Sites de namoro: paquera com endereço certo
Cerca de 1,3 milhão de paulistanos procuram parceiros por esse sistema, que possui hoje páginas para evangélicos, gays e judeus
Enquanto milhares de casais apaixonados lotam bares e restaurantes da cidade neste domingo (12), Dia dos Namorados, cerca de 1,3 milhão de paulistanos teclam em busca de um relacionamento, trocando confissões, cantadas e elogios sem sair de casa. Eles fazem parte do contingente de moradores da capital que atualmente frequentam os principais sites de encontros, que se multiplicam na internet. O negócio atingiu essa proporção devido a uma grande mudança de comportamento. Quando surgiu, no início da década de 90, ele era visto como a última alternativa para os desesperados que não conseguiam encontrar um par. Hoje, não há mais preconceitos e boa parte dos cadastrados utiliza a rede como uma ferramenta capaz de aproximar gente interessante. “São as semelhanças, e não as diferenças, que mais despertam paixões”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos da sexualidade do Hospital das Clínicas. “No universo virtual, encontrar os iguais é mais rápido e fácil.”
+ Xaveco virtual: mande um recado anônimo para quem você gosta
De 2002 para cá, os cadastrados no país saltaram de 2 milhões para 6 milhões (mais de 20% deles moram em São Paulo). Nesse mesmo período, o número de sites dobrou, chegando à marca atual de quarenta endereços. Mais recentemente, houve uma corrida pela segmentação. Começaram a proliferar nos últimos anos portais exclusivos para evangélicos, gays, judeus, pessoas com diploma superior, entre outros. “A compatibilidade de valores conta mais hoje do que a aparência física e as condições financeiras”, diz Claudio Gandelman, presidente do maior site de namoro do país, o Par Perfeito, com 5 milhões de usuários ativos.
De acordo com um levantamento realizado por VEJA SÃO PAULO em conjunto com o departamento de pesquisa e inteligência de mercado da Editora Abril, a internet é preferida hoje por 27% dos solitários da cidade como forma de conhecer eventuais parceiros. Estima-se que 60% dos galanteios virtuais evoluam para encontros reais. “Obtenha o máximo de informações a respeito da pessoa, procure marcar algo num lugar público e avise alguém sobre o programa”, alerta a advogada Patricia Peck Pinheiro, especialista em segurança na internet. Quem segue essas precauções aumenta as chances de iniciar um romance sem percalços e pode dar o primeiro passo para curtir acompanhado o dia 12 de junho do próximo ano.
+ Boas Compras: 50 sugestões de presente para o Dia dos Namorados
+ Tudo para aproveitar o Dia dos Namorados
PAR PERFEITO: OS CAMPEÕES DE IBOPE
A paulistana Cristiane Garbim, de 36 anos, não aceita homens fora de forma e com pouca estatura. O argentino Hugo Alberto Segre, de 58, radicado em São Paulo desde 1980, também não admite mulheres acima do peso e dificilmente dá trela às que se declaram ciumentas. Empresários, solteiros e bem de vida, os dois estão cadastrados no site de encontros Par Perfeito. O perfil virtual criado por eles figura entre os quinze mais acessados do site de relacionamentos. Na sua página, Cristiane se apresenta como “um medicamento raro, sem genérico”. Semanalmente, costuma receber oitenta mensagens de admiradores. “Deve ser meu jeito espontâneo que causa alvoroço”, arrisca ela, cabelos loiros, olhos verdes e pernas esculpidas em sessões de natação e caminhadas. Segre recebe quase vinte cantadas virtuais por dia. Sua página é ilustrada com uma foto tirada durante um cruzeiro. “Sou um sujeito romântico e isso é muito valorizado atualmente”, afirma o argentino, 1,80 metro, olhos verdes, cabelos começando a rarear.
