Três perguntas para Ney Latorraca
Aos 69 anos e depois de superar uma séria infecção, o ator volta aos palcos na comédia <em>Entredentes</em>, sob a direção de Gerald Thomas
Depois de quase dois meses em coma e de vencer uma grave infecção no ano passado, quem saiu ganhando, o ator ou o homem? O homem, sem dúvida. A gente passa a valorizar a vida e percebe que o nosso cotidiano é mais importante que o tapete vermelho. Eu saí dessa não só por minha força de vontade e pela competência dos médicos. Fui salvo pelos amigos e pelo público. Nunca pensei que fosse tão querido. As pessoas me param nas ruas, falam que rezaram muito e estão felizes por me ver trabalhando de novo.
De que forma essa superação reflete no espetáculo Entredentes, que o diretor Gerald Thomas criou para você? O Gerald e eu começamos a nos encontrar ainda no final de 2012, antes da doença. Ele queria montar um espetáculo para mim, como já fez para a Fernanda Montenegro, para o Marco Nanini e tantos outros. Só que apareceu o meu problema na vesícula, a infecção generalizada e tudo aquilo rolou. Ele me disse que, nesse caso, colocaria no palco a sua visão sobre o que passei. Não quero fazer terapia em cena. O Gerald é muito inteligente, soube captar tudo com extrema delicadeza. Gosto de trabalhar com gente que me surpreenda, que me faça aprender. Com ele é assim.
Na virada da década de 60 para a de 70 você participou dos musicais Hair e Jesus Cristo Superstar. Voltaria ao gênero? Tenho muita vontade e sei que estou pronto para isso. Gravei músicas de Chico Buarque no disco Malandro (1986) e cantei um tema composto pelo Egberto Gismonti no filme A Bela Palomera (1988). Gostaria de montar O Homem de La Mancha, que o Paulo Autran fez e tem a música Sonho Impossível. E também desejo muito trabalhar sob a direção do Zé Celso Martinez Corrêa algum dia.