Dez road movies para ver depois de “Na Estrada”
Gênero que ganhou potência a partir dos anos 60 inspira diretores como Wim Wenders e David Lynch
No drama “Na Estrada”, que estreia nos cinemas nesta sexta (13), o diretor carioca Walter Salles adapta o livro cult “On the Road”, do americano Jack Kerouac (1922-1969). Publicado pela primeira vez em 1957, o romance virou símbolo da contracultura e inspirou um filão cinematográfico que ganhou força a partir dos anos 60: o road movie.
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Nesta versão da obra literária, Salles traduz o enredo de Kerouac com fidelidade. A trama acompanha as aventuras de dois amigos, o escritor Sal Paradise (papel de Sam Riley) e o libertário Dean Moriarty (Garreth Hedlund), em uma série de viagens de carro por cidades norte-americanas. Kristen Stewart, a Bella da saga “Crepúsculo”, vive a namorada rebelde de Dean, Marylou.
O próprio cineasta já havia explorado o gênero em “Terra Estrangeira”, “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta” – filmes que, em maior ou menor intensidade, revelam o legado lírico de Kerouac.
A seguir, conheça outros dez road movies que transportam os personagens (e o espectador) a paisagens inesperadas.
1. “Sem Destino” (1969)
Além de ser o road movie mais influente de todos, o filme de Dennis Hopper representa duas revoluções dos anos 60: o avanço (e inevitável queda) da cultura hippie e as transformações que Hollywood sofreu quando renovada por uma geração de jovens cineastas. Na trama, dois tipos errantes (interpretados por Peter Fonda e pelo próprio Hopper) praticam toda a sorte de contravenção em uma viagem do México a Los Angeles. A busca por liberdade, contudo, rende uma conclusão desiludida. “Nós estragamos tudo”, desabafa o personagem de Fonda, em uma frase profética.
2. “Paris, Texas” (1984)
Apesar de não ter sido o primeiro road movie de Wim Wenders (nos anos 70, ele dirigiu os excelentes “No Decurso do Tempo” e “Alice nas Cidades”), o longa-metragem é um dos mais conhecidos e admirados do diretor alemão. O apelo universal e acessível da trama, com momentos tocantes, convida o público a embarcar na viagem solitária de Travis Henderson (papel de Harry Dean Stanton), o homem desmemoriado que procura a família enquanto vaga pelo Texas. O roteiro do escritor Sam Shepard e a trilha de Ry Cooder auxiliam o diretor na missão de desbravar elegantemente a América.
3. “Thelma & Louise” (1991)
Famoso por fitas de fantasia e ficção científica, o inglês Ridley Scott (de “Alien – O Oitavo Passageiro”) surpreendeu com este drama de pegada realista sobre a viagem sem destino de duas mulheres, a submissa Thelma (interpretada por Geena Davis) e a determinada Louise (Susan Sarandon). À bordo de um Ford Thunderbird 1966, elas se libertam de suas vidinhas modorrentas numa aventura de Oklahoma ao México. O roteiro em tom feminista, escrito pela ex-garçonete Callie Khouri, ganhou o Oscar.
4. “Bye Bye Brasil” (1979)
A comédia de Cacá Diegues, um dos melhores filmes do cineasta, é uma das principais referências do diretor de “Na Estrada”, Walter Salles. O roteiro segue um trio de artistas ambulantes que cruzam o país à bordo da Caravana Rolidei. Da Amazônia a Brasília, o grupo entretém populações pobres, sem acesso à televisão. As interpretações de Betty Faria (no papel de Salomé) e de José Wilker (Lorde Cigano) estão entre os momentos mais inspirados dos anos 70 no cinema brasileiro.
5. “Corrida sem Fim” (1971)
Diretor de “Caminho para o Nada” (2010), exibido recentemente na cidade, o americano Monte Hellman virou pelo avesso a fórmula dos road movies ao dar mais atenção à atmosfera que às tramas. Neste drama de ritmo lento, os personagens principais não são sequer identificados pelo nome. Um motorista e um mecânico (interpretados pelos músicos James Taylor e Dennis Wilson) apostam corrida até Washington com um homem de meia-idade (Warren Oates). O desfecho da competição não parece interessar tanto a Hellman quanto os retratos das estradas e das pequenas cidades norte-americanas, filmadas sem glamour.
6. “E Sua Mãe Também” (2001)
Depois de dirigir filmes falados em inglês, como “Grandes Esperanças” (1998) e “A Princesinha” (1995), Alfonso Cuarón voltou ao México para um projeto pessoal: um conto desinibido sobre a transição entre a adolescência e a idade adulta. Sucesso no Festival de Veneza de 2001 e indicado ao Oscar de Roteiro Original, o longa-metragem acerta no tom: do trio de atores principais (Gael García Bernal, Diego Luna e Maribel Verdú) à leveza garantida pela trilha sonora, a fita transmite a euforia de uma viagem transformadora.
7. “Estrada Perdida” (1997)
O diretor cult David Lynch assinou road movies extravagantes (“Coração Selvagem”, de 1990) e austeros (“História Real”, de 1999). Nenhum deles, no entanto, incitou tanta discussão quanto este longa-metragem engimático de 1997. Tentar acompanhar o enredo revela-se um esforço inútil: o cineasta usa uma lógica toda particular, com um quê onírico, para mostrar as transformações sofridas por um saxofonista (papel de Bill Pullman) após um misterioso assassinato.
8. “Flores Partidas” (2005)
Pode parecer um dos filmes mais simples e diretos de Jim Jarmusch, um dos queridinhos do cinema independente norte-americano. Mas a suavidade da narrativa esconde um comentário nada singelo sobre o ritmo e os valores da América interiorana, um tema que lhe é familiar. O protagonista, interpretado por um extraordinário Bill Murray, é um solteirão que bate à porta das ex-mulheres em busca de informações sobre o paradeiro de um filho que pode ou não ser dele. O desfecho melancólico deixa à mostra as marcas do cineasta.
9. “Sideways: Entre Umas e Outras” (2004)
Dois amigos que se aproximam da meia-idade decidem tirar uma semana de folga para conhecer as vinícolas da Califórnia. A partir dessa premissa não muito empolgante, inspirada em livro de Rex Pickett, o diretor Alexander Payne criou uma comédia indicada a cinco prêmios Oscar (venceu a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado). As interpretações de Paul Giamatti e Thomas Haden Church tornam críveis as aventuras quase patéticas dos beberrões. Payne os observa com sorrisos de ironia.
10. “Diários de Motocicleta” (2004)
Aos 23 anos, o então estudante de medicina Ernesto “Che” Guevara (papel de Gael García Bernal) e seu amigo bioquímico Alberto Granado (Rodrigo de la Serna) partiram com a moto La Poderosa para uma jornada de aprendizado em países da América do Sul. O choque provocado pelas injustiças sociais, que inspirou a luta revolucionária de Che, está no centro do filme de Walter Salles, que opta por uma narrativa convencional para mostrar a origem do ícone comunista.