Metrô em Higienópolis: a opinião dos vizinhos famosos
Mudança de planos quanto à localização da estação que ficaria na Avenida Angélica gera controvérsias
Na última quarta-feira (11), o movimento organizado pela Associação Defenda Higienópolis, composta por moradores e comerciantes da região, contra a instalação de uma estação de metrô na Avenida Angélica, principal via do bairro da Zona Oeste, causou polêmica. Após os protestos, o governo desistiu do projeto naquele local. Na internet, a reação foi imediata. Muitos acharam a medida elitista e o contra-ataque começou. O tema chegou, inclusive, ao topo dos assuntos mais comentados no Twitter.
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Como retaliação à mudança de planos, um evento criado no Facebook começou a dar o que falar. O chamado “Churrascão da Gente Diferenciada” (uma referência a um termo usado por uma moradora do bairro em uma entrevista) prometia fazer barulho em frente ao Shopping Higienópolis neste sábado (14). A reunião, no entanto, foi cancelada devido ao grande número de adeptos — quase 50.000 confirmaram presença pela rede social. A Polícia Militar e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) demonstraram preocupações com a segurança tanto dos manifestantes quanto dos moradores. O protesto foi transferido para a praça Vilaboim e agora tende a virar uma reunião para colher assinaturas e agasalhos para os mais necessitados. No entanto, estão brotando novos eventos para garantir que o churrasco aconteça.
Em meio à polêmica, fomos atrás de vizinhos famosos para saber o que eles acham de uma estação de metrô no coração do bairro. Confira as opiniões:
Marina Person, apresentadora
“Qualquer medida contra o metrô é a maior bobagem. Sou totalmente a favor da estação e, melhor ainda, seria construir uma na Praça Charles Miller e uma na Avenida Angélica. Sou a favor de iniciativas para melhorar o transporte público em São Paulo. Metrô é um bem público que vai melhorar a vida de todo mundo. Por outro lado, o projeto tem que ser bem estudado e a estação deve se localizar no ponto mais central e de fácil acesso. Na região do estádio do Pacaembu a estação ficaria, literalmente, na boca do gol. Essa briga entre os a favor e os contra é ridícula. Vai gerar polêmicas desnecessárias. Mesmo essa posição elitista dos moradores do bairro é autodestrutiva.”
Costanza Pascolato, consultora de moda e empresária
“Não sou contra o metrô, pelo contrário. Tem muita gente que trabalha por aqui e precisa dele. Mas para mim é estranho ter uma estação tão próxima da outra. Na Rua da Consolação vão construir uma que está há poucas quadras dessa (a estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha Amarela). Com outra tão perto, é ruim fazer um buracão na avenida e tirar o supermercado que é ótimo e um dos poucos na região.”
Silvia Poppovic, apresentadora
“Acho que o metrô é absolutamente bem-vindo. Morei em Higienópolis a minha vida inteira e sei que é necessário. Essa, na verdade, é uma falsa polêmica. A dúvida não é ter ou não o metrô, e sim qual vai ser a localização. Parece razoável deslocar ele da Avenida Angélica para o Pacaembu, porque já está planejada uma estação próxima ao Mackenzie. Além disso, eu moro em cima do Pacaembu e sei o tanto de gente que vem ver os jogos. Quando o Shopping Pátio Higienópolis ia ser construído também houve uma polêmica e hoje em dia ele está totalmente incorporado pelo bairro. As pessoas se sentem ameaçadas com mudanças e ficam com medo de que o mundinho delas seja alterado, mas o metrô é, sim, necessário.”
Dudu Bertholini, estilista
“Eu acho muito mais razoável que seja no Pacaembu. Lá dá muito mais vazão para as pessoas, por causa dos jogos de futebol e até mesmo da Faap. No Pacaembu funcionaria melhor porque é um lugar que não tem tanto acesso de ônibus, ao contrário da Avenida Angélica, onde um metrô poderia até atrapalhar o trânsito. Agora esse pensamento de “gente diferenciada” é totalmente retrógrado. O que que é gente diferenciada? Eu moro no Brasil, um país característico pela miscigenação. É um absurdo.”
Marcelo Adnet, humorista
“A discussão tomou uma proporção para além do que realmente é. Virou quase uma luta de classes e a frase que uma pessoa falou, sobre as pessoas diferenciadas, foi posta na boca de todos os moradores. Essa generalização absurda acaba virando um telefone sem fio, que incita a população. A polêmica fugiu da questão, que é o transporte público, e passou a ser algo sobre preconceito contra judeus e velhinhos, a invenção do tal churrasco. Higienópolis é um bairro residencial, tranquilo. Não haveria a necessidade de ter uma estação na Angélica com outra próxima ao Mackenzie. Há outras áreas na cidade que precisam muito mais: ao longo da Avenida Faria Lima, que é super movimentada, e bairros afastados como o Jardim Ângela. Eu, como morador do bairro, fico dividido. A primeira reação é não querer por causa da desvalorização, do aumento do movimento e do consequente caos. Mas tem o outro lado, que é o da população, que tem o direito de ir e vir.”