Dez curiosidades sobre Alfredo Volpi
De origem modesta, o artista não teve uma educação formal de arte. Aos 48 anos, realizou, enfim, a sua primeira mostra individual e vendeu todas as telas — uma para Mario de Andrade
Alfredo Volpi (1896-1990) era de uma simplicidade quase franciscana: usava trajes modestos, sandálias, fez do cigarro de palha seu companheiro mais fiel, produzia manualmente suas tintas, mantinha sua casinha e ateliê no Cambuci e adotou inúmeros filhos (estudiosos de sua obra chegam a contar dezenove).
Mas o seu legado sempre foi tido como um dos mais complexos por diversos especialistas, que fazem questão de afirmar que as obras de Volpi nada têm de “intuitivas” – e, sim, de muita observação e genialidade. É isso o que o engenheiro Marco Antonio Mastrobuono, também presidente do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna (Iavam), conta em seu novo livro Alfredo — Pinturas e Bordados (Iavam, 352 páginas, 1 000 exemplares fora do comércio).
+ Alfredo Volpi muito além das bandeirinhas
Abaixo, reunimos dez curiosidades sobre o artista nascido na Itália e criado no Brasil, que tomou um rumo diferente dos modernistas da Semana de 22:
1. Em 1898, Alfredo Volpi chegou em São Paulo, vindo de Lucca, na Itália. Tinha apenas um ano e meio de idade. Nunca se naturalizou, jamais procurou mestres ou instituições de ensino e até o fim da vida não conseguiu dominar o português, falando com bastante sotaque e trocando palavras da língua portuguesa pela italiana.
2. De família simples, era o terceiro de cinco filhos de Giusepina e Ludovico, que montaram um pequeno empório de queijos e vinhos perto de onde moravam, no bairro do Cambuci, Zona Sul de São Paulo. Começou a trabalhar cedo, aos 12 anos, numa gráfica. Com o primeiro salário, comprou uma caixa de aquarelas.
3. Antes de se tornar artista, exerceu as mais vários ofícios para se manter: foi marceneiro, encadernador, tipógrafo e decorador de fachadas.
4. Na década de 30, Volpi integrou o círculo de artistas do Grupo Santa Helena, que reunia artistas descendentes de italianos, como Mario Zanini, Bonadei e Humberto Rosa. Todos eram de origem social modesta e tratavam a arte quase como hobby, além de apresentar uma perspectiva diferente para os rumos da pintura pós-Semana de 22. Os encontros aconteciam no Palacete Santa Helena, antigo edifício localizado na Praça da Sé, onde invariavelmente pintavam modelos vivos.
5. As referências da arte moderna de Volpi vieram através de exposições de artistas italianos entre os anos 1940 e 1950 e, a partir de 1951, as Bienais de São Paulo. É possível notar no conjunto de obras de Volpi influências desde Matisse até Mondrian. Disse ele ao crítico, ensaísta e curador Olívio Tavares de Araújo: “Mondrian não é muito pintor, Max Bill não é pintor, Picasso é mais desenho, já Albers é pintor. E Matisse, o mais pintor de todos.”
6. No início da década de 40, viajou com frequência para Itanhaém, litoral sul de São Paulo, para realizar uma série de pinturas de paisagens marinhas.
7. Sua primeira exposição individual foi acontecer somente em 1944, quando tinha 48 anos. A galeria que a abrigou foi a extinta Itá, que se localizava na então glamurosa Rua Barão de Itapetininga, no Centro de São Paulo. Todas as suas obras foram vendidas – uma delas, de tema marítimo, foi comprada por outro ilustre, o escritor e historiador Mário de Andrade.
8. Em 1950, Alfredo Volpi foi convidado a participar da 25ª Bienal de Veneza. Era a primeira e única vez que voltava ao país natal, a Itália. Encantou-se com os afrescos em têmpera de Giotto, realizados em 1305 na capela de Scrovegni, em Pádua. Voltou cerca de dezesseis vezes para apreciar as obras de arte de seu conterrâneo, morto no século XIV.
9. Morou com os pais até se casar em 1942 com Benedita da Conceição, uma garçonete cujo apelido era Judite, seu amor da vida inteira. Foi ela a inspiração da tela Mulata, de 1927. Viveram juntos até a morte dela, em 1972, e tiveram uma filha, Eugênia Maria — e adotaram outros dezenove.
10. Em 1988, dois anos antes de morrer aos 92 anos, Volpi ganhou uma retrospectiva de sua obra (contabilizada em cerca de 3 000 telas) no MAM, em São Paulo.