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Em peça iraniana, atores sobem ao palco sem saber o que vão encenar

Danilo Grangheia e Marat Descartes falam sobre experiência de interpretar um 'texto-surpresa”

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 15h56 - Publicado em 31 Maio 2013, 19h52

Tudo é envolto em uma espécie de aura de mistério. O público ocupa seus assentos, e, ao terceiro sinal, um ator sobe ao palco e recebe um envelope. Nele, além do texto do espetáculo, estão contidas todas as informações que ele deve saber para interpretar o monólogo White Rabbit, Red Rabbit, do iraniano Nassim Souleimanpour. O espetáculo já foi encenado no Canadá, na Inglaterra, no Egito e também por aqui no ano passado, durante o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP), sempre com a mesma premissa: tanto o intérprete quanto o público chegam ao teatro sem ter ideia do que vão encenar ou assistir.

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“Isso é instigante para o ator, mas também para o público”, afirma Danilo Grangheia, que apresentou a peça no dia 24/5, num sistema de rodízio que ainda contará com Hugo Possolo, Caco Ciocler e Marat Descartes, entre outros, até o final da temporada, em 14 de julho, no teatro do Sesc Vila Mariana. “Essa seleção não foi feita aleatoriamente. Acho que a ideia é que cada intérprete, com suas características, renove o texto a cada apresentação”, explica Grangheia, que ressalta na dramaturgia uma tentativa de recuperar características primordiais do teatro: as capacidades do ator de improvisar e estabelecer um jogo com a plateia.

“Fazer teatro é viver à beira de um abismo. Mesmo com ensaios, há uma possibilidade de dar errado. Às vezes você acerta, às vezes erra, e o público sempre percebe. Numa peça em que você não conhece o texto e não tem como fazer um ensaio prévio, esse risco aumenta, e o público embarca nessa com o ator. É assustador e delicioso ao mesmo tempo”, diverte-se Grangheia, que prefere não dar mais detalhes sobre a peça. O que se sabe é que o público é convidado a interagir com o ator e, no início do espetáculo, ao contrário do que normalmente ocorre, é solicitado a deixar o telefone celular ligado. A história, com tom de fábula, apresenta um coelho que tenta entrar num circo, mas é barrado por um urso. Quando finalmente consegue entrar na tenda, torna-se parte da apresentação, e não um espectador.

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Escrita em 2010, White Rabbit, Red Rabbit  reflete a impossibilidade de Souleimanpour deixar a capital iraniana, Teerã, por ter se negado a servir o Exército. Sua situação só mudou no ano passado, quando um problema no olho esquerdo o liberou do serviço militar e o dramaturgo pôde deixar o país — e assistir a uma montagem do seu texto. No próximo dia 11, o iraniano desembarca no Brasil para um workshop no Sesc Vila Mariana. “O que mais me encantou durante a leitura é o caráter universal da peça. Do outro lado do mundo, com outra cultura e outro regime político, Nassim conseguiu escrever algo que toca a todos nós. É uma maneira de ele sair do país que o oprime e se presentificar no palco cada vez que que o texto é apresentado”, conjectura Grangheia.

Escalado para a última apresentação da temporada, Marat Descartes, por sua vez, tenta não se preocupar. “Estudei Letras e tenho muito gosto pela literatura. Vou tentar calcar a minha interpretação na palavra”, explica o ator, que diz sequer saber de quem partiu o convite para participar do espetáculo. “Apenas recebi um telefonema da produção do Sesc, me dando instruções de quando comparecer ao teatro. Estou bastante instigado pela proposta, mas sinceramente, nem um pouco ansioso. A ideia é entrar no palco desarmado”, explica o ator, com surpreendente tranquilidade.

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