Aplicativo para fazer corridas com motoristas particulares incomoda taxistas
Profissionais de São Paulo reclamam de concorrência desleal
Ter um carro top de linha com chofer particular disponível 24 horas já foi um privilégio exclusivo dos paulistanos mais abastados. Agora, desde a chegada do Uber à cidade, um aplicativo americano que funciona como os de táxi, qualquer pessoa pode desfrutar esse luxo. O usuário se cadastra e informa dados de cartão de crédito ou de uma conta PayPal, as únicas formas de pagamento aceitas pelo serviço. Depois, diz onde está e pede um veículo. As semelhanças acabam aí. A frota na capital, com cerca de 1 000 veículos, reúne apenas modelos Hyundai Azera, Toyota Corolla e Ford Fusion — a maioria na cor preta. Só são aceitos automóveis fabricados a partir de 2009. Eles são guiados por condutores em traje social que falam o mínimo possível sem o convite do passageiro. No banco traseiro, água, carregadores de celular, balas, chocolates e até remédio para dor de cabeça estão disponíveis, a título de cortesia.
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O Uber tem potencial para roubar espaço dos quatro aplicativos usados em larga escala por usuários e taxistas na metrópole: Easy Taxi, 99 Taxis, Taxijá e Taxibeat. Em um teste realizado na semana passada por VEJA SÃO PAULO, com quatro carros em horários e itinerários iguais, o novo serviço se mostrou 20% mais caro e ganhou no conforto oferecido ao passageiro. O valor da corrida é calculado pelo aplicativo. A taxa fixa inicial é de 5 reais, acrescida de 40 centavos por minuto e 2,42 reais por quilômetro rodado. O custo mínimo da bandeirada é de 10 reais. Não há diferenças na tarifa se a pessoa embarcar durante o dia ou à noite.
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“Os clientes aceitam pagar mais, pois estão insatisfeitos com o que é oferecido hoje. Querem algo mais seguro e confiável”, entende Anderson Mota, que há três semanas tirou seu Ford Fusion 2012 da frota de uma empresa de transporte executivo para trabalhar com oaplicativo. Na última quarta (30), o publicitário Nabil Carone foi um de seus passageiros. Por vezes, ficava esperando muito e era atendido por um carro velho guiado por uma pessoa mal humorada, conta ele, usuário do Uber há duas semanas. “Se é para enfrentar o trânsito, que seja com conforto”, acrescenta.
Lançado nos Estados Unidos há cinco anos, o negócio chegou ao Brasil em maio, no Rio de Janeiro. Lá, imediatamente criou polêmica. No fim de junho, cinquenta motoristas de praça cariocas dirigiram-se às ruas para protestar contra a novidade. O mesmo aconteceu em Paris, Berlim, Londres e em muitas outras das mais de 150 cidades dos 42 países onde o aplicativo é usado. Em algumas dessas localidades, o Uber abocanhou 40% do mercado dos taxistas. Em São Paulo, já começa a surgir um barulho semelhante contra o serviço. “É crime, pois trabalham como taxistas sem ter autorização”, afirma Natalício Silva, presidente do Sinditaxisp, que representa a categoria na capital. A entidade promete entrar em breve com uma ação pública para barrar a operação do Uber, e seus diretores procuraram alguns vereadores na última semana em busca de apoio. “Se o poder público não demonstrar interesse em ajudar, vamos para as ruas e eu mesmo vou queimar esses carros!”, ameaça Silva.
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A cidade tem 33 700 motoristas de praça, e as novas autorizações para ingressar no mercado estão congeladasdesde 2011. Por lei, qualquer pessoa que use o veículo para transporte individual de passageiro como negócio precisa da licença, sob o risco de ter o carro apreendido. Os responsáveis pelo Uber refutam as acusações, com o argumento de que eles não trabalham como uma central de táxi. “Somos uma companhia de tecnologia”, defende Lane Kasselman, porta- voz da companhia americana. “Não temos automóveis nem motoristas contratados, só oferecemos uma plataforma que liga quem dirige aos passageiros interessados em pagar pela viagem.”
Por enquanto, a prefeitura paulistana tem adotado uma postura dúbia em relação ao serviço. A Secretaria Municipal de Transportes emitiu recentemente uma nota que classificava como ilegal a atividade, com argumentos parecidos aos do sindicato dos taxistas. Na prática, porém,a fiscalização está deixando o negócio correr solto. Até a quinta passada (31), nenhum motorista ligado ao Uber tinha enfrentado problemas.
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No exterior, depois de controvérsia semelhante, o aplicativo acabou recebendo a aprovação das autoridades de trânsito de cidades como Washington e Seattle, ambas nos Estados Unidos. Por lá, segundo a empresa, os motoristas faturam até 90 000 dólares por ano. “As novas tecnologias trazem perspectivas que não se enquadram em leis de décadas atrás”, comenta o advogado Ronaldo Vieira Breto, especialista em transportes. “Antes de extinguir a nova atividade, é importante analisar se ela não está suprindo uma necessidade da população”, completa.