Marca italiana vende joias da realeza do século XIX
Peças são a principal atração da Pennisi, discreta joalheria que tem Miuccia Prada como fiel cliente
Guardado numa caixa de veludo está um parure – conjunto de joias no mesmo estilo -, que chegou a este cofre há dois anos pelas mãos de um negociante inglês. “É nossa maior raridade”, diz Gabriele Pennisi, membro da terceira geração de antiquários sob a plaqueta Pennisi Gioilleria, instalada desde 1971 no número 29 da Via Manzoni, uma das ruas que delimitam o quadrilátero da moda, em Milão.
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Foram necessários dois meses de lupa e uma boa dose de interrogações para estabelecer que o colar e os brincos de ouro amarelo e diamantes pertenceram à imperatriz austríaca Elizabeth, que entrou para a história como Sissi. Com data aproximada de 1870, auge da corte de Franz Joseph I, o par é assinado por Alexander Emanuel Köchert, que abriu sua ourivesaria em Viena em 1814 e foi nomeado fornecedor oficial do imperador em 1868. “Não existe uma literatura específca que auxilie o reconhecimento de uma peça”, diz Gabriele. “Contamos com a experiência, o olho para saber o tipo de pedra, lapidação, materiais e fechos de cada época, e com informações em livros técnicos, em romances, em filmes, com historiadores.”
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Nos poucos mais de 100 metros quadrados da loja italiana, há quase duas centenas de peças raras e originais datadas dos séculos XVIII, XIX e XX.Além de ser a maior raridade da Pennisi, o conjunto de A.E. Köchert, assinatura hoje na sexta geração do negócio, refete a especialidade deste comércio de joias antigas: um gosto por abrir as caixinhas mais nobres do passado — ou pelos artesãos que serviram às cortes europeias, especialmente a italiana.
Contar com exemplares dos genoveses Alfredo Ravasco (1873-1958) e F. (Filippo) Chiappe, com 128 anos de funcionamento ininterrupto, faz a Pennisi se destacar da concorrência de vendedores especializados em joias vintage. Trata-se de um mercado que cresceu nos últimos anos sustentado pela busca obsessiva por algo extraordinário. É o que fez explodir, em casas de leilão, os lances por peças dos anos 1930 da francesa Suzanne Belperron, e também a razão pela qual aumentou signifcativamente a presença de criações de outrora nos estandes da Cartier e da Boucheron.
O garimpo é feito por Guido Pennisi, filho do fundador Giovanni, e pelos irmãos Gabriele e Emanuele. “Essas joias não estão perdidas em brechós, mas em leilões, feiras específicas, nas mãos de negociantes e até de proprietários que nos procuram”, diz Guido. “Em tempos de crise, esse é um modo discreto de as famílias contornarem dificuldades financeiras. ”Não existe etiqueta de preço nas mercadorias. Há, no entanto, um valor-padrão para a maioria delas, que Gabriele repete feito um mantra: “Oltre 10 000 euro”. Ou seja, as negociações partem dessa cifra.
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“Um conjunto como o de Sissi, por exemplo, vale uma Ferrari nova? Talvez um pouco mais, talvez um pouco menos”, desconversa ele. No dia da visita de VEJA LUXO, um par de abotoaduras dos anos 1930, de 500 euros, foi a escolha de uma cliente que trabalha no prédio ao lado, a sede da Armani, para dar de presente a um amigo. Com um yorkshire na bolsa, ela explicou a Guido o que desejava. O joalheiro colocou sobre a mesa uma bandeja com apenas duas possibilidades. Antes que ela partisse, pediu para lhe mostrar uma novidade nos cofres da casa: um par de braceletes de platina, esmeralda, ônix, diamantes e pérolas naturais. A funcionária da Armani não se conteve: deu gritinhos na loja e o cão começou a latir.
“Nossos clientes são tão raros quanto aquilo que vendemos”, explica Gabriele. “Sabemos exatamente do que cada um gosta.” “Quando Miuccia tem uma festa, mandamos algo especial para ela usar. Sempre acertamos.” Gabriele se refere à estilista Miuccia Prada, a queridinha dos modernos que é aficionada de peças antigas. De tão grata pela deferência, ela assinou o prefácio do livro que celebrou os quarenta anos da marca.