“A Invenção do Nordeste”: Grupo Carmin desafia o estereótipo
O espetáculo discute a imagem do povo nordestino e quanto o estigma é alimentado pelos próprios habitantes da região
Em janeiro deste ano, o Grupo Carmin, do Rio Grande do Norte, ganhou a simpatia dos paulistanos com o documentário cênico Jacy. Um novo exemplar do repertório da companhia, a comédia dramática A Invenção do Nordeste, chega à cidade para mostrar que o discurso dos artistas está cada vez mais interessante e contemporâneo. Neste trabalho, inspirado no livro homônimo do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr., o elenco discute o estereótipo em relação ao povo nordestino e quanto essa imagem é alimentada pelos próprios habitantes da região.
Na trama, um diretor (papel de Henrique Fontes) é contratado por uma produtora carioca para selecionar, através de testes, o protagonista de um filme. O ator escolhido deve interpretar, é claro, um sujeito nordestino. Os dois finalistas (representados por Mateus Cardoso e Robson Medeiros) têm personalidade conflitante e postura distinta sobre a carreira. Entre estudos sobre textos de Euclides da Cunha e Gilberto Freyre, filmes de Glauber Rocha e peças de Ariano Suassuna, a dupla se confronta em busca de ferramentas para fugir do óbvio.
Dirigida por Quitéria Kelly, a montagem, que tem dramaturgia de Fontes e Pablo Capistrano, está imune a qualquer bairrismo, e muitas vezes é um tanto pessimista e cruel. O equilibrado trio de atores transita do humor ao deboche e até a melancolia para sublinhar o estigma. Por meio dessa isenção, o Grupo Carmin amplia os significados da temática e lança um novo olhar sobre a minoria que, por vezes, percebe a necessidade de se adaptar ao que é esperado dela por parte da maioria (60min). 12 anos. Estreou em 2/11/2017.
+ Sesc Belenzinho — Sala de Espetáculos 1. Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho. Quinta a sábado, 21h30, domingo; 18h30. R$ 20,00. Até o dia 26.