Estabelecimentos badalados de São Paulo invadem as praias cariocas
Baladas, bares e restaurantes tipicamente paulistanos abrem filiais na orla do Rio de Janeiro
Na esquina da Avenida Vieira Souto com a Rua Joaquim Nabuco, em Ipanema, um dos pedaços mais deslumbrantes da orla carioca, está instalada, desde 2007, a primeira unidade do Hotel Fasano fora de São Paulo. A poucos metros dali, na mesma quadra, outro estabelecimento chegou via ponte aérea: é o bar Astor, que abriu em maio de 2010 no imóvel onde funcionava o Barril 1.800. A lista de negócios “importados” deve aumentar em breve. No 2º andar desse casarão, será inaugurado em julho o Studio RJ, versão praiana da casa de shows Studio SP, da Rua Augusta. Também para julho está prometida a entrega de uma filial da churrascaria Fogo de Chão em Botafogo. A rede tem origem gaúcha, mas foi em São Paulo, onde está em três endereços, que prosperou antes de se espalhar pelos Estados Unidos. No segundo semestre, será a vez de a Livraria Cultura cruzar a Via Dutra para inaugurar duas lojas no mercado carioca.
O aumento do poder de consumo da população e a transformação do Rio de Janeiro numa vitrine de negócios, a reboque da Copa de 2014 e, sobretudo, da Olimpíada de 2016, estão ajudando os empresários a vencer o bairrismo para tentar replicar por lá o sucesso de seus negócios. Um dos primeiros obstáculos a ser vencidos na empreitada é encontrar um ponto adequado. “A geografia carioca não é amistosa, e os prédios chegam a encostar uns nos outros”, diz Pedro Herz, dono da Livraria Cultura. A empresa vai ficar com o edifício que abrigou o Cine Vitória, na Rua Senador Dantas, no Centro. O grupo Fogo de Chão passou três anos à procura de um espaço ideal. “Isso prova que nosso desejo de ir para o Rio é antigo”, afirma Arri Coser, um dos sócios. O empreendimento vai custar 12 milhões de reais.
Algumas casas precisam passar por adaptações para fazer sucesso e agradar ao novo público. No Carlota, por exemplo, foi necessário preparar os funcionários para um salão cheio às 19h30, uma hora antes do pico de movimento da matriz paulistana. “No Rio temos mais turistas estrangeiros, e eles costumam comer mais cedo”, diz a chef Carla Pernambuco. Ela conta ainda que, apesar de a unidade no Leblon ser 50% menor que a de Higienópolis, consome-se ali o dobro de caipirinhas (na pizzaria Bráz, que chegou ao Jardim Botânico em 2007 e à Barra da Tijuca em 2009, ocorre algo semelhante: os clientes pedem três vezes mais vinho).
Muitas vezes, o clima e a paisagem determinam as mudanças. O Astor de Ipanema ganhou decoração mais leve e janelas com vista para o mar. “Também abrimos mais cedo, porque a paisagem merece”, afirma Edgard Bueno da Costa, um dos sócios. A lanchonete The Fifties teve de adicionar cinco tipos de chá gelado e chope escuro à sua carta de bebidas. Para Rogério Fasano, que tem no Rio o hotel e os restaurantes Fasano Al Mare e Gero, um bom dia de sol muda o ritmo das casas. “O carioca fica na praia mais tempo e emenda o almoço no jantar”, observa. E o que teria acontecido com as antigas rivalidades entre as cidades? “O encontro das qualidades das duas metrópoles superou isso”, diz ele. “Em São Paulo, por causa da forte competição, a busca pela excelência gastronômica é maior. E os cariocas admiram isso.”