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O labirinto dos manuais

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto de instruções! Trabalho sempre com um antigo exemplar da Bíblia na mesa. Examinei. O Gênesis, que descreve toda a criação do mundo, ocupa cinqüenta páginas. O manual do celular, 49!

Nas semanas seguintes, tentei abaixar o som da campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em torno saía correndo, pensando que era o alarme de incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi.

– Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso.

Teclei. Dali a pouco apaguei vários endereços. Insisti. O aparelho entrou em alguma outra função para a qual não estava habilitado. Finalmente, descobri. Está no vibracall há meses! O único problema é que não consigo botar a campainha de volta!

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Muita gente pensará: “Que asno!”. Tenho argumentos para me defender. Entre meus amigos, fui o primeiro a comprar computador. Era uma tralha, que exigia códigos para tudo. Para achar o cê-cedilha, os dedos da mão tinham de dançar rock pauleira, tantas eram as teclas para apertar de uma só vez. Tinha de formatar os disquetes de memória! Aprendi tudo por mim mesmo.

Foi a mesma coisa quando adquiri meu videocassete. Instalei e aprendi a gravar. Só sofri na hora de programar pela primeira vez. Agora não consigo mais executar uma simples programação, tantas são as complicações. Pior ainda é o DVD que grava. Com a TV por assinatura, mais os canais abertos, nunca dá certo! Soube de gente que está cobrando para botar músicas em iPod, tal o número de pessoas que naufragam nas instruções. Tenho dois amigos que sonharam com aparelhos de MP3. Cada um conseguiu o seu. Outro dia perguntei a um deles se estava aproveitando.

– Eu ainda não tive tempo de mexer… – confessou Bob, sem jeito.

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Estou de computador novo. Já veio com o Vista, a última coqueluche da Microsoft. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz?

Tudo foi criado para simplificar. Mas até o microondas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que possui sua própria tecla. Mas não posso me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse… E o fax com secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens. O atual exige que eu toque em um, depois em outro para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia a luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A secretária disparou todas, desde o início do ano!

Eu sei que para a garotada que está aí tudo isso parece muito simples. Mas o mundo é para todos, não? Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo!

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