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Terapia EMDR usa estímulos sensoriais para superar traumas

Feixes de luz e barras táteis são utilizados para sincronizar os dois lados do cérebro e apagar memórias ruins; método é opção de tratamento de saúde mental

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jul 2020, 08h00 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

O consenso entre psiquiatras e psicólogos é que ninguém estava preparado para encarar um momento como este e, por isso, a saúde mental deve ser a próxima onda da pandemia a ser enfrentada. “Por mais que o ser humano tenha a capacidade de se adaptar às novas condições, isso gera uma sobrecarga constante, que produz stress e insegurança, como numa situação de guerra”, diz Alfredo Maluf, psiquiatra no Hospital Albert Einstein. Transtornos de ajustamento, ansiedade, depressão e, nos quadros mais graves, até stress pós-traumático são alguns dos problemas que já despontam.

Das indicações para encarar esses novos tempos, são as terapias o principal método para melhorar o grau de resiliência e reforçar o sistema de adaptação. No país, a terapia cognitivo-comportamental (mais breve e focada em um problema atual) é a mais usada e conhecida para esses casos. Porém, há um grupo de psicólogos que tem levantado a bandeira do Eye Movement Desensitization and Reprocessing (EMDR), em português, dessensibilização e reprocessamento por movimentos oculares, técnica aprovada pela Organização Mundial da Saúde. “É uma abordagem diferente e que tem tido bons resultados, mesmo que pouco conhecida”, diz a psicóloga Ana Lucia Castello, presidente da Associação Brasileira de EMDR.

O procedimento, que tem oito fases, trabalha o reprocessamento da memória para que ela não cause mais sofrimento. São reforçadas as crenças positivas, e essas passam a ser um recurso para lidar com as situações dolorosas. “Nas primeiras etapas, o psicólogo analisa o histórico do paciente, seleciona a memória (traumática), avalia o nível de resiliência e mostra recursos disponíveis para quando estiver em um momento tenso”, explica. Nas fases seguintes, são montadas a dessensibilização e o reprocessamento dessas lembranças. É a parte física, quando são feitos estímulos no paciente, que podem ser oculares, em que os olhos se movem de um lado para o outro, acompanhando um feixe de luz que passa por uma barra, ou tátil, em que sente esses estímulos feitos pelo psicólogo com o toque, ou mesmo com um aparelho que emite vibrações e que o cliente segura as pontas em cada mão.

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Enquanto sente as vibrações ou mexe os olhos, é orientado a pensar na imagem que causa dor. “Com o estímulo contínuo dos dois lados do corpo, ocorre a sincronização dos hemisférios do cérebro, o lógico e o emocional, e a pessoa acessa a memória e a processa até não ter mais incômodo”, explica a psicóloga Vanessa Gebrim, que trabalha com o método há doze anos. Quando a lembrança não causar mais efeito ruim, o indivíduo é guiado a reforçar pensamentos positivos sobre si mesmo. “É como se a memória negativa estivesse deslocada e atrapalhando no cérebro e, na terapia, é processada e adaptada. No lugar, é inserida uma crença positiva, para ajudar quando se sentir em uma situação similar”, diz Ana Lucia.

O médico residente Rafael Costa, 24, optou pela terapia quando se viu na linha de frente do atendimento dos pacientes de Covid-19 na área de oncologia do Hospital das Clínicas. “A gente fica muito impactado com a situação, e tudo o que é novo me deixa ansioso.” Ele já conhecia o método e faz consultas on-line para trabalhar a concentração. “Enxergo melhor a realidade e não deixo a emoção prejudicar o trabalho.” O número de encontros, que podem durar de uma hora a uma hora e meia, varia conforme o caso. A psicóloga Fabiana Brandão explica que outra queixa é a crença no futuro negativo e a falsa ideia de que vai falhar. “A pessoa nem sabe por que se sente assim, e a pandemia tem desencadeado mais esses sentimentos.”

Para a professora Gisele Inácio, 33, os hospitais causavam pânico. Em 2015, fez um transplante de medula óssea como tratamento da doença de Crohn. Além de três meses de isolamento no hospital, precisou ficar mais um período reclusa em casa. “A doença voltou e meu mundo desabou. Procurei ajuda psicológica para enfrentar a depressão.” A aversão aos centros médicos ficou mais intensa e os procedimentos viraram uma tortura. “Tenho de repetir os exames todo ano e era horrível para mim.” Com o tema trabalhado no EMDR, ela melhorou. “Eu mesma preparo a solução que preciso ingerir antes dos procedimentos.” O isolamento atual chegou a preocupar, mas logo foi processado e superado.

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Já para o consultor D.R.M., 37, uma turbulência vivida em uma viagem há quase dez anos fez surgir o medo de voar. “Só de comprar as passagens minha mão começava a suar e, quando viajava, precisava de um dia para descansar o corpo, de tão tenso que ficava.” Por quatro anos, para evitar o stress, inventava desculpas para não viajar e isso começou a prejudicá-lo. “Estava cético com o método e só na terceira sessão comecei a levar mais a sério, e deu certo.” Hoje, comemora as férias passadas em Pernambuco e no Canadá.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de julho de 2020, edição nº 2694.  

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