“SP tem muito prédio sem gente e gente sem casa”, diz Marcelo Falcão, da Somauma
Focada na regeneração urbana, a construtora mostra a sua visão de cidade, na 14ª Bienal de Arquitetura, que começa amanhã, na Oca, no Ibirapuera

No lugar de expandir, regenerar. Ao invés de segregar, aproximar. É essa a premissa da incorporadora e construtora Somauma, que estará presente na 14ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, que começa amanhã e vai até o dia 19 de outubro no Pavilhão da Oca, no Parque do Ibirapuera.
E para mostrar a sua visão de cidade, mais acolhedora, diversa e multicultural, a empresa vai ocupar o subsolo do pavilhão, espaço com 400 metros quadrados onde a Somauma está construindo uma microcidade em funcionamento, onde diferentes modos de viver, conviver, trabalhar e imaginar se sobrepõem e se complementam.
“Desde o início, a ideia era transformar o subsolo da Oca em um pedaço vivo de uma cidade real, com as suas complexidades, problemas e soluções”, diz o arquiteto Marcelo Falcão, sócio da Somauma, que pretende estabelecer um diálogo com os visitantes que vai além da arquitetura para tratar de cidadania. “Queremos trazer o debate sobre a contradição de termos muito prédio sem gente e muita gente sem casa, em São Paulo”, complementa o arquiteto, citando uma frase que ouviu durante a convivência com o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC).
O MSTC participa da mostra da Somauma na Bienal, exibindo o projeto habitacional feito em Santos, que une o movimento social e o mercado imobiliário, uma solução de moradia em escala com justiça social.
Com projetos para reabilitar edifícios ociosos, principalmente no Centro da cidade, o arquiteto quer demonstrar que uma cidade melhor e mais sustentável passa por aproximar, e não apartar, moradores com diferentes cultura, origem e renda. “A diversidade é a maior riqueza do Centro”, diz Marcelo, cujo olhar para a cidade propõe revitalizar, no lugar de expandir, o que inclui reformar edifícios ociosos, reconstruindo as relações entre as pessoas e os espaços urbanos.
Quem visitar o espaço da Somauma na Bienal de Arquitetura poderá conferir, logo na entrada, uma instalação de Felipe Morozini, que acolhe os visitantes com uma provocação poética sobre a presença do tempo e da natureza na arquitetura. Ao lado, o Comedor Emergencial, criado pelo escritório SauerMartins, que oferece uma grande mesa coletiva para pausas, cafés e conversas — um convite à convivência e ao afeto.
A Somauma apresenta seus projetos de reabilitação do Centro de São Paulo, ao lado de iniciativas parceiras como o FICA, com quem lança uma proposta inédita que une retrofit pela iniciativa privada e locação social acessível.
A instalação Devolver à Terra, Reinventar o Habitar, concebida pelo Coletivo Coletores + MUDA K.O e com curadoria de Maria Luiza de Barros, investiga os rios invisíveis, a vivência coletiva e a reparação histórica nas cidades, propondo novas leituras e práticas do habitar.
O espaço ainda conta com o restaurante e café Preto Cozinha, do chef Rodrigo Freire, com uma proposta gastronômica que vai além do paladar: trata-se de um empreendimento que reforça como a gastronomia ativa as ruas, gera emprego e identidade.
O projeto da Somauma ainda abriga um lounge de descanso, uma livraria especializada (Livraria Eiffel) com curadoria colaborativa e, aos finais de semana, uma edição pocket da Feira Preta, que ocupa o espaço com expositores rotativos de moda, arte, gastronomia e bem-estar — trazendo à tona a potência da cultura periférica e preta.
Com 80% da cenografia feita com materiais reaproveitados ou recicláveis, a proposta também aponta para um futuro mais sustentável e consciente. Ao fim da mostra, o Comedor Emergencial será doado à Ocupação 9 de Julho, reforçando o compromisso com o impacto real e a transformação concreta.
Edifícios e propósito
A Somauma participa da Bienal com uma proposta que espelha sua atuação no mundo real, com projetos que nascem do desejo de devolver a vida a edifícios esquecidos, resgatar histórias, ativar o convívio e gerar pertencimento. Ao priorizar a reabilitação urbana com impacto social, a construtora demonstra que é possível transformar o jeito de morar — e de construir cidade.
Cada um dos seus empreendimentos preserva estruturas existentes, reduz emissões de carbono, diminui o consumo de recursos naturais e incorpora soluções sustentáveis específicas ao seu entorno. Mas regenerar não é só construir verde: é atuar na cadeia produtiva com responsabilidade social, criar vínculos culturais com os territórios e trabalhar pelo acesso à moradia, como na parceria com o Fundo FICA.
No centro dessa atuação está o compromisso com a transformação simbólica e concreta: lajes que viram jardins, paredes que se abrem para a rua, prédios que respiram e acolhem.
Na Bienal, o público poderá conhecer os projetos RBS 700, GAL 703, Virginia e Tebas, cada um refletindo um dos cinco eixos da curadoria do evento: Reparar, Conectar, Coexistir, Circular e Cuidar.
O nome da construtora, aliás, foi inspirado pela árvore Sumauma – espécie que tem raízes profundas e longas que absorvem água e ajudam a hidratar o entorno. “Isso casa com a nossa visão de que um único prédio pode impactar positivamente seu entorno, como uma célula regenerativa”, diz Marcelo.
Ao contrário da árvore, a empresa adotou o nome com “o”, para incluir o termo “soma”, que representa a junção das expertises dos sócios, com atuações complementares. Formada em 2019, a empresa tem como sócios, além de Marcelo Falcão, os arquitetos Pedro Ichimaru e Vitor Penha, além do engenheiro Nilton Vargas.
Espaço Somauma na 14ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Subsolo do Pavilhão da Oca. Parque Ibirapuera. De 18 de setembro a 19 de outubro. De terça a domingo, das 10h às 20h. Entrada gratuita