Metrô é um dos lugares mais seguros para vítimas de infarto
Há seis anos, os funcionários são treinados para socorrer com agilidade os passageiros
Há cinco meses, o comerciante Airton Inamime, de 54 anos, incluiu um novo hábito à sua rotina — toda semana, acende uma vela e faz orações para agradecer aos céus pelo que ele considera sua ressurreição. “Não sou religioso”, afirma. “Mas há situações que nos obrigam a repensar várias coisas.”
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No dia 10 de março, depois de jantar com amigos, Inamime seguiu sozinho para a Estação Liberdade, onde pegaria o trem que o levaria de volta para casa, no Tatuapé. Às 23h35, na plataforma, passou mal e “apagou”, vítima de uma parada cardíaca. Acordou somente cinco dias depois, na UTI do Hospital do Servidor Público Municipal, também localizado no bairro da Liberdade.
Casado e com três filhos, ele não lembra os detalhes do que aconteceu naquela noite. Mas hoje sabe que acabou salvo graças ao rápido atendimento prestado pelos funcionários do Metrô. “Eu renasci”, emociona-se.
Assim que caiu inconsciente, um homem chamou a atenção de seguranças. Enquanto corriam para socorrer a vítima com um desfibrilador, eles avisaram a central de controle, que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Foram necessários doze minutos de massagem torácica e cinco choques para que o coração de Inamime voltasse a bater.
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Histórias como essa nem são tão raras. Somente neste ano, outras duas pessoas enfrentaram problemas semelhantes em trens ou estações — e sobreviveram. “Fora dos hospitais, ali é o melhor lugar da cidade para alguém ter um infarto”, diz o cardiologista Sergio Timerman, diretor do laboratório de treinamento e simulação de emergência cardiovascular do Instituto do Coração (InCor).
Segundo levantamento dos profissionais desse hospital, a chance de alguém que sofre parada cardíaca sobreviver sem sequelas no metrô é de 36% — nas ruas, a taxa cai para 2%. Não são apenas os desfibriladores dispostos estrategicamente em todas as 58 estações das Linhas 1 – Azul, 2 – Verde, 3 – Vermelha e 5 – Lilás que as tornam locais seguros para as vítimas.
Há seis anos, a direção da companhia oferece treinamento aos funcionários para que eles saibam identificar um princípio de infarto e socorrer com agilidade os passageiros. As aulas são ministradas pelo InCor. “Hoje, 100% do nosso time está preparado para enfrentar uma situação dessas”, garante Maurício Monteiro, coordenador de saúde ocupacional do Metrô e responsável pelo programa.
No total, estão treinados 1.000 seguranças, além de 2.000 funcionários dos serviços de bilheteria e de plataforma. “Em qualquer horário, sempre haverá alguém por perto para prestar ajuda”, ressalta Monteiro. “Isso garante rapidez ao atendimento.”
Depois do aviso agudo da doença, a cada minuto a probabilidade de sobrevivência cai 10%. Quanto mais rápido o socorro, menores os riscos de o músculo cardíaco — e o resto do organismo — sofrer sequelas decorrentes da falta de circulação de sangue.
No metrô, desde o instante em que uma ocorrência é verificada (pelos próprios agentes ou por meio das câmeras de vigilância espalhadas pela rede), basta um minuto até o início do atendimento. Foi essa rapidez que ajudou a salvar o aposentado Adérito dos Santos Sanches, de 64 anos.
Na manhã de 2 de abril, ele descia as escadas da Estação Itaquera, na Zona Leste, quando começou a sentir dores no peito. Sanches fazia tratamento para arritmia desde 1987. “Parecia tudo ótimo, não dava para imaginar que teria algum desconforto mais grave”, conta.
Ele recebeu o socorro de dois funcionários, que lhe aplicaram massagens cardíacas e choques com desfibrilador. De lá, seguiu já consciente para o hospital, de onde saiu recuperado quatro dias depois. “Se o incidente tivesse acontecido em qualquer outro lugar, tenho certeza de que estaria morto”, acredita Sanches.
De acordo com estatísticas da Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 21.000 paulistanos morrem anualmente de parada cardíaca. Em 75% dos casos, a vítima não recebe o atendimento adequado. Uma lei municipal de 2005 e outra estadual de 2007 obrigam locais com grande circulação de pessoas a manter desfibriladores acessíveis ao uso.
Na prática, entretanto, são raros os que têm o equipamento disponível e contam com equipes qualificadas para utilizá-lo. Desde 2006, quando os primeiros aparelhos começaram a ser instalados no metrô, 61 passageiros foram socorridos. Metade deles conseguiu chegar ao hospital. Depois de passar pelas mãos da equipe médica, 22 dessas pessoas escaparam do risco de ficar com danos neurológicos.
A meta agora é conseguir que pelo menos 50% escapem com vida e possam sobreviver sem sequelas. Com isso, o serviço vai se aproximar do padrão de eficiência do metrô de Londres, tido como uma referência mundial nessa questão. Lá, o usuário que sofrer um infarto em qualquer ponto da vasta rede tem 63% de chances de escapar da morte e retomar normalmente a vida após o tratamento.
SERVIÇO DE EMERGÊNCIA
O atendimento em números
65 desfibriladores em 58 estações
3.000 funcionários treinados para prestar socorro
61 pessoas atendidas*
50% das vítimas chegaram com vida ao hospital
*Desde 2006 Fontes InCor e Metrô de São Paulo