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Vizinhos duvidam de família acusada de manter filho em cárcere privado

Segundo eles, Armando Bezerra de Andrade sumiu há quase vinte anos de uma hora para outra, ainda na adolescência, e nunca mais se soube do garoto

Por Andreza Monteiro
Atualizado em 1 jun 2017, 15h53 - Publicado em 25 out 2016, 17h22

Vizinhos da família que está sendo investigada pela polícia por manter o filho de 36 anos em cárcere privado no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, não acreditam na versão contada pelo pai de Armando Bezerra de Andrade em depoimento à polícia, quando alegou que o filho só estava na residência havia três dias.

Andrade foi encontrado por policiais em situação de cárcere privado na última quinta-feira (20), quando uma equipe da Polícia Civil entrou na residência, por engano, para cumprir um mandado de busca. A ordem do juiz era para outra casa; porém, os policiais erraram o endereço.

A maior parte dos moradores da Rua Carneiros, onde fica a residência dos Andrade, ouvidos pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, diz conhecer a família há mais de trinta anos. Eles acreditam que Andrade permaneceu no interior da residência nos últimos dezenove anos, sendo mantido em cárcere privado pelo pai, Amâncio Andrade, a madrasta e o filho dela, já que o rapaz teria desaparecido, segundo os vizinhos, ainda na época em que era um adolescente, por volta dos seus 16 anos de idade.

Ainda relataram que tanto o pai quanto a madrasta de Andrade eram muito reclusos e evitavam contato com os vizinhos. “Ela (a madrasta) era na dela, não falava com ninguém aqui do bairro, não dava nem um bom dia”, contou a dona de casa Flavia de Souza Alves, que mora a poucos metros da casa.  

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Residente na rua há mais de cinquenta anos, a aposentada Elizabete Felisberto diz que conheceu o rapaz ainda na adolescência. Ela contou que ficou chocada com o caso e que não acredita na versão contada pela família. “Esse menino sumiu do dia para a noite há quase vinte anos. Eu lembro que todo mundo achou estranho. A gente perguntava sobre ele para o pai, mas só ouvíamos que estava em uma viagem. Depois, começaram a falar que ele estava fazendo faculdade no interior. Cada vez era uma história diferente. Pra mim, ele estava sendo escondido esse tempo todo”, conclui.

Um amigo do rapaz que tem a mesma idade e não quis se identificar citou que era muito próximo de Andrade antes de ele “desaparecer sem se despedir de ninguém”. “A gente brincava de jogar bola aqui na rua todo dia, estudávamos na mesma escola. Não tinha porque ele ir embora sem dar tchau. Todos nós ficamos surpresos”, relatou a fonte, que afirmou ter tentado conversar com o pai de Andrade para entender o que estava acontecendo após a polícia encontrar a suposta vítima trancada em um cômodo nos fundos da casa. “O senhor Amâncio me disse que o Armando tinha voltado na segunda-feira (24) para casa, mas de segunda para quinta eu já havia encontrado com ele na rua umas três vezes e ele não tinha comentado nada comigo”, contou.

Outra vizinha que mora há décadas na rua e também preferiu não se identificar comentou que na adolescência o rapaz vivia apanhando da madrasta. “Ela batia muito nele. Sempre a ouvíamos gritando e agredindo o garoto no quintal da casa. Dava para ouvir aqui na rua de tão alto”.

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Entenda o caso

Caso Guarulhos cárcere
Caso Guarulhos cárcere ()

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Armando Bezerra de Andrade, de 36 anos, foi encontrado por policiais em situação de cárcere privado na casa da família, que fica no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, na Grande São Paulo.

De acordo com o delegado titular do 8º DP, Celso Valdir Marchiori, que investiga o caso, os policiais foram até o bairro para cumprir um mandado de busca e apreensão na casa de um suspeito de roubo. Porém, acabaram entrando por engano na residência onde ele estava.

“Inicialmente os policiais acreditaram que Andrade era uma vítima de criminosos que moravam ali. Assim que o encontraram, pediram uma equipe de socorro para resgatar o rapaz e levá-lo para o hospital”, afirmou Marchiori.

Os profissionais o encontraram muito debilitado. Segundo o boletim de ocorrência, não havia outras pessoas na residência. O cômodo no qual ele se encontrava não tinha banheiro; por isso, havia fezes e urina pelo chão. Ao ser resgatado, faminto, Andrade pediu comida, segundo contou o delegado.

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No mesmo dia, o pai da vítima se apresentou espontaneamente no distrito policial para esclarecer a situação. “Ele disse que o rapaz estava trancado porque é usuário de entorpecentes e havia fugido de casa quando era adolescente, tendo aparecido na última segunda-feira pedindo abrigo”, contou Marchiori.

O homem ainda disse à polícia que o próprio filho havia concordado em ficar trancado porque precisava “ficar livre das drogas”.

A família se mudou da residência no último fim de semana, com escolta da polícia, devido a represálias que vinha sofrendo de moradores do bairro. O muro da casa foi pichado com pedidos de justiça. Segundo os moradores, várias pessoas tentaram invadir a casa para agredí-los. O filho da madrasta de Andrade, que tem quase a mesma idade que ele, chegou a ser atingido com um soco no rosto.

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A polícia irá investigar o crime de cárcere privado, entre outros delitos. Nenhum familiar foi detido. “Não temos evidências para prender o pai dele, pois ele se apresentou voluntariamente, não tem passagem e possui residência e emprego fixos”, explicou o delegado.

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Andrade está internado desde a noite de quinta-feira, segundo a Secretaria de Saúde de Guarulhos, no Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso. Ele deu entrada com “quadro de aparente desnutrição” e permanece no local fazendo exames.

Até a tarde desta terça-feira (25), a polícia ainda não havia conseguido ouvir Andrade, pois, segundo o delegado, ele não fala absolutamente nada. Também são aguardados os resultados dos exames laboratoriais da suposta vítima. Os policiais tentam, ainda, contato com uma familiar dele que, segundo a investigação apurou, reside na Grande São Paulo.

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