Os detalhes da obra que criará uma ciclovia na Avenida Paulista
A avenida deverá ficar seis meses em obras para receber espaços exclusivos para bicicletas em seu canteiro central
Em junho do ano passado, o prefeito Fernando Haddad anunciou o mais ambicioso plano de ciclovias da história da cidade ao prometer 400 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas até o fim de 2015. Por enquanto, cumpriu mais da metade da promessa. Com isso, diversas vias movimentadas ganharam rotas do tipo. O projeto mais importante do gênero começará a sair do papel nesta segunda (5). Cerca de 3 800 metros de pistas vão cortar o canteiro central da Avenida Paulista, o principal cartão-postal de São Paulo. Com custo previsto de 15 milhões de reais, a ciclovia deve ficar pronta até o fim deste semestre. O projeto está sendo festejado por todos os que defendem a bicicleta como meio de transporte viável numa metrópole na qual o trânsito rouba perto de três horas do dia de seus moradores. Por outro lado, os motoristas terão de conviver com seis meses de obras em uma região já saturada de congestionamentos. Durante a reforma, ao menos uma faixa para veículos no sentido Paraíso-Consolação precisará ser interditada.
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O característico asfalto avermelhado começará na Avenida Bernardino de Campos (1 600 metros), passará por toda a Paulista, atravessando em seguida a Rua da Consolação, rumo à Avenida Angélica. O canteiro que divide a Paulista será reestruturado. Os relógios digitais que indicam a hora e a temperatura deverão ser reposicionados nas calçadas laterais da via, e as tradicionais floreiras desaparecerão. Para receber a obra, a parte central passará a ter 4 metros de largura. Hoje, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a média é de 3 metros, embora em alguns pontos amedida não passe de 2,30 metros. O diretor de planejamento do órgão de trânsito, Tadeu Leite, afirma que, apesar das mudanças, nenhuma das oito faixas de rolamento será eliminada. O que muda é a largura do espaço para os carros, de 3 para 2,70 metros. “Haverá estreitamento, mas sem prejuízo para os automóveis”, diz. O conjunto de intervenções prevê ainda uma rede subterrânea de fibra óptica. O equipamento permitirá a instalação de radares para flagrar motoristas que desrespeitam o limite de velocidade, de 50 quilômetros por hora.
A ciclovia da Paulista estará ligada a outras onzes pistas, conectando esse eixo ao centro, Jardins, Pacaembu, Ibirapuera, Vila Mariana e Jabaquara. A expectativa é que a conclusão do traçado em um local tão importante ajude a elevar o número de pessoas que pedalam na cidade. A mais recente pesquisa Origem e Destino, realizada em 2012 pelo Metrô, mostrou que menos de 1% dos 43,7 milhões de viagens diárias na capital é feito de bicicleta. O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, espera ainda que o trajeto traga mais segurança para o usuário. “Não haverá mais disputa de espaço com carros e ônibus.”
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Nos últimos tempos, houve uma redução da quantidade de ciclistas mortos no trânsito daqui. De acordo com os dados mais recentes, ocorreram 35 acidentes fatais em 2013, 33% a menos que no ano anterior. Mas é ainda um patamar alto, o que justifica a pressão pelo surgimento de mais faixas para separar esses veículos dos carros. A Paulista é um dos pontos que merecem mais atenção. De 2009 para cá, houve três mortes de ciclistas no local. “Com a chegada da pista, essa realidade vai mudar”, acredita o cicloativista Willian Cruz, responsável pelo site Vá de Bike.
A forma com que a prefeitura vem viabilizando a multiplicação de ciclovias tem sido bastante discutida. Uma das questões envolve o custo do projeto. Para os 400 quilômetros prometidos por Haddad até o fim deste ano, estão previstos 80 milhões de reais, ou seja, 200 000 reais para cada 1 000 metros. “Aqui na Câmara pedimos esclarecimentos,mas não conseguimos saber destalhes do investimento”, afirma o vereador Andrea Matarazzo (PSDB). Segundo a prefeitura, no montante está incluído o gasto com reforma, pintura e sinalização, entre outros itens. O ritmo apressado na execução das obras também expôs uma série de falhas. “Pareceque vamos nos transformar na China de décadas atrás, quando todo mundo andava de bicicleta”, ironiza o engenheiro Sergio Ejzenberg, especialista em transporte. Na Avenida Politécnica, por exemplo, postes e árvores estão no caminho de quem pedala. Na região central, algumas faixas perderam a tinta dois meses depois de inauguradas. Em Higienópolis, comerciantes pressionaram, e a administração mudou o trajeto da ciclovia próximo à Praça Vilaboim.
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Aos críticos, o secretário de Transportes costuma repetir que o apoio de 80% dos moradores, percebido pelo Datafolha em setembro, retrata uma nova mentalidade. “Estamos caminhando, ou melhor, pedalando, para São Paulo se tornar um lugar melhor”, afirma. Discursos à parte, é fundamental que a prefeitura faça os ajustes no programa, incluindo mais transparência nos custos e um equilíbrio entre as necessidades dos ciclistas e as do restante da população. “Uma boa ideia está sendo ‘matada’ pela correria”, afirma Matarazzo.