Não foi à toa que o Grupo Tapa escolheu O Jardim das Cerejeiras para celebrar quarenta anos de atividade. Escrito pelo russo Anton Tchecov em 1904, o drama enfoca uma decadente família de aristocratas em uma propriedade rural prestes a ser leiloada. O cerejal, glorioso no passado, pode dar espaço a casas de veraneio e salvar a família liderada pelos irmãos Liuba e Leonid (interpretados por Clara Carvalho e Brian Penido Ross). O dinheiro trocou de mãos, e a oferta vem do filho de um antigo camponês (o ator Sérgio Mastropasqua). Assim como no teatro de hoje, desafiado pelo avanço tecnológico e por espectadores bissextos, ninguém no clã imagina como será o futuro e insiste em viver da forma como aprendeu. O diretor Eduardo Tolentino de Araujo, então, provoca a plateia com o que melhor sabe fazer: um espetáculo clássico, de sutis e belos efeitos visuais, calcado na apurada técnica dos treze atores. O público acostumado à instantaneidade vai se assustar, mas, se arrebatado, assistirá a um exemplar fiel à essência de uma grande dramaturgia e ricas interpretações. Clara esbanja elegância ao conceber uma Liuba econômica em suas nuances. Mastropasqua, por sua vez, destaca-se por uma intensidade controlada que explode no final. As surpresas, porém, são Alan Foster, como Pétia, e, principalmente, Anna Cecília Junqueira. A atriz dá um salto em sua trajetória ao construir uma Vária dura e seca, tão introspectiva que se expressa sem a necessidade das palavras (120min). 14 anos. Estreou em 10/1/2019. Até 2/6/2019.
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