Jairo Goldflus lança primeiro livro de ensaios fotográficos
Em obra, o fotógrafo apresenta 142 imagens com celebridades
Em um retrato em preto e branco, Chico Buarque dá um largo sorriso para a câmera. A modelo Marcelle Bittar aparece desfocada, totalmente nua. Rita Lee faz esvoaçar seus chamativos cabelos vermelhos. Reynaldo Gianecchini encarna um nerd, de colete estilo vovô e gravata-borboleta. O ator Cauã Reymond faz caras e bocas travestido de Courtney Love, viúva de Kurt Cobain. Essas são apenas algumas das poses registradas em 142 ensaios pelo fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, reunidas em seu primeiro livro, batizado de Público (Editora Livre, 250 reais), lançado no último dia 3.
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Mais conhecido por sua atuação em campanhas publicitárias para clientes como Unilever e Coca-Cola, em mais de duas décadas de carreira, ele mostra agora, aos 45 anos, o seu trabalho de retratista. A partir de 2002, paralelamente a seus compromissos na propaganda, convidou algumas celebridades que admirava para posar em seu estúdio na Vila Olímpia. Em outros casos, correu atrás delas.
Passou, por exemplo, dez dias em Mato Grosso do Sul como assistente do colega de profissão Sebastião Salgado e voou para Bruxelas só para registrar a pianista portuguesa Maria João Pires. Dessas parcerias, surgiram desde flagrantes mais clássicos até obras experimentais, envolvendo maquiagem carregada, figurinos caprichados e cenários diferentes, quase sempre pensados por ele. O resultado são cenas surpreendentes, como a de Marisa Orth transformada na comediante americana Lucille Ball. “É uma das melhores fotos que tenho na vida. Passei com ele uma tarde memorável”, conta Marisa. “Para dirigir os famosos, é necessário esquecer o valor que aquele ícone tem para o público e tratá-lo como uma pessoa que está me visitando”, diz ele.
Nascido no Bom Retiro, Goldflus desenvolveu o hobby de fotografar aos 15 anos, quando a irmã ganhou uma câmera Nikon FE e, por não usá-la, repassou-a a ele. Aos 17 anos, bateu à porta de uma produtora e combinou: em troca de credenciais para shows do naipe de David Bowie e de Siouxsie and the Banshees, faria a cobertura dos espetáculos, mas sem embolsar um tostão.
Nesse meio tempo, formou-se em jornalismo e virou sócio de um ateliê de joias, interesse herdado do pai. Até que engatou um namoro com uma modelo, fez seu book e o enviou para a revista ELLE, que gostou de seu estilo. A partir daí, despontou para os editoriais de moda até virar um dos craques da publicidade.
Hoje, participa de até dez campanhas por mês. “O valor do trabalho pode variar muito, de 5.000 a 150.000 reais”, diz. De personalidade amigável e adepto de visual despojado, composto de camiseta, calça jeans e tênis, ele faz questão de deixar os modelos à vontade. Conta com a ajuda da cozinheira Conceição (famosa por seus bolos) para preparar quitutes para os convidados. Bota para rodar uma trilha de jazz, rock ou MPB e começa a conversar. “Digo que demoro duas horas para fotografar alguém. Levo a maior parte desse tempo batendo papo e cinco minutos clicando”, explica. “Meu trabalho é muito mais psicológico do que técnico.”
Para criar intimidade, tem usado um propulsor, que permite que acione de longe a câmera. Assim, não fica protegido pela lente e consegue olhar nos olhos de seu “alvo”. Em seu estúdio de 500 metros quadrados, as paredes são forradas de quadros de gente conhecida. Em todas elas, há pelo menos uma imagem da atriz Gabriela Duarte. “É para marcar território”, brinca Goldflus, casado com ela há onze anos.
Os dois se conheceram, é claro, enquanto ela posava para um editorial de beleza. Morador dos Jardins, o casal tem dois filhos, Manuela, de 6 anos, e Frederico,de 1 ano. “Quero ser a eterna cobaia das experiências fotográficas dele”, derrete-se Gabriela, que aparece no livro em dois momentos, grávida e com o rosto pintadopelo maquiador Theo Carias.
A mãe, Regina Duarte, também entrou na brincadeira e participa da obra com uma imagem em que está vestida de palhaço. Jairo já tem planos para um novo livro, também baseado em retratos. Só que, dessa vez, recheado de anônimos.