Quatro bons motivos para visitar os nossos museus
Além de 85 obras-primas do impressionismo, ainda há preciosidades de Caravaggio e mostras de Adriana Varejão e de Lygia Clark
A agenda dos museus e centros culturais paulistanos vive um momento especial, com a coincidência da realização de vários eventos impactantes. Sem dúvida o destaque é “Impressionismo: Paris e a Modernidade”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil a partir deste sábado (4). São 85 pinturas vindas do acervo do conceituado Museu d’Orsay, de Paris, e assinadas por nomes do quilate de Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Vincent van Gogh e Paul Cézanne, entre outros. Todas as peças são inéditas por aqui. “Trata-se de um caso raro em que o museu estrangeiro teve de tirar da parede as obras para emprestar, e não do depósito”, comemora Marcos Mantoan, gerente do CCBB paulistano.
Na semana passada, o Masp já havia aberto suas portas para “Caravaggio e Seus Seguidores”, com sete obras do irascível gênio italiano ou atribuídas a ele e outras catorze de artistas influenciados por seu trabalho.
+ Assista ao vídeo dos bastidores da montagem de “Caravaggio e Seus Seguidores”
Em setembro, será a vez de individuais dedicadas a Lygia Clark (Itaú Cultural), que tem uma retrospectiva prevista para 2014, em Nova York, e a Adriana Varejão (MAM), também prestigiada no exterior.
A seguir, confira um roteiro com o que há de melhor nesse conjunto imperdível de mostras que cobre períodos e estilos variados, do barroco ao contemporâneo.
1 - Ver de perto a melhor coleção de impressionismo do mundo
Na segunda metade do século XIX, um grupo radicado em Paris causou escândalo ao violar muitas das regras academicistas que até então dominavam a produção artística local. Pintaram ao ar livre e à luz do dia, trocaram os temas míticos e religiosos por retratos de gente comum e da vida cotidiana, apostaram numa paleta de cores mais leve e clara e não se contentaram em mimetizar a realidade nas formas, preferindo deixar pedaços borrados e contornos incompletos.
A produção dessa turma, que realizava várias exposições em conjunto, foi então classificada como impressionista, título conferido por um crítico por causa de uma tela de Claude Monet intitulada “Impressão, Nascer do Sol”.
Um recorte de 85 obras daquela que talvez seja a mais importante coleção desse gênero do mundo, a do Museu d’Orsay, de Paris, aporta no Centro Cultural Banco do Brasil a partir deste sábado (4), às 15 horas.
A previsão é que a visitação de “Impressionismo: Paris e a Modernidade” fique entre 600.000 e 800.000 pessoas até outubro. Há tanta expectativa envolvida que, neste fim de semana, o CCBB ficará aberto durante a madrugada de sábado — fechará apenas às 22 horas deste domingo (5).
Foram feitas melhorias na iluminação do entorno do instituto, inclusive com a implantação de um ponto de táxi temporário e a presença da já tradicional van que leva os visitantes até um estacionamento na Rua da Consolação.
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A realização da mostra exigiu uma grande operação de guerra. “As conversas com o Museu d’Orsay começaram em fevereiro de 2011 e demoramos nove meses para fechar o acordo”, diz Marcos Mantoan, gerente da unidade paulistana do CCBB.
O orçamento da exposição é de 10,9 milhões de reais. Por razões de segurança, as telas vieram divididas em seis aviões. Já no Brasil, foram escoltadas por batedores desde o aeroporto. Elas precisaram ainda descansar cerca de 48 horas em caixas de madeira, em um ambiente com temperatura entre 18 e 21 graus, até poderem ser retiradas e penduradas nas paredes.
Ampla, a seleção traz os artistas mais renomados do movimento (Monet, Renoir, Degas), além de nomes um pouco anteriores a ele (Manet) e posteriores (Cézanne, Van Gogh, Paul Gauguin). Segundo Caroline Mathieu, curadora-chefe do Museu d’Orsay, a influência da corrente chegaria ao modernismo e até ao expressionismo abstrato americano.
A capital francesa, afirma Caroline, incitava a capacidade criativa daqueles gênios. “Não havia lugar melhor para estar na vanguarda. Não só para pintores, mas também para escultores, escritores e músicos. A vida parisiense era muito estimulante”, diz a especialista.
2 – Aproveitar a rara chance de apreciar um conjunto de Caravaggio
Dos grandes mestres da arte, poucos atraem tanto a atenção do mundo contemporâneo quanto Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610). Parte do fascínio se dá pelas próprias características da produção do artista: ultrarrealista, dramática, erótica (usava prostitutas e vagabundos como modelos para retratar santos), violenta, quase cinematográfica, com emprego espetacular do claro-escuro, uma técnica de luz e sombra que ressalta a expressividade.
