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Fundos que compram obras de arte ganham força no Brasil

A questão é: vale a pena investir em ativos que podem ser pendurados na parede?

Por Chris Campos
Atualizado em 14 Maio 2024, 11h17 - Publicado em 18 nov 2011, 23h50

Compram-se ouro e outros metais preciosos, gado, papéis e, agora, também obras de arte em fundos de investimentos. O modelo de negócio, já realizado fora do Brasil por grupos como o francês Art Exchange e o Fine Art Fund (que atua em Londres, Nova York e Dubai), começa a ganhar fôlego por aqui. O Brazil Golden Art (BGA), da gestora Plural Capital, fundada por quatro ex-sócios do banco de investimentos Pactual, é o primeiro a se firmar em território nacional com a proposta de investimentos exclusivos em obras de arte. O projeto foi iniciado há pouco mais de um ano e, nos próximos quatro, a ideia é compor um acervo próprio de 2.000 trabalhos de artistas nacionais, 80% deles nomes ainda em ascensão no circuito. Com setenta investidores, todos colecionadores de arte, os sócios captaram 40 milhões de reais – 14% desse valor já revertido em 300 trabalhos de artistas consagrados, caso de Tunga, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles e Adriana Varejão, e de “emergentes”, como o carioca Eduardo Berliner e o paulista Henrique Oliveira.

De acordo com os planos iniciais, as obras de arte, em sua maioria pinturas, terão como destino um museu próprio, muito provavelmente no eixo Rio-São Paulo. Estima-se que o mercado de arte movimente no Brasil cerca de 500 milhões de reais por ano, 150 milhões acima dos cálculos aproximados realizados dois anos atrás. “Resolvemos apostar no fundo com base na avaliação do ótimo momento que a arte brasileira vive hoje”, diz Heitor Reis, um dos sócios do BGA e ex-diretor do MAM da Bahia. Para Fernanda Feitosa, criadora da feira SP Arte, na medida em que o Brasil passa a despertar o interesse do mercado internacional, com artistas brasileiros vendendo bem em leilões e expondo em grandes museus e galerias, é natural que fundos de investimentos sejam atraídos para esse mercado. “Para mim, não há diferença se o comprador é um fundo de investimentos, uma galeria ou um colecionador: são perfis diferentes dentro de um mesmo negócio. E em um mercado equilibrado são necessárias essas três esferas”, acredita Fernanda, que aponta ainda uma quarta categoria de investidor: empresas que compram trabalhos para doar a museus e instituições de arte. Como exemplos recentes, ela cita o grupo Iguatemi, que na mais recente edição da SP Arte adquiriu trabalhos para a Pinacoteca e para o MAC-SP, e o grupo português Banco Espírito Santo, que investiu em obras de arte para o acervo da própria instituição que mantém e também para a Pinacoteca.

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Eduardo Leme, dono da Galeria Leme, concorda com Fernanda: “O fundo de investimentos não deixa de ser um colecionador”. Paralelamente à atuação de fundos como o BGA, existem grupos que reúnem esforços para comprar arte coletivamente. A produtora cultural Melina Valente, que já foi uma das sócias da fase inicial da Zipper Galeria e atuou como assistente na curadoria de duas edições da Bienal de São Paulo, aponta a existência desses clubes de investimentos como mais um movimento bem-vindo no promissor cenário da arte no Brasil. “Quando isso começa a acontecer, significa que o mercado sai do plano restrito para ser economicamente interessante”, afirma. Profissional do mercado financeiro, Marcos de Alcântara Machado integra um desses clubes de investimento em arte. São nove amigos que já compravam arte individualmente e resolveram unir forças para ter “musculatura” para adquirir obras mais valiosas. “Nosso objetivo não é ganhar dinheiro com arte, mas estimular a compra de bons trabalhos dentro do grupo”, explica Machado. Trata-se de um modelo informal de negócio iniciado há sete anos e que já rendeu investimentos em quinze obras de artistas nacionais e estrangeiros, entre elas uma da suíça radicada no Brasil Mira Schendel (1919-1988), cada vez mais valorizada desde que foi tema de uma mostra no MoMA, em 2009, e uma do americano Robert Rauschenberg (1925-2008). Mas, afinal, arte é um bom negócio?

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Se você fizer essa pergunta a um investidor tradicional, a resposta pode ser um solene “não” por causa do valor subjetivo do produto arte e pela baixa liquidez. O que um investidor comum deseja é o máximo de informação e de controle possível sobre o produto no qual está apostando em um determinado momento, algo complicado em um circuito tão cíclico quanto o de arte. Um artista hoje celebrado pode perder grande parte do valor de mercado em alguns anos, e vice-versa. Aconteceu, por exemplo, com o americano Julian Schnabel, que no início dos anos 80 viu o preço de seus trabalhos subir muito rapidamente. O mercado logo ficou inundado de obras dele, que produzia para suprir a demanda. Mas os preços caíram, e vários colecionadores perderam fortunas nessa movimentação — hoje em dia, Schnabel é mais conhecido como cineasta do que como pintor. Comenta-se, por outro lado, que a carioca Beatriz Milhazes pinta apenas seis ou sete telas por ano. A alta demanda, combinada à pouca oferta, joga os preços para cima. Não por acaso, em 2008 Beatriz teve um quadro vendido por pouco mais de um 1 milhão de dólares em um leilão nova-iorquino.

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Para quem trabalha cotidianamente com esse universo, como Fernanda Feitosa, arte é sempre um bom investimento, “mesmo porque o objetivo final nem sempre é a valorização monetária do negócio”. No caso do BGA, Heitor Reis explica que sim, claro, há interesse no retorno financeiro, mas que nesse modelo de negócio existe um outro grande atrativo para os investidores: o fato de eles serem donos de uma coleção de arte que, no que depender do entusiasmo de Heitor e seus sócios, pode figurar entre as cinco maiores do país nos próximos anos. “Mas isso nós só vamos saber lá na frente”, diz ele. A quem possa interessar: já há planos de abertura de um segundo fundo de investimentos nos moldes do pioneiro.

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