história rural, bem brasileira. A questão é que no nosso país todo mundo acha que pode ser técnico de futebol ou autor e diretor de televisão. É muito palpite sobre tudo e nem a crítica entende o que estamos fazendo ali. Mas tenho uma certeza… Quando “Velho Chico” ganhar uma reprise daqui a alguns anos vai ser um tremendo sucesso, todo mundo vai perceber a grande novela que hoje estamos fazendo.
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Como encara as críticas ao Coronel Afrânio?
Na época de “O Rei do Gado”, todo mundo implicou com o sotaque do meu personagem e, hoje, alguém apontaria defeitos nessa trama? Eu acho que estamos pagando um preço por ter parado de investir na composição de personagens. Caímos numa zona de conforto e, agora, sempre que o ator adota um registro menos realista ou naturalista é duramente criticado. Olha o trabalho da Selma Egrei! Que belo exemplo de caracterização. Por isso, o Brasil investe tão pouco em gêneros como ficção científica e até policial. Deixamos de lado a composição de personagens e, nesses casos, o intérprete não pode estar lá de cara limpa.
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