A melhor cerveja do mundo do dia de hoje
“Qual é a melhor cerveja do mundo?”. Invariavelmente esta é a pergunta que ouço da maioria das pessoas a quem acabo de ser apresentado como jornalista que escreve sobre a bebida. Diante do indisfarçável olhar estupefato da parte deste que escreve – para mim, a questão tem o mesmo impacto filosófico de “qual o som […]
“Qual é a melhor cerveja do mundo?”. Invariavelmente esta é a pergunta que ouço da maioria das pessoas a quem acabo de ser apresentado como jornalista que escreve sobre a bebida. Diante do indisfarçável olhar estupefato da parte deste que escreve – para mim, a questão tem o mesmo impacto filosófico de “qual o som de uma mão batendo palmas?” ou “qual o sentido da vida?” -, eventualmente há uma reformulação para “Qual é a melhor cerveja do mundo na sua opinião?”
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A resposta é simples: não sei. Sempre me lembro de um quadrinho de Bill Watterson em que o tigre de pelúcia Haroldo diz ao garoto Calvin que “os tigres não sabem se gostam de sorvete até provarem todos”. Por mais que já tenha degustado centenas de cervejas, não devo ter atingido nem 5% de todas que são produzidas no planeta, o que tornaria meu voto bastante frágil em termos estatísticos. Além disso, há fatores que influem nessa percepção, como as condições em que a cerveja é provada – no final de semana, tomei uma Pilsner Urquell já envelhecida, que não era nem sombra das que degustei em Pilsen – e, principalmente, do clima e do humor de quem a bebe. Um fã de India Pale Ales norte-americanas tende a escolher um rótulo do estilo como campeão, e um apreciador de cervejas belgas poderia seguir a mesma lógica. Mas quem certificará que uma é melhor que a outra, sendo tão diferentes entre si?
Conheço, sim, cervejeiros que, sem pestanejar, respondem a essa indagação citando as marcas X ou Y. Mas creio que, se fizesse o mesmo, minha escolha mudaria diariamente – ou em questão de horas. Se há um lado bom nessa inquietação sobre a melhor cerveja, é o de provocar os fãs da bebida a buscarem sempre novidades em termos de aromas e sabores, para poder responder: “A melhor cerveja sempre será a próxima.”
Hoje, por exemplo lembrei-me de uma das cervejas que estão na minha lista de melhores, a Gouden Carolus Cuvée Van de Keizer Blauw, uma Belgian Dark Strong Ale (traduzindo, uma cerveja de estilo belga escura e com elevado teor alcoólico) de 11%. Ela era originalmente produzida apenas uma vez por ano, mais especificamente hoje, em homenagem ao aniversário de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1500-1558).
Um dos atributos que mais me chama a atenção nessa cerveja é a combinação de notas de frutas escuras e um leve toque de chocolate com um quê cítrico – na minha memória gustativa, traz a lembrança de chocolate com laranja. A Cuvée Van de Keizer passou a compor uma pequena tradição familiar, acompanhando uma mousse de chocolate com cerejas. É a melhor cerveja do mundo? Por alguns minutos, durante a sobremesa, é possível que sim. Depois, só a próxima vontade de aromas e sabores bastante específicos poderá dizer…
A cerveja custa R$ 50 (750ml) no Capitão Barley, em Perdizes (3569-3560).