Maria Brigadeiro investe em uma linha de chocolates nacionais finos
Doceria é a primeira da categoria a criar uma fábrica própria
Em 2007, a jornalista Juliana Motter assumiu o hobby na cozinha como profissão e lançou a Maria Brigadeiro. Fez sucesso no negócio e, de quebra, virou uma das precursoras da onda da gourmetização, que se alastrou depois por todos os cantos da culinária.
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Entravam na sua receita o cacau em pó e confeitos importados (principalmente da Bélgica). Com isso, ela ajudou a mudar o jeito do paulistano de encarar o doce, e este passou a ter posição de destaque não só nas festinhas infantis, mas também em casamentos e no cardápio de restaurantes. “Hoje, a palavra gourmet se esvaziou, não diz mais nada”, afirma Juliana (com toda a razão, diga-se). “Mas, na época, foi o termo que encontrei para explicar que eu usava uma matéria-prima melhor, não achocolatado de supermercado e margarina.”
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Planejada há dois anos, uma nova revolução se apresenta agora: a marca inaugura em Pinheiros, neste mês, uma pequena fábrica de chocolate fino 100% nacional. Equipada para comportar todas as etapas do processo, da torra à temperagem e moldagem, a empreitada custou caro. “Gastei 600 000 reais, entre a compra do maquinário e a adaptação do espaço nos fundos da loja”, contabiliza Juliana. “O cuidado, tanto na moagem quanto no refino, era para evitar a perda do aroma, para manter o DNA do chocolate”, explica Adriano Sartori Pedroso, da empresa Jaf Inox, responsável pela tecnologia.
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Tamanho investimento tinha dois motivos. Primeiro, o desejo de Juliana de se diferenciar da concorrência. Se no início da operação a confeiteira precisou convencer a Barry Callebaut a exportar seus confeitos para cá — ela chegou a encomendar, sozinha, 1 tonelada do produto, só para justificar em volume a vinda de um contêiner —, logo depois os itens belgas não eram mais exclusividade sua. Pelo menos uma duzia de lojas passou a copia-la, fazendo brigadeiros de sabores variados.
Teve peso maior na mudanca de estrategia, porem, o segundo fator, mais passional. ”Eu meincomodava com o fato de um doce nacional ter virado sinônimo de ingrediente importado”, diz.
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Veio do Salao do Chocolate de Paris, em 2010, a solucao para o dilema. La, Juliana foi apresentada ao produtor de cacau baiano João Tavares, premiado pela alta qualidade das suas amendoas.”O Brasil nunca foi conhecido internacionalmente como uma terra de cacau de qualidade. Depois da praga da vassoura-de-bruxa, que dizimou muitas plantacoes no comeco dos anos 2000, o cenario so piorou”, lembra Tavares. “Nesse momento, decidi fazer cacau fino, para agregar valor.” Um quilo dele,colhido a mao, fermentado de cinco a sete dias sob temperatura controlada, seco ao sol e selecionado pelo tamanho e maturidade do fruto, custa hoje 18 reais, 125% a mais que o cobrado pelo comum.
Essa variedade extremamente aromática, plantada em Uruçuca, na regiao de Ilhéus, foi a escolhida por Juliana Motter, que traz entre 800 quilos e 1 tonelada a cada três meses. Assim, ela se tornou a primeira doceira a dedicar-se a produção de chocolate desde a amêndoa. Sofisticação semelhante só é vista nas chocolaterias refinadas, como a Chocolat du Jour.
“Poucos investem em acompanhar a origem do fruto e processar o cacau desde o principio”, afirma Patricia Landmann, da Chocolat du Jour. ”Mas é a melhor forma de ter alta qualidade.”
Na Maria Brigadeiro, a principal função do novo produto é compor a receita do brigadeiro tradicional, o mais pedido entre as 5 000 unidades feitas ao dia. Mas, para quem quiser preparar em casa sua guloseima com leite condensado e manteiga sem sal, Juliana pos a venda um chocolate puro de origem com 70% de cacau. A latinha de 400 gramas rende ate 120 unidades enroladas e custa 65 reais. Feita com 45% de cacau, a barra ao leite de 100 gramas sai por 18 reais. São algumas das armas de Juliana para continuar na vanguarda da gourmetizacao.
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