Outras características unem os dois perfis. Eles se divorciaram há quase dez anos e têm filhos, com os quais residem. Cristiane é mãe de uma menina de 10 anos, Pietra; Segre, pai de um casal de gêmeos, Jacqueline e Hugo Júnior, de 25 anos. “Descarto na hora quem não gosta de criança”, avisa ela, que admite ter conhecido pessoalmente mais de dez homens desde que se inscreveu no Par Perfeito, em 2009. Já o empresário realizou seu cadastro há dez anos e afirma ter se relacionado, desde então, com quase vinte mulheres. “Não abro mão de meus filhos por namoro algum”, diz. Os dois gostam de dançar, praticar atividades físicas e frequentar bons restaurantes. A pergunta é natural: teriam chance um com o outro? “Busco alguém disposto a encarar um compromisso”, decreta ela. “Eu já me casei uma vez, não pretendo me amarrar mais a mulher nenhuma”, afirma ele. Neste caso, um “par imperfeito”, com pouca probabilidade de se formar.
+ Roteiro para solteiros e baladeiros de plantão
+ Saiba o que não fazer no primeiro encontro
ZUGOT: CASAMENTEIRO NA COMUNIDADE
A empresária Ana Carolina Magyar, de 26 anos, tem 1,70 metro de altura, 58 quilos, olhos castanhos e leva uma vida confortável. Formada em administração de empresas, fala inglês, espanhol e francês. Já passou temporadas nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Apesar de tantos predicados, está sozinha há mais de um ano. “Não consigo encontrar alguém com o meu nível cultural e que partilhe os mesmos valores”, comenta. Neta de imigrantes húngaros e filha de um casal formado por um sul-coreano e uma paulistana, Ana Carolina adotou a religião da mãe. Não é uma judia ortodoxa, mas faz questão de um parceiro que siga o mesmo credo e aceite um relacionamento sério. “Minhas exigências são altas e não abro mão disso”, diz ela, que dois meses atrás resolveu tentar a sorte no site de encontros Zugot (zugot significa “casal” em hebraico), voltado para a comunidade — na qual há a antiga tradição do casamenteiro, o matchmaker, como se vê no musical “Um Violinista no Telhado”.
O endereço foi criado em 2008 por dois cariocas, o designer Fábio Frydman e o técnico em informática André Kaczelnik. “Achar pessoas desimpedidas que sigam os mesmos preceitos nossos é cada vez mais raro, principalmente numa cidade grande”, conta Frydman. Com cerca de 3.000 cadastros, um terço deles de moradores de São Paulo, a página convida os novos usuários a responder a perguntas como “Fala hebraico?”, “Acredita na circuncisão?” e “Comemora o Shabat (período de orações e descanso judaico)?”. A assinatura é gratuita. Seus idealizadores conseguem ganhar cerca de 2.000 reais por mês com a venda de pequenos anúncios. Em apenas três anos no ar, eles se orgulham de o serviço ter ajudado a iniciar doze casamentos. Ana Carolina está esperançosa. “Aceitei um convite para um encontro na próxima semana”, revela.
EX-BALADEIROS: SÓ PARA DIPLOMADOS
Os psicólogos Fabio Bertaglia e Paula D’Alessandro acham que há na cidade um grande número de pessoas cansadas de caçar parceiros em clubes noturnos e single bars. Para essa turma, eles criaram em janeiro a página Ex-Baladeiros. Segundo os responsáveis pelo serviço, a ideia é reunir gente disposta a um relacionamento sério e que tenha um nível econômico e intelectual parecido. O interessado precisa pagar uma mensalidade de cerca de 50 reais, morar em São Paulo, ter mais de 25 anos e possuir diploma de ensino superior. A veracidade dos dados é conferida durante uma entrevista, opcional e gratuita, realizada em uma clínica em Moema, com um dos fundadores. Aqueles que se submetem a ela recebem um selo de “Associado Certificado”. Garante Bertaglia: “Checamos o comprovante de endereço, o diploma e até mesmo se há antecedentes criminais”.
Apesar de estar há poucos meses no ar, o clube já possui 600 sócios. “Fiz cadastro no site porque não quero marcar um encontro pela internet e tomar um susto depois”, afirma o paulistano Edmundo Carbone Filho, de 35 anos. Formado em administração de empresas e atualmente às voltas com a conclusão de um MBA, ele procura alguém para uma relação séria. “Topar na noite com uma mulher que busque a mesma coisa chega a ser impossível”, acredita, ainda abalado por causa de um relacionamento malsucedido com cinco anos de duração. No início de abril, os cadastrados no site foram convidados para uma festa na danceteria Limelight, na Vila Olímpia, à qual compareceram setenta pessoas. A meta é promover um novo evento do gênero a cada mês (algo bastante curioso para um site que se chama exbaladeiros…). O administrador Edmundo não foi ao primeiro encontro, tampouco se animou a conhecer alguém. “Estou ainda estudando as possibilidades”, diz.
