Continua após publicidade

Piratas da reciclagem

Ladrões especializados em roubar lixo reutilizável atrapalham o trânsito e espalham detritos pelas ruas

Por Mariana Barros e Manuela Nogueira
Atualizado em 5 dez 2016, 18h20 - Publicado em 14 jan 2011, 23h46

Todos os dias, uma cena lamentável se repete pelas ruas dos Jardins. Logo após as 18 horas, quando as lojas, os restaurantes e os prédios residenciais têm permissão para colocar seus sacos de lixo na rua, ladrões de papel entram em ação. De olho no dinheiro que é possível obter com a venda do produto a empresas de reciclagem, eles se apropriam de maneira escancarada de um material que pertence à prefeitura. Para comprovar a existência dessa atividade, a reportagem de VEJA SÃO PAULO circulou pelo bairro no fim da tarde do último dia 4 e em cerca de trinta minutos deparou com três ocorrências: na Rua Padre João Manuel e nas alamedas Jaú e Ministro Rocha Azevedo.

Horas antes da passagem dos caminhões oficiais, homens que dirigiam Kombis ou picapes pararam os veículos praticamente no meio da rua, vasculharam com calma o lixo alheio e pegaram todos os itens de papel e papelão. Na “seleção”, deixaram uma trilha de sujeira espalhada pela via. A prefeitura, que teria de fiscalizar a ação dos lixeiros piratas, diz não saber quantos deles agem em São Paulo. Há suspeitas de que alguns desses ladrões façam parte de grupos organizados que chegam a oferecer propina a porteiros de prédios em troca de sacos de lixo. Cenas assim se repetem por toda a cidade, principalmente em regiões que concentram lojas, bancos e escritórios.

A máfia que intimida os catadores

Catador de papel, João não tem sobrenome nem carroça. Na tarde do último dia 5, carregava nos braços e equilibrados sobre a cabeça caixas de papelão e carretéis de tecido descartados por lojas e tecelagens do Bom Retiro, na região central. Sem nada além do próprio corpo para servir de carreta, tentava transportar o material para um ferro-velho em Santa Cecília onde, achava, conseguiria vendê-lo. Há mais de um mês tem sido assim, desde que seu carrinho foi levado, com o que tinha dentro, por um grupo que atua nas imediações do Parque do Gato, no Bom Retiro, às margens do Rio Tamanduateí. 

Na área, próximo a uma favela, opera um centro de compra de recicláveis. Segundo os catadores, os preços praticados ali são inferiores à média do mercado. Ainda assim, muitos se veem obrigados a levar para lá suas mercadorias sob ameaças de violência ou de perder a carroça. “Eu tinha acabado de vender papelão para eles e, na esquina seguinte, me tomaram o carrinho, o que tinha sobrado nele e o dinheiro do meu bolso”, afirma João. Passadas cinco semanas, ele conseguiu juntar 30 reais. Faltam mais 70 reais para ele poder comprar outra carroça. “Se Deus quiser, vou conseguir”, diz.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.