Aumenta a competição entre as redes dedicadas a vender produtos naturais
O comércio de alimentos industrializados sem glúten, açúcar ou lactose desafi a a crise e se multiplica na cidade
Quem passa pela sede da indústria alimentícia Mãe Terra, que faz produtos como macarrão instantâneo integral e cookies sem açúcar, pode esquecer por um momento que o Brasil atravessa uma crise econômica. Para 2015, a expectativa da empresa fixada em Osasco é faturar 25% mais do que os estimados 90 milhões de reais do ano passado. Com o lançamento de um biscoito, ela acaba de aumentar o número de empregados de 240 para 300, e a fábrica passou a funcionar sete dias por semana.
Líder do setor, a Mundo Verde, que obteve uma receita de 400 milhões de reais em 2014, deverá passar de 65 para noventa lojas até dezembro na capital. Cada uma delas comercializa cerca de 6 000 itens, em uma lista que vai de pacotes com grãos de linhaça a guloseimas antes impensáveis em versão “natureba” — sorvetes, tabletes de doce de leite e brownies sem lactose, glúten ou açúcar.
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Esses negócios se beneficiam da busca cada vez maior dos consumidores por itens mais saudáveis e da capacidade das marcas para entregar artigos saborosos e capazes de acabar com a pecha de “comida de passarinho” ou de coisa alternativa demais para grande parte dos paladares. Como efeito imediato desse sucesso, ocorreu a multiplicação da concorrência.
Entre outras novidades, surgiram, desde o fim do ano passado, o Empório Mais Verde, na Vila Mariana, e uma unidade da rede Mercado Natural (presente também no Shopping Eldorado e na Granja Viana) na Vila Nova Conceição. Dentro de algumas semanas, a rede Nação Verde chegará ao Ipiranga. São casas com cara parecida e produtos, em geral, equivalentes.
Vale, porém, ficar atento à diferença de preços. Em pesquisa feita por VEJA SÃO PAULO entre segunda (22) e quarta (24), a variação atingiu 130% (caso do chocolate diet, que pode sair por 2,80 reais ou 6,44 reais). Foram visitados os principais endereços de quatro redes. A que se saiu melhor no teste foi a Ponto Natural. Fora desse circuito, existe uma opção ainda mais barata: a Andorra, loja da movimentada Zona Cerealista, no Brás. No local, é possível encontrar produtos por até menos da metade do preço dos concorrentes.
Outra prova de força do setor é que as inaugurações têm se espalhado para além das fronteiras dos bairros nobres, onde eram mais comuns. Na divisa entre Freguesia do Ó e Pirituba, região noroeste da cidade, começou a funcionar em março a Lottus Muranum. “Apesar de ser uma área sem grande poder aquisitivo, às 7h30 já estamos cheios”, comemora a dona, Vivian Ribeiro da Silva.
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O próprio Mundo Verde está atento ao novo público: fixará uma unidade no Capão Redondo, na Zona Sul, neste semestre. “Engana-se quem pensa que esse tipo de produto só é consumido pelas classes A e B”, afirma Carlos Wizard, que comprou a rede em 2014, no ano seguinte à venda de seu grupo educacional por 1,7 bilhão de reais.
Ele deu esse passo de olho em um negócio que dobrou de tamanho no Brasil nos últimos cinco anos: os alimentos industrializados ligados ao bem-estar (light, diet, integral etc.) movimentaram 78,8 bilhões de reais em 2014, segundo pesquisa da consultoria Euromonitor. O Brasil saltou então da sétima para a quarta posição no ranking mundial do segmento, ficando atrás de Estados Unidos, China e Japão. Algum temor de que essa onda se dissipe de uma hora para outra? “Não se trata de modismo, mas de uma tendência”, completa Wizard.
Fora das lojas especializadas, muitos varejistas estão ampliando espaço para tais pedidas em suas gôndolas — entre eles, os líderes do segmento. “O número de fornecedores nessa área passou de 80 para 150 desde 2011 no Pão de Açúcar”, contabiliza Fernando Cerello, responsável pelo setor comercial dessa categoria nos supermercados da rede.
O hipermercado Extra, braço popular do mesmo grupo, montará corredores dedicados exclusivamente a esses alimentos até o fim deste ano, em cinco de suas principais lojas. Enquanto isso, o mercado Quitanda, em Pinheiros, aberto em 2007, aumentou no ano passado em seis vezes a área dedicada aos artigos “naturebas”.