DIVINO AMOR: COM A BÊNÇÃO DO PASTOR
“Será que é você a bênção que pedi a Deus?”, pergunta Igor7676. “Glória a Deus! Podemos ser bons amigos e quem sabe até mais… Me escreva”, retruca Mel32. Os galanteios acima foram trocados recentemente no site Divino Amor, exclusivo para evangélicos. Atualmente, 150.000 moradores da capital utilizam a ferramenta, desenvolvida em 2009. Outro endereço eletrônico festejado por esse público é o Romance Cristão, no ar há dois anos e com 38.000 paulistanos inscritos. Nesses sites, menções a drogas, álcool e sexo simplesmente não existem. “Os evangélicos costumam recorrer apenas à igreja ou a indicações de parentes para encontrar parceiros”, diz Marcos Vieira, diretor do Romance Cristão. “Mas a pessoa ideal pode viver na cidade vizinha ou frequentar outros cultos.”
O metalúrgico Anderson dos Santos, 29 anos, que o diga. Evangélico, nascido em Guarulhos, ele se cadastrou no Romance Cristão em 2009. Naquela ocasião, a 1.630 quilômetros de distância, em Itabuna, na Bahia, a lojista Ivana Matos, da mesma idade, procurava um namorado. “Buscava alguém para formar uma família e dividir minha fé”, lembra ela, que logo engatou um namoro virtual com Santos. Antes, porém, exigiu que ele fosse visitá-la durante um fim de semana. “Ficamos sozinhos por apenas uma hora, pois tive de conhecer seus pais e pedir ao pastor de sua igreja autorização para namorá-la”, conta Santos. Depois disso, o romance engrenou rápido. Em fevereiro de 2010, Ivana comprou uma passagem só de ida para São Paulo. Veio acompanhada do namorado que encontrou na rede, já devidamente convertido em marido. “Logo que o conheci percebi que passaríamos o resto da vida juntos”, afirma ela. Até as alas evangélicas mais tradicionalistas aprovam hoje esse tipo de história. Diz o pastor Sergio Lula, da Igreja Batista do Morumbi: “Não podemos nos voltar contra a internet”.
GENCONTROS: SEM PRECONCEITO NA REDE
Nascida em Fortaleza mas vivendo em São Paulo desde os 6 meses de idade, Raquel Helen, de 27 anos, não vê problemas em falar sobre sua opção sexual. “Gosto de mulheres e ninguém tem nada com isso”, avisa a moça, de 1,68 metro de altura, 60 quilos, cabelos castanhos e piercing no nariz. Formada há um ano em educação física, ela reconhece, no entanto, que sempre teve dificuldade para engrenar um relacionamento mais duradouro. “Já namorei durante quatro anos, mas não deu certo”, afirma ela, que está sozinha desde o início do ano. “É difícil descobrir pessoas que gostem das mesmas coisas que eu.” Dois meses atrás, por curiosidade, a professora se inscreveu na página Gencontros, exclusiva para homossexuais. No ar desde 2009, o site pertence ao mesmo grupo que administra o Par Perfeito. Mais de 200.000 paulistanos costumam utilizá-lo. Para usufruir o serviço a contento, é preciso se tornar assinante — o plano mensal sai por 23,99 reais. Aos usuários básicos, é permitido apenas mandar mensagens predefinidas como “Entre em contato comigo, acho que queremos as mesmas coisas”, para citar um exemplo mais comportado. “O público gay se sente mais à vontade para marcar encontros com pessoas sobre as quais tem alguma informação”, acredita Claudio Gandelman, presidente do Par Perfeito.
Raquel ainda não encontrou sua cara-metade. Mas não reclama. “Arrumei duas grandes amigas, com quem vou a bares e baladas todos os fins de semana”, diz ela, que em seu perfil virtual informa estar apenas em busca de novas amizades. “Vejo o site hoje como um instrumento para ampliar meu círculo de relacionamento”, afirma. “Só vou namorar alguém com quem tenha forte afinidade.”