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Carta liga líderes do PCC ao controle de lotações em São Paulo

Documento é o principal indício já divulgado sobre os investimentos da facção criminosa em coletivos das cooperativas da SPTrans

Por VEJA SÃO PAULO
Atualizado em 5 dez 2016, 13h43 - Publicado em 9 dez 2014, 10h10

Uma carta apreendida na penitenciária de Presidente Venceslau, a 611 quilômetros de São Paulo, é o principal indício já revelado de que a cúpula máxima da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) aplica parte do dinheiro do crime em lotações das cooperativas da São Paulo Transporte (SPTrans), da prefeitura. Até então, apenas casos de membros hierarquicamente inferiores do grupo haviam sido relacionados ao sistema municipal de coletivos.

O Ministério Público Estadual (MPE) e a Polícia Civil têm cópia da documentação. Ambas as instituições apuram delitos em cooperativas das zonas Sul e Leste da capital.

A gestão Fernando Haddad (PT), que comanda a SPTrans, afirma que colabora com as autoridades sempre que solicitada. Entretanto, a administração estuda excluir de vez o modelo de cooperativas da concessão do transporte público da cidade.

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A carta que mostra a ligação da cúpula da facção com a SPTrans foi descoberta por carcereiros em maio de 2012. Ela dá a entender que Roberto Soriano, o “Tiriça”, tinha um lotação e o doou para outro membro da facção, Daniel Vinicius Canônico, o “Cego”.

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Este, por sua vez, também tinha uma van, mais antiga, e recebeu ordem de vendê-la após ganhar o novo veículo do colega. O dinheiro da negociação iria para o PCC. Não há, na carta, referência exata sobre qual era a cooperativa em que essas lotações operavam.

Tiriça é um preso tão importante para o PCC que foi destacado, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), para negociar a paz entre a quadrilha e as facções cariocas Amigos dos Amigos (ADA), Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando (TC). Cego já foi flagrado em escutas telefônicas planejando sequestro de autoridades paulistas, também segundo investigações do MPE.

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Ambos integram a chamada Sintonia Fina Geral, grupo de sete pessoas que respondem apenas a Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, líder da organização. Segundo o MPE, a facção tem 7 600 integrantes e fatura cerca de 120 milhões de reais por ano.

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Despacho

A carta apreendida é um “salve”, conjunto de ordens da cadeia para a rua. Continha uma série de comandos: de indicações de indivíduos que deveriam assumir ações do grupo a dicas para refino de cocaína, passando por uma lista de policiais a serem mortos.

Sobre a SPTrans, depois de explicar seu plano, Tiriça escreveu: “O parceiro (outro colaborador da facção) me falou que a SP Transporte não aceita pegar um carro de um protocolo e colocar em outro protocolo, mas esses caras da cooperativa, meu amigo, só vão no acelera mesmo”, referindo-se a como proceder com a transferência.

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Um mês depois da carta ter sido descoberta, em junho de 2012, o secretário estadual da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, escreveu um despacho relatando o caso e uma série de outros crimes combinados na carta. Ele pediu a internação de Tiriça no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) de Presidente Bernardes, a 580 quilômetros da capital paulista.

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“O que se questiona é como os presidiários, que estão recolhidos no cárcere há muitos anos, conseguem adquirir ônibus? A resposta é clara. Tal é possível graças ao tráfico de entorpecentes e a existência de delinquentes dispostos a auxiliá-los nesse comércio”, escreveu o secretário, em seu despacho.

Atualmente, Cego está no RDD em Presidente Bernardes. Tiriça foi transferido, a pedido do governo paulista, para o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e cumpre pena na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.( O Estado de S. Paulo).

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