Em luta contra o câncer, calouro da USP recebe “trote” em hospital
Jovem estudou para o vestibular em meio ao tratamento de um tipo de raro da doença; esta terça (15) marca o Dia da Luta contra o Câncer Infantil
Em 2016 Caleb Rees, hoje com 21 anos, apresentou dificuldades para urinar. À época, os médicos que o atenderam suspeitaram de algum problema na bexiga. Exames comprovaram que ele havia sido acometido por um câncer raro e maligno, denominado sarcoma sinovial. Os vários tratamentos que já realizou e realiza não o impediram de continuar estudando e conquistar o seu sonho: passar no vestibular da USP.
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O “trote” foi realizado no hospital onde ele se trata, o A.C. Camargo.
A descoberta do tumor mudou literalmente tudo na família do jovem, que é de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. “Como é um câncer raro, não havia como fazer o tratamento lá. Viemos para São Paulo e nos instalamos aqui”, afirma Caleb.
Questionado se tem saudades de sua cidade, ele apenas diz que São Paulo é diferente. “Lá [Campo Grande] é uma cidade muito tranquila e calma, a qualidade do ar e até o gosto da água é diferente”, avalia.
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Ele ainda está em tratamento e é um exemplo de luta contra um mal que responde por 8% das mortes infantis (de 1 a 19 anos) no Brasil, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer). Hoje é o Dia Internacional de luta contra o Câncer Infantil.
Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que uma criança morre a cada três minutos vítima da doença. A estimativa é a de que só no Brasil, 8 460 crianças desenvolvam algum dos vários tipos de câncer infantil neste ano.
A luta de Caleb é para fugir desta triste estatística. Ela começou após a investigação que médicos de Campo Grande fizeram na sua bexiga, feito por meio de um ultrassom, que revelou algo estranho, uma massa cinzenta. Para investigar melhor o que estava ocorrendo com Caleb, outro exame mais complexo foi realizado, uma ressonância magnética, e as imagens juntamente com a análise dos médicos indicam se tratar do tumor maligno, que acomete geralmente articulações, pés, braço e coxa.
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O primeiro diagnóstico foi no ano de 2016. Foram 6 sessões de quimioterapia e 30 de radioterapia, além de uma grande cirurgia. Em cada uma das sessões de quimio ele precisava ficar ao menos três dias no hospital. A cirurgia foi grande e complexa e ele ficou internado dois meses para tratamento.
Três anos mais tarde, em 2019, exames detectaram que a doença havia voltado. Novamente mais seis sessões de quimioterapia e outras 30 de radioterapia foram indicados como medida terapêutica.
Todo o ensino médio do jovem foi feito com idas e vindas do hospital. No total, ele cursou apenas um ano e meio de aulas presenciais e o restante, em formado EAD (a distância). A cirurgia que fez não limita seus movimentos, porém não lhe permite muitas locomoções. Associado a isso está a imunidade, que oscila entre uma sessão e outra de tratamento.
“Mas não parei de estudar nunca”, afirma.
Estratégia e nova luta
Para poder continuar os estudos, ele aproveitava os momentos que se sentia mais recuperado. “Geralmente cada ciclo da quimioterapia dura seis semanas. Na primeira eu não consigo fazer nada, mas aproveito quando estou melhor para estudar”, diz.
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Quando já havia completado o ciclo de tratamento da segunda vez que foi diagnosticado com o câncer, novos exames constataram o ressurgimento da doença no ano passado.
O tratamento sugerido até agora foi de 8 sessões de quimioterapia. Ele já está na sexta e foi no intervalo entre elas que prestou a prova –de forma presencial– para o vestibular da Fuvest.
“Por acaso foi nesse período em que eu estava melhor”, afirma.
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Para alegria de todos, inclusive outras crianças que estão em tratamento no A.C. Camargo, ele foi aprovado para cursar sistemas de informação na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) da USP, também conhecida como USP Leste.
A conquista trouxe mais um novo desafio. O de como comparecer presencialmente às aulas, já que de sua casa, na região do Sacomã, até a USP Leste, em Emerlino Matarazzo, a distância é de mais de 25km.
“Eu já passei por coisa pior, no ensino médio foi bem desafiador”, afirma Caleb.