Universidade cria dispositivo que quase impede abertura da boca
Aparelho foi anunciado para "luta contra a obesidade" e foi duramente criticado, comparado a ferramenta de tortura medieval
Pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia e do Reino Unido, divulgaram um dispositivo odontológico voltado para a perda de peso. O aparelho, chamado de DentalSlim Diet Control, limita a abertura da boca para que o paciente não possa ingerir alimentos sólidos, apenas líquidos.
A pesquisa foi liderada pelo professor Paul Brunton, da Universidade de Otago, e foi duramente criticada por especialistas da área. O item limita a abertura da boca de quem o utiliza a apenas 2 milímetros por meio de um dispositivo magnético instalado nos dentes molares superiores.
Segundo o texto de divulgação da universidade, o item viria também com uma chave de emergência, para ser utilizado em casos de ataques de pânico ou engasgos. Sete mulheres obesas usaram o item por duas semanas, de acordo com o estudo. Elas teriam perdido 6,3 quilos cada.
As mulheres relataram que o item causava desconforto para a fala e que a “vida em geral ficava menos satisfatória”.
O aparelho foi criticado por especialistas e nas redes sociais. Em entrevista para o jornal The Washington Post, a fundadora do Centro Nacional para Distúrbios Alimentares do Reino Unido, Deanne Jade, afirmou que o dispositivo é como um “retorno para a era medieval”. “É algo extremamente perigoso. Todo objeto que visa a perda extrema de peso ou com estratégias similares apresenta grandes riscos para o paciente”, afirmou.
O diretor de relações externas da ONG Beat, Tom Quinn, que trabalha com distúrbios alimentares, afirma que o aparelho é “preocupante”. “E também simplifica completamente a questão da obesidade. Resume o processo de perda de peso a uma questão de conformidade, força de vontade, e ignora os diversos fatores envolvidos, que podem incluir também distúrbios alimentares”, disse Quinn.
Após a repercussão negativa a Universidade de Otago publicou nas redes sociais que “a intenção do dispositivo não é ser usado como uma ferramenta de perda de peso rápida nem como uma ferramenta para longo-prazo. Ela destina-se a ajudar pessoas que precisam de cirurgia e que não podem fazer uma operação até perderem peso. Depois de duas ou três semanas o paciente pode ter os imãs desativados e o aparelho removido”, diz o texto.
O primeiro post no Twitter sobre o aparelho afirmava que o item era o “primeiro dispositivo de perda de peso do mundo”. O tweet foi compartilhado por mais de 10 000 pessoas, inclusive brasileiros: “isso não é possível, é inacreditável!”, escreveu uma mulher.
After two or three weeks they can have the magnets disengaged and device removed. They could then have a period with a less restricted diet and then go back into treatment. This would allow for a phased approach to weight loss supported by advice from a dietician.
— University of Otago (@otago) June 28, 2021