“Também não se pode ignorar a força da biografia dele, que inclui um assassinato e um período na prisão”, diz o curador Fábio Magalhães. Os paulistanos têm uma rara chance de apreciar sete pinturas do gênio ou atribuídas a ele em uma mostra que entrou em cartaz no Masp na semana passada e ficará ali até setembro.
Pode parecer pouco, mas, no universo de alguém que tem apenas aproximadamente sessenta criações reconhecidas, trata-se de um número considerável. Sobretudo pela presença de obras-primas como “São Jerônimo que Escreve”, proveniente da Galeria Borghese, de Roma.
“Caravaggio e Seus Seguidores” traz ainda catorze telas dos chamados “caravaggescos”, gente influenciada no calor da hora na Espanha, nos Países Baixos e em outras regiões da Europa. Caso dos italianos Orazio e Artemisia Gentileschi (pai e filha) e do espanhol Jusepe de Ribera.
3 – Conferir a mais valiosa artista brasileira do momento
Em fevereiro de 2011, em um leilão da Christie’s, em Londres, Adriana Varejão viu um trabalho seu ser arrematado por 1,1 milhão de libras. “Parede com Incisões à la Fontana II” tornou-se, assim, a obra mais cara de um artista brasileiro vivo.
A carioca de 47 anos é tema de uma individual no Museu de Arte Moderna a partir de 4 de setembro. “Histórias às Margens” amealha quarenta peças, provenientes de coleções brasileiras e estrangeiras, como as da Tate Modern, de Londres, e da Fundació “la Caixa”, de Barcelona.
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Revelada no fim dos anos 80, Adriana começou a carreira influenciada pelo barroco mineiro. Desenvolveu uma produção consistente a partir de elementos como azulejaria (e a herança portuguesa, de modo geral), santos, carne e figuras do mar.
A exposição traz um exemplar de quase todas as séries realizadas nas últimas duas décadas — “Pratos, Saunas e Banhos” e “Charques” são algumas delas. Está incluída também uma instalação inédita, um painel de azulejos de 18 metros de comprimento.
4 - Valorizar Lygia Clark, mais famosa no exterior do que no Brasil
Ao lado do companheiro de movimento neoconcretista Hélio Oiticica, Lygia Clark (1920-1988) é hoje a mais importante artista brasileira no exterior. Prova incontestável desse prestígio é a retrospectiva prevista para estrear em 2014 no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
Antes disso, um panorama de sua produção será exibido no Itaú Cultural, a partir de 1º de setembro. Sob curadoria de Felipe Scovino e Paulo Sérgio Duarte, com assistência da neta da artista, Alessandra Clark, a montagem terá mais de uma centena de trabalhos.
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A seleção abarca as pinturas geométricas e construtivas do início de carreira, passa por “Bichos” e “Objetos Sensoriais”, que deixam a parede e transformam a geometria em uma característica tridimensional, e traz inclusive alguns projetos inéditos, executados a partir de documentos deixados por Lygia. Um deles é um tablado imantado, posicionado no térreo do Itaú Cultural para que os espectadores caminhem sobre ele.
“Nossa intenção é justamente atrair os brasileiros para a produção dela. Até porque não é justo que apenas os estrangeiros a conheçam bem”, afirma Sofia Fan, gerente de artes visuais e acervo do instituto. Haverá ainda réplicas de obras em que os visitantes poderão mexer. Afinal, a própria Lygia Clark chegou a declarar que, a seu ver, o ideal seria que os “Bichos” fossem vendidos por camelô em praça pública.
OUTRAS ATRAÇÕES
Principal aglutinadora de atrações do calendário da cidade no semestre, a Bienal de São Paulo abre sua trigésima edição para o público no dia 7 de setembro. Sob o tema A “Iminência das Poéticas”, o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas reuniu trabalhos de 111 artistas, que ocuparão todo o pavilhão no Ibirapuera.
Ali do lado, no próprio parque, a Oca hospeda a partir de 21 de setembro “Esplendores do Vaticano”, com 200 obras, objetos, reproduções de túmulos de figuras importantes da Igreja Católica e uma cópia da escultura “Pietà”, de Michelangelo.
Já o MAC-Ibirapuera inaugura no próximo dia 25 “Um Outro Acervo do MAC-USP”, composta de 117 obras que foram premiadas ao longo das primeiras edições da Bienal. Entre os artistas presentes estão os britânicos William Scott e Prunella Clough, além da escultora mineira Maria Martins.
Em outubro, deve ocorrer a chegada de “Renascimento Alemão: Gravuras da Coleção do Museu do Louvre”, conceitualizada exclusivamente para o Brasil, que será apresentada no Masp. Expoente da prestigiosa Escola de Düsseldorf, a fotógrafa alemã Candida Höfer apresenta registros inéditos na Galeria Leme, em novembro.